sábado, 27 de janeiro de 2007

chegámos a uma altura em que os conhecimentos se acumulam uns sobre os outros cada vez mais depressa, e de tal forma que nem o nosso cérebro, melhor dizendo, encéfalo, mesmo nas suas maravilhosamente complexas redes neuronais, consegue parecer acompanhar essa actualização constante.

E é assim certo que a evolução não está em continuar somando conhecimentos como uma máquina, ou um computador bem comportado. O que é preciso é relacioná-los, encontrar comparações, pontos de contacto. Já caíu fora de moda, e de validade lógica, procurar na vida o que há de diferente sem querer saber do que é semelhante, ou repetir sempre o mesmo, mudando apenas uma vírgula ou um ponto. Até o próprio método experimental, de tão precisamente exacto, já está morrendo de velho. O que é necessário é a comparação, isto é, a síntese que, embora apenas possível após análise aturada, é aquela que lhe dá verdadeira dimensão de significado global.

Muitos já se aperceberam de que isto é o futuro, e que não vale a pena olhar só para o passado, como por exemplo os cientistas do Romantismo alemão, ou direi melhor Naturphilosophie. Mas o problema dos alemães foi que se voltaram tanto para a técnica e para a especialização que acabaram fechando uma cerca à volta deles próprios, e de tal forma que de lá não sai grande coisa de novo, a não ser umas filosofias baratas a que chamam de existencialismo, talvez porque, e é capaz de não andar muito longe disso, eles só se preocupam, e, como se isso não bastasse, preocupam-se com o que existe. O problema é que o que para eles existe era o que existia para Descartes, e, a partir dele, parece-me que as coisas já andaram evoluindo muito, mesmo em termos de psicologia, outra invenção alemã para controlar o espírito, se é que isso é possível. Mas enfim, vamos dar-lhes o beneplácito da vontade, que sempre ajudou em alguma coisa, quanto mais não fosse a turvar-lhes o caminho até os realmente videntes poderem ter meios para mostrar o mundo todo de uma vez só, que é como ele é, uma vez e uma só, e todo inteiro, não partido e repartido às metades e aos quartos, e por aí adiante até aos infinitesimais.

O problema é que agora vai ser preciso quebrar barreiras, e chegar atrasado às reuniões, e mudar as convenções, ou talvez mandá-las para um qualquer buraco negro, e quanto mais negro melhor. Portanto, é preciso jogar fora tanto a pontualidade britânica como o cientificismo alemão, ou o tecnicismo chinês. Realmente, acontece que nós, que somos portugueses, até temos alguma sorte, no meio deste processo todo, porque o português é avesso a todas essas coisas, e aquilo que ele quer mesmo fazer é culturar tudo quanto a sua vista põe em cima. Vamos então culturar, em Portugal ou no Brasil, Timor ou Macau, em Goa ou na Guiné, Cabo Verde ou Moçambique, Açores ou Madeira. E é por isso que o português vai ter uma missão importante, que é a de guiar as pessoas na sua cultura a culturar também sem pressas de cronómetro.

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