sábado, 17 de novembro de 2007
o problema do capitalismo, enquanto sistema económico que permita a evolução da humanidade, é o facto do capital, uma vez multiplicado, não deixar as mãos de quem o recebe. A descentralização do capital é o factor que falta na equação económica mundial para que o capitalismo fosse o sistema ideal a atingir. Assim, não o sendo, teremos nós que enveredar por outra via. Uma ideia muito interessante de Agostinho da Silva é o facto da crescente mecanização da indústria ter criado vagas e vagas de desempregados por todo o mundo. Esta situação temporária é extremamente interessante porque mostra que, com o aumento da tecnologia, são estritamente necessárias muito menos pessoas para executar uma tarefa com sucesso. Assim, e nas palavras do sábio ancião, já muitos seres que dão entrada neste mundo nascem reformados à nascença porque não vão ter que trabalhar. Na verdade, um trabalho como o industrial é excelente para fazer crescer tumores psíquicos de todos os tipos, esquizofrenias e insatisfações. Se os lugares disponíveis para linhas de montagem passam a escassear, então aqueles que nascerem agora já não poderão alistar-se nesse exército do capitalismo, e portanto têm uma maior liberdade para escolherem algo verdadeiramente original, e para prestarem mais atenção àquilo que realmente são. O desenvolvimento da tecnologia e dos meios de comunicação, que veio trazer a maior taxa de dispersão de informação que alguma vez já vimos, permite estimular também os jovens cérebros e fazê-los mais depressa desenvolver o seu potencial, e isso é algo que nem as políticas de estupidificação escolar nem a Igreja Evangélica podem mudar. Mas, no seguimento desta situação, advinha-se uma nova crise, e esta é a verdadeira crise de que ninguém fala. Ora, se há menos lugares nas fábricas, então haverá mais pessoas a escolherem fazer outra coisa das suas vidas, como por exemplo seguir uma formação mais especializada nesta ou naquela determinada área do saber. Claro que temos que entrar em consideração com o decréscimo da taxa de natalidade, é verdade, mas vamos pressupor que esta consegue ser controlada e não diminui tão acentuadamente. Ficarão agora mais pessoas com mais tempo livre, e tempo livre em que podem escolher não trabalhar, e aqui é que está toda a importância deste ponto, é que ninguém gosta de trabalhar: todos gostam é de fazer aquilo que mais gostam, e portanto todos buscam o prazer, seja por que caminhos ou mecanismos for. A crise que já se anda instalando resulta da incapacidade das estruturas sociais para conseguir escoar o número de pessoas que vai receber formação especializada: observamos hoje mesmo numa saturação do mercado de trabalho a vários níveis, diria mesmo a quase todos, salvo raras excepções. Não podemos perder de vista que Portugal era, há cem anos atrás, um país muito diferente daquilo que é hoje: o sector primário tinha uma importância muito maior, uma tendência que agora se vem revertendo cada vez mais. Os agricultores do tempo de Salazar estão a dar entrada a novos médicos, advogados, psicólogos, biólogos, professores, historiadores, artistas. O mercado é que não tem capacidade para conseguir dar emprego a todos estes profissionais, ainda por cima quando está habituado a esbanjar dinheiro que nem um português - ou não fosse o nosso país Portugal... Se o país não preparar as estruturas necessárias para receber estes novos profissionais a procura vai aumentar em muito, assim como o número de desempregados, e poderemos ter num futuro próximo o caos generalizado. Esta situação só poderá ser evitada se o estado, e só o estado, começar a abrir as portas para todos estes profissionais: abrir mais lugares para professores, abrir mais lugares para psicólogos, facilitar a criação e o desenvolvimento de empresas do ramo da biotecnologia, e, claro, garantir apoios a todas as estruturas culturais do país! Mas para isso é preciso haver uma completa revolução no modo de gerir os dinheiros públicos, era preciso uma mão de Salazar organizar de que forma esse dinheiro seria repartido pelos ministérios e quais as medidas mais urgentes a tomar. Talvez a tarefa mais importante que tenhamos em mãos seja exactamente a de preparar o caminho para que os futuros dirigentes e, enfim, todos quantos aqueles que têm um cérebro que possa ser utilizado para pensar possam crescer no sentido de chegarem até uma maior compreensão do mundo. Enquanto o verdadeiro significado desta situação não for compreendida em todas as suas vertentes não poderemos evoluir no sentido de um mundo mais livre para todos.
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