sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Porque é que todos os Verdadeiros Poetas são maltratados na sua época?
Todo o Verdadeiro Poeta está, pelo menos, um século à frente do seu tempo. Para ele o tempo não existe, e não existe há muito tempo, mesmo antes de Einstein e das restantes teorias. O tempo em que o Verdadeiro Poeta se move é a Eternidade, porque ele simplesmente não conhece outro tempo: só o tempo das coisas que são eternas. Eternamente buscando a perfeição das coisas, como Cesário, eternamente escutando a música das esferas celestes de Pitágoras, eternamente e em espiral, voando por sobre terra e mar, sempre com o mesmo olhar de Reis, falando como um Campos para quem passa, sentindo como um Caeiro por onde flutua. Os Grandes não morrem, evaporam-se porque não passaram de sombras neste mundo, e o mundo não os entende porque vive agarrado à terra, rebolando-se na lama, comendo os seus próprios excrementos e lançando as sobras para os olhos daqueles que espezinha. Os Grandes estão sempre certos porque no dizer de Wilde tudo o que é popular está errado, e tudo o que é popular é efémero, porque não passa de excrementos atirados de um lado para o outro. Terão que passar muitos e muitos séculos ainda para que os Verdadeiramente Grandes Do Nosso Tempo possam ser condignamente reconhecidos, quando as ficções sociais estiverem mais mitigadas pelo peso do Verdadeiro Intelecto, quando a Ciência for descredibilizada e a Arte for menosprezada, e tudo apenas com o intuito de engrandecer ambas. Mas esse tédio pessoano, essa excentricidade de Capote, esse sofrimento de Florbela, todos eles são o coroar da Verdadeira Glória do Verdadeiro Poeta: todos eles são os seus troféus que os Deuses lhe dão para que mais depressa ele ascenda ao Céu, todos eles são os bilhetes que ele ganha para passar despercebido pelo mundo e para poder ser verdadeiramente, são o seu triunfo e a sua derrota mundana, e são a prova de que ele conseguiu viver tudo e tudo suportar sem que nada lhe fizesse mossa, e espalhando as sementes que só nos séculos dos séculos que hão-de vir conseguirão florescer e elevar-se como ele. E se a Sorte e a Fortuna realmente lhe sorrirem então ele verá um ou dois dos seus rebentos a afastar timidamente o solo que se revolve e a procurar a Luz que vem do Alto para se encherem da Verdadeira Beleza. Muitos não chegam a ter esta sorte, mas quem o tem nunca esquece. São esses os que morrem em Verdadeira Paz com a Terra e com o Céu.
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