Base conceptual da aprendizagem
Para poder lançar as bases de um verdadeiro Plano Educativo para um país é preciso primeiro saber de que é que trata esse plano educativo. Um plano como esse tem como objectivo orientar estruturas físicas e pessoas de tal forma a que o processo de aprendizagem de um indivíduo seja o mais fácil, claro, lógico e bem adaptado ao contexto em que esse indivíduo se move. Mas estamos aqui a tentar demarcar fisicamente algo que não tem nada de físico. O processo cognitivo é um processo mental, visto que é um processo que visa a aquisição de conhecimentos (aquisição quantitativa) e a aquisição de novas formas de resolver problemas (aquisição qualitativa, ou paradigmática). A aquisição de novas formas de resolver problemas, isto é, de métodos que permitem o aumento quantitativo do nível de conhecimento acerca um determinado tema não deixa de ser, ela própria, um conhecimento que também se soma aos restantes, e portanto de índole quantitativa. Contudo, é pela sua natureza ou qualidade, claramente mais importante que a qualidade dos conhecimentos de índole quantitativa, que estes conhecimentos merecem uma designação diferente de forma a não perder de vista a sua importância e tê-la sempre presente na nossa análise. Ainda assim, e frisando novamente, o processo cognitivo é um processo mental porque visa a aquisição e compreensão de conceitos que se podem classificar como armazenados na mente, e aos quais podemos ter acesso. Não existe qualquer base física para um conceito, apenas uma base mental ou conceptual. Assim, qualquer Plano Educativo deve ter presente que a sua função é limitada, visto que ele, sendo algo que tem uma base física (organização da rede escolar, de alunos em turmas, de professores em turmas, das infraestruturas, dos materiais disponibilizados, etc.), não pode ter por uma via directa influência no processo de aprendizagem de cada indivíduo. Apenas aquilo que dele tem uma substância conceptual (isto é, os paradigmas de aprendizagem e os conteúdos leccionados) pode ter uma influência directa sobe o processo de aprendizagem porque apenas essas partes podem contactar com a estrutura psíquica dos indivíduos. Este primeiro ponto é fundamental porque traça de que forma o caminho entre o objecto e o sujeito deve ser encarado num Plano Educativo, concluindo portanto que tudo aquilo que existe de material no processo educativo não pode senão auxiliar mais ou menos um Plano Educativo de natureza conceptual que já exista, não podendo, em ocasião alguma, substituir essa sua natureza conceptual que é a fonte de toda a sua validade enquanto orientação cognitiva.
(E aqui está o erro de todo o plano tecnológico do governo de Sócrates: vendendo computadores às escolas não se está a desenvolver o intelecto dos alunos. O computador é um objecto físico, e não pode em nada aumentar o nível de conhecimentos, quer qualitativo quer quantitativo, de um aluno. Quanto muito, o computador poderá ajudar o aluno a melhor percorrer o caminho conceptual que consiste na sua aprendizagem SE E SÓ SE a este computador for juntada uma abordagem conceptual, isto é, uma pedagogia específica e bem orientada que permita ao aluno a utilização do computador no sentido de que a informação que este pode veicular possibilite uma maior e/ou melhor aprendizagem, isto é, uma maior aprendizagem de conhecimentos por intervalo de tempo do que aquilo que seria obtido caso o computador não existisse e/ou uma aprendizagem mais efectiva, ou uma maior compreensão dos conceitos que são abordados do que aquilo que seria obtido caso o computador não existisse - e como se define esta maior compreensão de um conceito? Ora, pode definir-se uma maior compreensão de um conceito de três formas: 1) quando o aluno é capaz de, autonomamente, recordar mais facilmente um conceito e explicá-lo de uma maneira mais precisa, de acordo com aquilo que aprendeu, aquilo a que se pode chamar verdadeiramente a expressão exacta da memorização; 2) quando o aluno é capaz de, autonomamente, definir esse conceito de uma forma elaborada, apresentando uma explicação que não se baseie somente numa pura definição mecanizada, mas que também é complementada por exemplos, ou seja, aplicações do conceito a outros contextos que não aquele que serviu de base para a aprendizagem desse conceito, aquilo a que se pode chamar verdadeiramente inteligência; 3) quando o aluno é capaz de, autonomamente, resolver uma maior gama de problemas associados a novas situações que envolvam raciocínios que tenham como base a compreensão desse conceito, aquilo a que se pode chamar verdadeiramente adaptação.)
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