segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Moro numa casa com vários andares
Nasci de algures sem pai nem mãe
Para abrir portas faltam-me as chaves
E quando abro uma vêem-se mais cem

A casa onde vivo foi-me ela alugada
Por um Senhorio de quem me não lembro
Se abro cortina para olhar a estrada
Vejo só noite escura que m'entra dentro

Corro como louco sem ver viv'alma
Quanto mais subo mais me mete medo
A luz vai andando, a custo, pela entrada
E sinto por vezes um frio e mudo vento

Não vejo a hora de chegar lá acima
E algo me puxa com uma força imensa
Que é de minha fome, sede de sina
Ver morte em vida e fazer-lhe a diferença

Chaves escondem cada uma seu quarto
E cada uma delas me surge sem aviso
A dor na fechadura é como grande parto
Arranca as entranhas sem dar eu por isso

Se vou para cima toda a casa se me cresce
Se vou para baixo mais encontro o que é meu
Ao pé da entrada está o que sempre floresce
Ao dobrar aquela esquina não passo senão eu

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