Não pode ser caracterizada como menos que gritante a diferença entre os monos que hoje se fazem passar por actores e os verdadeiros actores, os actores que têm uma verdadeira instrução de actor. É frustrante, desprestigiante e mesmo aviltante ver como recompensam os verdadeiros actores e como recompensam os verdadeiros ocos, e já nem me refiro ao prémios disto ou daquilo, cuja atribuição é tantas vezes duvidosa. Como culminar de um culto socialista à pior arte popular que existe (atenção, não se trata de Pop Art, trata-se de uma coisa popularucha e aviltantemente socialista), agora são os modelos que vêm julgar-se actores e saltar para as televisões, e para os cinemas também que isso também já acontece. Quer dizer, não lhes chega estragarem as passerelles com os seus conceitos de beleza juvenil inverosímil, de anorexia nervosa e bulimia esquizofrénica, não lhes chega perpetuar uma síndrome de Princesa Diana que existe nessa procura tão sôfrega pelos tão badalados 15 minutos de fama, é preciso ainda ir manchar e deturpar a Arte, porque é de uma Arte que se trata, que é a vida de tanta gente honesta e trabalhadora, porque um actor é alguém que trabalha a sério, que tem desgastes físicos que não são pequenos, que tem um enorme desgaste psicológico por estar sempre a viver emoções que o obrigam a contorcer-se de todas as maneiras possíveis, que tem que dar sempre essa energia, e viver essa disponibilidade para a poder transmitir da melhor maneira ao público... é nojenta a acepção que o actor hoje tomou, e são nojentas as pessoas que deixaram e que deixam que isso aconteça, todos os dias: primeiro, por fazerem algo que está errado, que é levar pessoas sem preparação nenhuma para a representação; e depois porque criam as expectativas de um grande futuro risonho e cheio de Óscares para meia-dúzia de gatos-pingados que não têm onde cair mortos. A única coisa que nos vale é que esta moda, porque na verdade não passa de uma moda, há-de cair como todas as outras já caíram. Enquanto moda é efémera, e tem os dias contados a partir do momento em que nasceu. Portanto, a pretensa arte socializada e socialista, e isto para não dizer populista, pela qual se afogam as pessoas com noções erradas do que é a realidade, é exactamente uma arte suicida: tem um curto ciclo de vida, causa ilusão, morte e destruição à sua passagem, e acaba por se assassinar a ela própria, quando o seu tempo se esgota e os seus míseros 15 minutos de fama escorrem pela sarjeta abaixo. Todo este aparato televisivo e de projecção além-fronteiras vai ter como graves consequências (e elas já se começam a notar) na franca descida de qualidade das representações. Dentro em breve teremos dois tipos de representação, cada um a antítese do outro: por um lado, as popularuchas, que tomam o nosso povo pelo Zé Povinho canastrão e rude que não é, e que vão arrastar as multidões e contribuir ainda mais para esse grande fenómeno, tão português, que é o do Aviltamento Nacional; por outro lado, os trabalhos sérios, aqueles que são mal pagos e que vêm atrasados, vão ser apreciados só por uns poucos, aqueles que não vão no conto do vigário, garantindo assim a assimetria cultural que temos e que existe como um qualquer monstro de sete cabeças, e que permite engordurar ainda mais o que nós somos. Já vem sendo altura de dizermos adeus a estas palhaçadas e de as pormos no sítio onde pertencem, que é no circo, e nos deixarmos de jogos do gato e do rato para ver se a cultura consegue finalmente andar para a frente.
E, por favor, se tiverem dúvidas façam lá isto: metam lá a Kate Winslet, a Cate Blanchett, a Glenn Close, o Al Pacino e o John Malkovitch ao pé dos Morangos com Açúcar, do Ashton Kutcher ou do Keanu Reeves e digam lá quais são as diferenças...
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