segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Geração "Morangos Com Açúcar" ou "Pãezinhos Sem Sal"


Hoje em dia ter 18 anos não significa nada. No século passado alguém com 18 anos era bem desenvolvido, tanto física como psicologicamente, e hoje já não há nada disso. O problema mais grave está naquilo que as pessoas fazem com os meios de comunicação, sobretudo numa era em que eles estão massificados. A emissão de séries juvenis, que de juvenis só têm o nome, veio trazer uma visão deturpada, e pior que isso veio incuti-la, nas mentes dos jovens adolescentes portugueses. A presença de modelos estereotipados e situações preconceituosas só pode ter como desfecho o atraso no desenvolvimento mental dos adolescentes que para aí há. As provas abundam por todas as escolas do país, e começam agora a chegar às suas universidades. E como o físico anda de mão dada com o psíquico, já desde Freud sabemos o que são doenças psicossomáticas, e que a mente pode influenciar, e influencia de facto o corpo, então não podemos deixar em branco a análise sem nos debruçarmos sobre o físico. As pessoas nunca passaram tanto tempo fechadas em casa, seja com a televisão, os computadores, ou outros meios de comunicação, mas sobretudo aqueles dois. A actividade física nunca esteve em tão baixa estima, nunca o sedentarismo foi levado tão ao extremo, e a alimentação mediatizada, capitalizada, e cuidadosamente corrompida por grandes superfícies monopolizadoras da gordura mundial. A despersonalização da crença globalista, uma autêntica atitude medieva, trouxe uma descrença no individual e um culto obsessivo ao colectivo, à pop art, ao socialismo na política, à difusão indiscriminada de informação, e que fique de uma vez por todas claro que a lassidão informativa que temos não é menos que patológica, todos esses factores de apagamento individual e nacionalista, vieram dar lugar à estandardização americana, ao colonialismo europeu, uma vaga de loucura crescente. Assim, a cozinha tradicional foi remetida para um buraco, prefere-se o que é estrangeiro, sobretudo quando mau e péssimo, e vai-se lamentando o nosso triste estado, aquela para onde caminhamos e para onde caminhamos de boa vontade, cegos de nós e de tudo o que nos rodeia. E para além da comida ser má, e os corpos cada vez mais obesos, esse sedentarismo inútil transforma-se na apatia generalizada, nem se faz exercício físico como dantes, não se joga sequer à bola, talvez essa ainda subsista, mas já não com aquela força salutar de outrora, agora já nem os pais têm tempo para os filhos e têm que os largar na escola mais próxima para os professores que não há os possam educar a tempo inteiro. E por isso o corpo, como a mente, e é bom notar que já nem em alma se fala, só mente, esse corpo, que antes era adulto aos 18 anos, agora não passa de uma estrutura de um qualquer miúdo de 14 anos. O mental expressa-se no físico incipiente, o físico indica um mental pouco equilibrado, pouco robusto e extremamente dependente de todas as influências externas, vitaminas e sais minerais tomados em cápsulas cor-de-laranja com pintas roxas. O mundo vai de pernas para o ar e toda a gente se comporta como se estivesse tudo bem, uns comem morangos com açúcar, e de tanto o fazer acabam nos pãezinhos sem sal, nem sequer esse pão já é apreciado, já ninguém sabe o que é o pão, o pão verdadeiro acabado de sair do forno, é a negação da história, da cultura, a morte da vida, a asfixia de toda a vitalidade, a apatia da multidão. Caminhamos para um buraco sem fundo que de tão frio e tão escuro cada vez mais se afunda em lodo profundo.

3 comentários:

Maria del Sol disse...

Este é um assunto tão premente quanto pouco debatido na actualidade, pois a sociedade de consumo aceita de um modo cada vez mais acrítico o que os meios de comunicação normalizam. É precupante pensar na geração que será fruto desta padronização.

Embora este post esteja, de longe, muito melhor escrito que o meu, foi um assunto que abordei há uns meses no meu blog. Deixo-te aqui o link (passe a publicidade),para o caso de o quereres ver http://1-lugar-ao-sol.blogspot.com/2007/07/sinais-dos-tempos.html

Cumprimentos.

Maria del Sol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel disse...

muito obrigado pela sugestão. Por acaso já tinha visitado o teu espaço e lido esse artigo, e foi bom relê-lo. A série "Riscos" é incomensuravelmente melhor que os "Morangos" ou o "Diário de Sofia" (só de pronunciar este nome até me dão arrepios...), um paradigma totalmente diferente. Então, se calhar, há que perguntar: mas que raio deu nas pessoas para que de 1995 a 2005 se piorasse tanto na qualidade?? Não? É que, afinal, são pouco mais de 10 anos, ou até menos que isso. Mas esse pouco tempo é suficiente para que da chamada Geração X (Jeff Buckleyanos, Nirvanianos e companhias) dê origem à chamada iGeneration. Parece-me que o problema está em considerar a iGeneration (vamos lá chamá-la assim por uma mera questão de simplificação de linguagem, já sabemos que não é possível padronizar o que quer que seja) como a 'internet'Generation, e não como a 'interactive'Generation. De uma à outra vai um abismo colossal: uma está subjugada pela tecnologia e pelo grau de desenvolvimento tecnológico (e aqui insere-se a internet, a tv, os jornais, os telemóveis e etc.), a outra utiliza essa tecnologia como um meio para se expressar culturalmente, artisticamente, ou melhor, para expressar o seu potencial individual. Talvez estejamos perante uma iGeneration que esteja bipolarizada: alguns são os dependentes, outros são os que se adaptam. No fundo é uma questão de adaptação, sobretudo a uma contexto de liberdade que muitos dos nossos pais e avós não tiveram, ou pelo menos não o tiveram de forma integral. Mas isso não quer dizer que nos deixemos estar à espera que as coisas vão ao lugar, é exactamente o oposto: temos é que dar a volta a todo este sistema degradado. E uma das melhores maneiras é certamente usar esta tecnologia toda para passar a palavra a outras pessoas. Para subverter a mensagem socialista. Por isso, vamos lá a encher de cultura o país, nem que seja na blogosfera! Cumprimentos para ti e para o teu espaço.