terça-feira, 23 de janeiro de 2007

o grande problema do mundo está no uso de cintos. A civilização ocidental habituou-se de tal modo ao uso do cinto que não pode ir para a rua sem fazer uso dele. Os alfaiates, que já não há, e as modistas, que também não, enfim, aqueles que hoje dizem que fazem roupa para as gentes mais não fazem que impingir-lhes coisas que não lhes servem, como a pele de uma cobra que tem que ser deitada fora para que possa nascer uma nova. Uma carcaça adejante, precisando do cinto do decoro burguês e da altiva sensaboria. Aí está o problema da civilização.

os orientais nunca usaram, nem usarão, cintos para nada, e para ninguém. Imaginem o que seria ver um buda chinês, daqueles de ventre bem desenvolvido, e bojudo, com um cinto a tapar-lhe a bela luzidia de uma barriga de mestre? Para além das óbvias indigestões que o pobre teria, ainda bem que ele já tinha atingido o nirvana, que não se importava com isso, o pior era se ainda estivesse a treinar para isso, para além disso, o pobre andaria sempre enjoadíssimo e de mau humor. E assim como é que as pessoas alcançavam a budeidade?

Só os cantores de ópera são sensatos no mundo ocidental: trocam as impressões crepusculares e ofuscantes de uma ribalta burguesa, vá-se lá saber se ela percebe ponta daquilo que para ali se diz, se sabe latim ou italiano, ou se a puseram num instituto de alemão, ou no colégio luso-francês, ou anglo-saxónico, trocam mesmo isso por um ventre e uma imensa caixa torácica, e aposto que um enorme coração de tanto sentimento, e de tanto sentirem, e de tanta reverberação vocal, das cordas, do ar, dos pulmões e da barriga, claro, porque não vamos nós deixar a barriga em misérias, que também somos filhos de deus.

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