segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entrevistadora: O senhor se referiu aos "muros da academia" como um obstáculo para o pensamento livre. Há alguma esperança para as universidades?


Zigmunt Bauman: O que quer que as universidades façam, elas não conseguirão jamais pôr um fim à curiosidade humana, que talvez tenha de sair da academia para se satisfazer. Ainda tenho o meu escritório na Universidade de Leeds, mas mal posso reconhecer a universidade da qual saí há poucos anos, tal a velocidade da mudança. Os nomes aparecem e desaparecem das portas, as pessoas são classificadas de acordo com o projecto em que estão engajadas no momento, mas tudo é tão a curto prazo! Cambridge provavelmente ainda é diferente.

Se se pensa nas limitações que a organização universitária hoje impõe ao desenvolvimento do pensamento livre, basta olhar para o que acontece com a filosofia e a sociologia tal como são praticadas nos departamentos universitários e em outros "locais de autoridade" (...) Cada uma dessas disciplinas académicas se pretende de posse de grupos distintos de "dados primários", e os processa, interpreta, verifica e refuta de maneiras diferentes. Dominar o cânone tanto da sociologia como da filosofia e adquirir credenciais oficialmente reconhecidas e confirmadas em cada uma delas toma todo o tempo dos estudantes universitários - e a competência em uma dessas disciplinas académicas raramente é exigida para se adquirir o grau na outra.

Posso entender a preocupação dos sociólogos académicos com a circunscrição, as barreiras e a defesa de suas possessões contra os competidores na obtenção do dinheiro das fundações e do governo, mas o que não podemos esquecer é que essa preocupação se origina na realidade da vida académica e não na lógica da experiência humana que a sociologia é chamada a servir.




entrevista a Zigmunt Bauman, sociólogo humanista e pensador da era pós-modernista

sábado, 26 de dezembro de 2009

não deve pior maneira de ler filosofia que não seja lê-la em português. Há uma qualquer fragilidade narcísica entre as auto-proclamadas elites portuguesas que faz com que as traduções de textos de filosofia - mesmo daqueles que são simples - acabem por parecer um amontoado obtuso de palavras caras prontas a ser interpretadas apenas por extraterrestres que não têm ligação nenhuma com o que a vida é realmente, no dia-a-dia de cada um. A única conclusão verdadeiramente lógica que se pode retirar daqui é que nas auto-proclamadas elites não existe nenhum verdadeiro filósofo - no sentido original da palavra, tantas vezes esquecido. Aquele que ama o saber verdadeira e ardentemente não pode ter outro desejo senão o de tentar por todos os meios dar a conhecer a beleza da sua arte às pessoas que não a conhecem, para que todos a possam apreciar e chegar à conclusão de que é bela e relevante para o nosso mundo. Mas, claro está, quem veio a este mundo para ser doutor, não pode perder o seu tempo com ninharias destas, ou não fosse ele, por causa delas, perder o seu precioso emprego. Nunca aceitem ler filosofia que não seja clara; e, se o tiverem de fazer, leiam-na sempre em inglês.
é realmente admirável a desproporção que há no tomarem as pessoas assuntos de segunda categoria como causas formidáveis e nacionais, sejam o fim das touradas ou os casamentos homossexuais. É uma atitude que se deve considerar até perigosa, já que desvia a atenção dos verdadeiros problemas que enfrentamos (já se esqueceram deles? Alterações climáticas, desemprego a torto e a direito, guerras pelas últimas reservas de petróleo no médio oriente, crises económicas globais, tratados e governos controladores e oportunistas, um sistema de ensino transformado em academia militar, ...) para causas que, apesar de fazerem com que as pessoas façam muito estardalhaço à volta delas, nunca levam a coisa nenhuma, e são, na verdade, insolúveis, até que as mentalidades mudem - coisa que, como já o Álvaro de Campos dizia, só acontece verdadeiramente quando uma geração morre e a seguinte aparece. Se as pessoas querem acabar com as touradas e deixar que quem quer casar se case, vão mas é dar cultura às pessoas e subverter o sistema de ensino que temos. Aquilo que está na base da vida é a aprendizagem, e a aceitação da vida que se tem e da vida que se teve. Enquanto as pessoas não forem livres de aprender o que querem aprender, e de ter dinheiro suficiente para fazer o que querem fazer não hão-de compreender o sofrimento pelo qual os animais passam para nos servir de comida, ou que o estado não tem nada que ver com a vida privada e emocional de cada um. Vamos acabar de uma vez por todas com essa questões menores que não levam a sítio nenhum e propôr medidas, práticas, para mudar o que está na base, ou então para desconstruir as ficções sociais que as pessoas têm na cabeça. A única maneira de agir globalmente é agir localmente.
há uma coisa que gostava de ver bem explicada: porque é que tanta gente acha que tirar fotos à sua cara quando se olha para baixo é considerada uma foto artística, ou sequer profunda. Há mais profundidade numa piscina insuflável de um qualquer hipermercado!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

