terça-feira, 4 de setembro de 2007

E se a memória fosse apenas luz?

E se a memória fosse apenas luz? De acordo com Einstein, para viajar no tempo seria necessário que nos movêssemos a uma velocidade superior à velocidade da luz, o que levaria a que víssemos as várias formas da luz a abrandarem; de acordo com este raciocínio, bastaria que nos movêssemos a uma velocidade muito mais baixa que a da luz para podermos ver o futuro, e de facto é o que acontece, e tanto assim o é que podemos dizer que vivemos não no presente, mas já no futuro. Contudo, como é que a memória, essa coisa de que podemos ter sensação, pode ser explicada? Viver uma memória, uma recordação, seja ela qual for, é voltar atrás no tempo. Assim sendo, teremos que concluir que, a partir dos postulados de Einstein, viver uma memória é viajar para além da velocidade da luz - mas, dessa forma, teremos que nos perguntar acerca daquilo que pode viajar a uma velocidade assim tão grande. Antes de mais terá de ser uma parte de nós, visto sermos nós os autores dessa recordação. Mas, se de facto o somos, que parte de nós poderia ser? Bem, e segundo o que nos diz a ciência, das duas uma: ou teria que ser a parte de nós que é matéria, ou então teria que ser a parte de nós que é energia. Se quem viajasse fosse a matéria, então como poderíamos não senti-la, se essa velocidade é tão grande? Se a parte da matéria que viaja é o cérebro inteiro, decerto sentiríamos alguma coisa, a menos que viajar a essa velocidade enorme fosse tão inconcebível para os nossos sentidos que nenhum deles poderia ter sensação que dissesse válida ou verdadeira. Poderá ainda ser uma parte da matéria que nos constitui tão pequena, mas tão pequena na sua própria composição, uma molécula, ou uns poucos átomos ou iões, que nós não poderíamos dar por nada, agora já não pelo grande volume e pela grande massa, mas pelo minúsculo volume em tão irrisória massa, quase que diríamos imponderável. Nesse caso a matéria, que ocupa tempo e espaço, teria que ocupá-los aqui também, o tempo deixemo-lo de parte, já que ela livremente o atravessa, conforme quer, mas o espaço, vejamos esse espaço que seria ele, só se poderia considerar um grande, grande espaço, caso contrário como conseguiria essa matéria percorrer a três mil milhões de metros por segundo, segundo cálculos aproximados, se não tivesse um grande campo, um vasto e amplo campo para poder fluir e refluir à sua vontade, teria mesmo que ser uma auto-estrada neuronal, feita de ramificações dendríticas, mas para conseguir atingir tal velocidade como poderia ela fazê-lo, se essa selva de dentrites e axónios se contorce e se revolve, a todo o instante, crescendo e decrescendo, conforme a sua natureza lipídica, como, sim, como poderia ela acelerar tanto de forma positiva para ganhar balanço, e de forma negativa, para travar numa curva? Talvez seja por isso que os neurónios sempre se vão esticando, encolhendo aqui para formar ali, melhorando as auto-estradas, as vias romanas do conhecimento, sempre num bailado de tanto e entretantos, para que possa surgir a pista quando é precisa, e esse ião ou átomo ou molécula possa descolar até não mais ser visto ou vista. Mas não sei se tanto esse cálculo me conforma, vejamos antes se poderia ser energia. Se fosse energia que seria ela? Energia é coisa que ninguém sabe o que seja, anda por aqui, vai por ali, transforma-se em calor e em ruído, sempre vária e sempre una, como o espírito, quem sabe se é ela ele próprio, se ele próprio ela é, quem sabe, quem sabe, talvez um dia nos diga. Mas se for energia que pode tudo atravessar sem se preocupar com muros de pedra ou palavra ou cal ou tinta, se for algo que pode atravessar como um fantasma as fundações da matéria que a funda, e as fundações da energia de onde discorre, se for assim já poderia ser mais à larga, mais à-vontade, podia ir e vir quando lhe apetecia, e até sair para o espaço lá fora, navegando pelo tempo, embora não saibamos como um e como o outro lhe passam, se calhar nem lhe existem. Mas outra variável vem complicar-nos a equação, é que muitas vezes é recordação aquilo que o não é, e julgamos que aconteceu aquilo que foi só sonhado, pensado ou sentido, que é como quem diz que foi aquilo que queríamos que acontecesse, e não o que aconteceu realmente, mas disso não podemos ter certeza, e por tanto isso como aquilo teremos então que dizer ainda que é preciso considerar sempre mais todas as restantes matérias, e todas as restantes energias, e como umas e outras se vão influenciando, de tal modo que a curva ali pode ser modificada por uma, à medida que a outra se vai diminuindo, e a matéria bem que se pode transformar em energia, ou vice-versa, e aí é que estava explicado o grande mistério, de onde vem toda essa potência para calcorrear o tempo ou o espaço de maneira indefinida sem gastar um tostão ou sem dar explicação a ninguém. Seja como for, continuamos nós a viajar, seja no espaço ou no tempo, na matéria ou na energia, no corpo ou na alma, ou até pelo espírito, quem sabe, se o dois não é três e se do três não se fez dois por omissão ou falta de inteligência, por esquecimento ou incompreensão, teríamos que ir aos registos escritos ver talvez de onde vinha a razão, se é que ela viesse, não fosse andar por aí perdida, aqui e acolá, entre as sementes do ontem que são as raízes do agora.

1 comentário:

Anónimo disse...

foda-se, acredites ou não, não li.lol