domingo, 28 de janeiro de 2007

podem as pessoas queixar-se de níveis baixos de literacia em Portugal, mas o certo é que a dispersão da cultura, confirmando a segunda lei da termodinâmica, tem vindo sempre a aumentar. Para alguém do nosso século será difícil imaginar o que era o Portugal e a Europa da Idade Média, após as invasões bárbaras, dilacerados ambos por guerras e confrontos, pilhagens e roubos, destruição e saques. Não fossem os padres, e monges, e abades, e todos os demais religiosos, não existiria cultura nenhuma, teria tudo sido arrastado pela lama. E é graças a eles, e à sua tarefa diligente e fina de copiar manuscritos, que devemos a conservação de alguma cultura, ideias gregas, romanas e árabes, que por esses tempos fora foram apreciadas e contempladas por quem teve o prazer de as estudar. E por isso muito devemos à Igreja de Cristo, que é dizer que muito devemos a quem teve tão laboriosas tarefas, e portanto nem só de autos-de-fé e Tribunal do Santo Ofício vive a história do homem. Deviam as pessoas pensar duas vezes antes de cuspirem na cara de quem lhes deu a cultura.

E, contudo, a entropia avança, e com ela a cultura, pelo Universo, claro está, sempre subindo, numa espiral evolutiva. Afinal de contas avançámos muito. Não que isso seja suficiente, nunca o é, e queremos sempre puxar mais a corda para ver até onde subimos. Mas pelo menos já é um sinal que indica que afinal sempre existe alguma evolução. Escolaridade obrigatória, várias universidades, meios de comunicação dispersos, tudo concorre para aproximar esses mares que ligavam os continentes por descobrir, e por ligar esses continentes que em tanto permaneciam desconhecidos. O dever do artista é criar pontes.

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