the last continent to be discovered is time

a new world global from scratch

altermodernism by nicolas bourriaud

a Calecute de hoje é a história da humanidade. Temos de navegar contra as ondas de multinacionais globalizantes, monstruosidades super-burocratizadas e legislações flibusteiras de governantes piratas brandindo as espadas da inflação. É a guerra da informação, e as trocas comerciais fazem-se agora no acesso a ela. Os mares nunca dantes navegados são os da imaginação, e precisamos de descobridores aptos para inventar novos mundos no nosso mundo, e para espalhar as especiarias que tanto sabor dão à comida do espírito.

gosto da existência de tabs no internet explorer - significa que podemos multipersonalizarmo-nos em várias direcções e sentidos ao mesmo tempo, sem sair do mesmo lugar, exactamente como fazemos com os nossos heterónimos. A internet favorece o pensamento múltiplo, divergente, e torna impossível qualquer rotina de pensamento cristalizado. Já que não podemos estar todos juntos ao mesmo tempo, formando um corpo-cosmos, podemos, pela tecnologia, multi-conectar-nos e formar redes gigantescas que cobrem todo o planeta. Não se trata de descobrir novos continentes, senão de descobrir novos eus, os exteriores e os interiores, para que mais depressa a grande consciência global, essa idealização da humanidade, se possa desenvolver mais depressa. Cada pessoa é um neurónio que estabelece múltiplas conexões com outros neurónios, no topo do grande córtex cerebral do planeta terra.
é incrível a diferença que vai da minha geração àquela que só agora atinge a maioridade fiscal, os dezoito anos de todas as iniciações. É uma diferença tão clara e tão perceptível, tão grandes são clivagens que nos separam, que por vezes ainda me custa a compreender como pode a humanidade avançar tanto em tão pouco tempo. As novas gerações que aí vêm vão ser as mais inteligentes que alguma vez pisaram este planeta: que mais se pode esperar de quem nasceu com a internet em casa, pronta a usar, na era da super-interactividade, do escolha-você-mesmo, do instantâneo e do imediato? Naturalmente que as estruturas mentais destas gerações que têm acesso a toda esta tecnologia cada vez mais interactiva vão super-desenvolver-se e mostrar-se as únicas que conseguem acompanhar o ritmo vertiginoso a que a ciência progride no nosso mundo. E nós temos é que olhar com bons olhos para a impaciência de toda esta camada mais jovem perante o que é demorado e custoso: estão habituados ao instantâneo, e só com essa impaciência é que será possível arranjar mais depressa maneiras de concretizar o Grande Ideal no mundo.

sábado, 19 de dezembro de 2009

who can possibly rely on science any more?
não há pior sensação no mundo do que sentir-se dentro de um supermercado. Talvez fosse melhor dizer supor-se dentro de um supermercado, porque dentro de um não é possível sentir nada. O vazio civilizacional preenche filas e filas de prateleiras com preços enganosos e cores berrantes. Toda a gente corre para comprar o mais depressa possível o produto de que tanto ouviu falar na televisão. Bombardeados como somos por estímulos que mudam dez vezes em cada dois segundos, já não ouvimos, já não vemos, já não falamos. Implantaram-nos uma televisão entre o lobo occipital e o parietal, e agora só nos movemos para onde a visão é sobrestimulada. Ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que procura. Limita-se a viver, à pressa, empurrando o carrinho pelos corredores labirínticos da modernidade. As muralhas de produtos frescos e enlatados, plastificados, engarrafados, depurados, liofilizados, desidratados, refinados e geneticamente modificados aguardam por nós, e nem precisamos de estender o braço. Todas as embalagens saltam já para o nosso carrinho, para esse abismo onde procuram desesperadamente suicidar-se para esquecer o seu destino. Mas somos humanos. Temos crias para amamentar, temos filhos para criar, comida para cozinhar, cozinhados para comer, comer para digerir, digerir para excretar. Todos os dias da nossa existência. Uma orgia de sabores sempre novos e sempre diferentes, uma orgia de sorveres e mastigares, de trincares e cortares, de preparados, ultra-congelados, super-melhorados, hiper-desinfectados, sobre-vitaminados produtos com vida própria - com vida própria!, a gritar-nos da televisão, a irromper de entre os neurónios do nosso cérebro, desse produto consumista e consumidor de eras e séculos e milénios, que traga tudo o que os olhos vêem. Rica vida, esta! A Vida Moderna em todo o seu esplendor orgiástico, de êxtases de supermercado, de comprar bocados de metafísica enlatada para servir ao pequeno-almoço, de tecnologias socializantes e de maquinismos globalizantes; A Verdadeira Vida Moderna Em TODO O Seu Esplendor;é ela o cúmulo máximo da civilização, da Nossa Civilização, do Mundo do Amanhã, Da Grande Ordem Mundial Permanente e Necessária!

