quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O MISTÉRIO DA CRIAÇÃO

Todas as mulheres são estátuas gregas
porque todas foram talhadas da mesma carne
Os mesmos jeitos, as redondezas,
as figuras finas cheias de arte
no trocar de perna e no jeito lânguido
que jaz amordaçado contra a usura dos séculos
mas sempre sabendo puxar do seu peito,
dar de mamar aos filhos e aos netos.
O vigor da sua chama é porém outro,
o do equilíbrio da dama,
o cruel destino de terem o mistério divino
da carne e da criação na mama
ao aleitar a criança
para dela fazerem homem são.
Se a mulher é um templo, o homem é o deus
que com o vigor do seu falo fecunda a câmara imensa
e dá lume à chama intensa
daquilo que se fez criação.
O homem é a força no seu estado mais puro,
a força bruta que brota da natureza,
nele o equilíbrio dá lugar à destreza
de quem tem que lidar com os destinos do mundo.
O homem é todo força e músculo. É poder
de dar, vergar e receber. E usa-o
com sapiência, o seu mister absoluto
e absurdo, na sua essência, o de
num passo ir do querer ao fazer.

Ao amor em duas mulheres chama-se irmandade.
Partilham elas ambas o segredo da eternidade,
da geração e do saber ancestral. São as mães
de tudo aquilo que é natural.

Ao amor em dois homens chama-se vigor absoluto.
São eles ambos carne e força e músculo. Decisão de
avançar em terreno obscuro, ímpeto de chefiar,
de levar a alma ao Graal profundo.

Amor em homem assim como em mulher é criação.
Acto de fecundar, prazer e concretização. É expandir
no terreno natural a construção, edificar o Reino,
Coroar e temperar a conjugação.

Assim se fez mistério a criação.

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