quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

o clima é um dos mais poderosos agentes sociológicos. Veja-se o exemplo de Porto e Lisboa. Duas cidades portuguesas, importantes, é certo. Nada de mais dissemelhante. E tudo por causa de uns quantos graus abaixo, ou acima - dependendo do referencial. No Porto, graus a baixo fazem com que as pessoas fiquem mais rígidas, sejam mais rígidas. São também mais pontuais, mais formais e mais duras. Soturnas, é a palavra. Como o Porto. São mais lunares. Mais nocturnas. Por isso, no que toca ao trabalho, são as melhores. As mais eficientes. A rigidez dá-lhes estrutura.

Lisboa é o oposto. Uns graus a cima, e as pessoas são mais desprendidas. Não têm tantos compromissos, de educação e de carácter. A única formalidade, se é que pode haver alguma, é chegar atrasado a algum encontro, ou mesmo evento. Mesmo além-fronteiras. O estrangeiro é bem-vindo, é bem recebido, não com desconfiança soturna de quem quer proteger o seu precioso para que lho não roubem, mas sim com um à-vontade alentejano. Ou tejano, porque é disso que se trata. A segurança não é tão apertada, e a espontaneidade é maior. Há menos convenções sociais, cada um quer é viver. As ruas são mais abertas, e só pecam quando estão tão abertas que se prostituem ao abandono. Há má gestão, laisser-faire diria um psicólogo, ou o Eça, que tem tanto de bom, o pior é que isso ainda significa que tem também tanto de mau.

Confucionista é o Porto. Taoísta é Lisboa. E Portugal? Nasce do casamento do senhor com a senhora. Ele, sempre muito directo e recto, ocidental. Ela sempre muito curvilínea, oblíqua, em espiral - oriental. Portugal é filho dos dois, e nós somos seus netos. De resto, de Norte a Sul da Pátria, as características variam no meio das que pertencem ao nossos avós, com os graus Celsius - escala que não é absoluta, pois não se pode medir absolutamente o infinitamente variável.

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