Rica vida, esta. Nem um Orwell, nem um Huxley, nem um Kafka, nem sequer um Pessoa, podiam ter previsto como a Civilização Triunfante iria conquistar, em definitivo, toda o pedaço de terra habitável com o seu asfalto cinzento-chumbo. Por cima das nossas cabeças, a Modernidade pesa.
Nunca se deve confiar em traduções. As únicas traduções fiáveis são aquelas que traduzem o significado, e não a palavra. Mas deve-se abrir uma excepção no campo da filosofia: nunca se devem ler textos filosóficos em português, a menos que tenham sido escritos originalmente em português. Até resolver a equação de Schrödinger é mais fácil que entendem um texto filosófico em português. Excepções são feitas aos textos filosóficos em português que são claros, situações excepcionais dentro da excepção. Nunca se deve confiar num texto vago e impreciso - o mais certo é estar ele a esconder as incapacidades do escritor. Os textos filosóficos em português deviam ser todos reescritos. Se quem escreve textos filosóficos em português não consegue ser claro, então fazia muito melhor se os escrevesse em inglês.
Só os loucos, neste mundo, se conservam realmente sãos.

domingo, 13 de dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

antes & depois

antes:

a religião é o ópio do povo.


depois:

o Obama é o ópio do povo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

SOCIALISM IS DEAD

socialism is already dead because it has failed to provide the quality to our lives which it supposedly aimed for. The State and politicians have failed to bring about peace and have increased money spending during the socialist reign. Bureaucracy has thrived and decisions are nowhere more difficult to take. Nothing works the way it should, and our political institutions have proven not to be effective in regulating our lives. The socialist paradigm is over. We need another way of organizing our country. We need a new economy.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ALTER-MODERNISMO

Ainda me custa a crer que uma proposta tão inteligente e visionária tenha vindo de um francês. É um choque, dada a tendência superiorizante e snob de se considerarem os donos da filosofia mundial - eles que fiquem com o autoritarismo europeu, que é o que merecem! - ; mas a verdade é que veio de um francês. Claro que, vindo de um francês, só podia vir de um francês que tivesse poucas características francesas. Não é por acaso que uma ideia interessante só nasce de um francês que esteve noutros países do mundo, e que está deslocalizado em relação à França. Até sabe falar inglês - pasme-se! E, curiosamente, ele chegou até a vir a Portugal este ano, à Fundação Gulbenkian. Coincidência? - Certainly not!

Qualquer pessoa que fique a conhecer o choque pós-modernista que houve, com novas interpretações que valeram para a historiografia, a arte, a literatura, a análise conceptual, e até mesmo para o modo de olhar para a ciência; qualquer pessoa que esteja atenta a esse abalo sísmico que a desconstrução provocou, que o questionamento das normas instituídas, que as revoltas do Maio'68 significaram, que a queda do Muro de Berlim simbolizou; qualquer pessoa pode notar que esse espírito crítico, essa atitude crítica contra tudo e contra todos, essa inconformidade demolidora e arrasadoras de barreiras arrastou; tudo isto, qualquer pessoa pode notar que já não é bem o mundo em que vivemos. A grande noção de progresso, a exaltação do conceito de força, os sonhos modernistas de deixar a ciência conduzir o avanço da humanidade caíram por terra. Tivemos uma guerra mundial, tivemos darwinismos sociais perversos, eugenias medonhas, confrontos raciais e holocaustos, tivemos desabamentos económicos e grandes depressões, tivemos outra guerra mundial, tivemos revoluções e contra-revoluções na Rússia e na China; nada disso mudou o mundo para melhor. E a atitude pós-modernista veio pôr tudo em causa. Casaram-se todas as dúvidas com todas as certezas. Mas hoje, do princípio do século XXI, as coisas já não são assim. Novas possibilidades tecnológicas despontam, e novos perigos globalizadores, uniformizados e anuladores de todas as diferenças naturais e humanas despontam. Alguma coisa mudou, e a tecnologia para isso muito contribuíu. A chamada Web 2.0 levou a isso. Agora, o ponto de partida não está nas velhas instituições. Já toda a gente sabe que não funcionam, não vale a pena criticá-las. Agora, temos informação ao nosso dispôr como nunca tivemos, e temos os meios tecnológicos mais poderosos para poder aceder a ela. O ponto de partida, agora, é o próprio mundo.

Eu próprio tentei definir esta sensação, esta nova atitude que já despontou. Acho que consegui alguma coisa, lá pelos lados da Biologia, e acho que essa coisa também vai acabar por transvazar para toda a cultura; mas não é exactamente agora o momento. Agora, o momento é outro. A proposta de Álvaro de Campos no seu ULTIMATUM continua tão actual como em 1917, e hoje ainda mais actual. Creio que chegámos àquilo a que se pode chamar o ponto máximo de desadaptação entre a nossa inteligência e os estímulos que o mundo exterior nos dá. Não nos é possível hoje manter a nossa constituição psíquica actual e ter capacidade mental para receber e processar todos os estímulos culturais com os quais a nossa inteligência contacta. E esta situação é insustentável, não é estável e não pode continuar. Mas, se é certo que não pode continuar, o que fazer então?

A nossa constituição psíquica não pode continuar como até hoje. E, ou realizamos um acto de cirurgia mental - Campos fala de uma mutilação - , ou então facilmente enlouqueceremos. A única resposta que encontro está naquilo de que já Campos falava: a despersonalização, a multiplicação das personalidades. Cada um de nós terá de efectuar uma cirurgia mental que consiste em esquartejar aquilo a que chamamos 'personalidade' para passar a sentir de todas as maneiras. Esta heteronimização não passa necessariamente pela criação de heterónimos, embora a criação de heterónimos seja uma das formas de lá chegar. Esta cirurgia mental, esta mutilação, trata-se de uma outração, de uma alter-ação, de um tornar-se outro, para poder sentir de outra maneira - e de todas as maneiras! - , para poder evoluir, mentalmente, em todas as direcções ao mesmo tempo.

Também tentei chegar a um nome para esta atitude. Outrismo? Multimodismo? Multiplismo? Das propostas que me apareceram, pareceu-me mais indicada a de Heteronimismo. Mas, mesmo assim, não soava bem. Parece uma palavra demasiado complicada e obtusa. O importante era a ideia de outro, a ideia de tornar-se outro, de tornar-se diferente daquilo que se já é. Qual não é o meu espanto quando encontro uma pessoa, do outro lado do globo, com um nome perfeito para o caso? ALTERMODERNISMO. É disso que se trata, de ser-se outro. Estava fundada uma nova doutrina, o primeiro grandioso projecto do século XXI, o Novo Paradigma. (Reparem só na incomensurabilidade que há entre o mundo pós-modernista e o mundo altermodernista. Falam uma linguagem completamente diferente.)

Nicolas Bourriaud fala uma outra linguagem. Uma linguagem que é múltipla, em que os diversos mundos que compõem o nosso microcosmos reflectem finalmente os diversos mundos de que é feito o macrocosmos. Estabelecer redes entre esses mundos do nosso microcosmos; identificar as características dessas redes que se estabelecem; procurar desenvolver cada mundo do microcosmos através da transposição de conceitos entre diferentes mundos, pela reapropriação de conceitos; refundar novas bases com os velhos materiais que já existem; ver a história como um todo; compreender e sentir todas as culturas, todas as religiões, todas as filosofias, todas as ideologias; todas elas são grandiosas tarefas que nós, OS ALTERMODERNISTAS vão conseguir fundar durante este novo século. Este é o derradeiro passo que a humanidade precisa para projectar a sua consciência humana para o centro do universo - e não será de estranhar se, entretanto, surgir aí um outro conceito de universidade, porque é disso que a experiência altermodernista se trata: ter no mesmo sítio, na mesma pessoa, no mesmo local, tudo e todos, ao mesmo tempo, voltados para si e estabelecendo infinitas pontes com o mundo.

POSTMODERNISM IS DEAD

wanna know why?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

se as universidades que há não ensinam aquilo que deveriam ensinar, o que se deve fazer?

- Funda-se uma nova universidade

ATITUDE CRÍTICA

referendar ou não referendar: eis a questão

sou completamente contra qualquer referendo que se proponha a decidir se uma liberdade e um direito fundamental de um homem deve ser considerado legal ou não. E sou duplamente contra referendos porque, na maior parte dos casos, só servem para manter as pessoas ocupadas com questões de segunda categoria enquanto os verdadeiros problemas e os verdadeiros crimes passam impunemente despercebidos.
it is rather important that our reason produces all the monsters it can, for us to be aware of their existence and be able to antecipate the ways by which we can avoid them and improve our own consciousness. Imagination always runs faster than the physical reality, and it is quite healthy that it does so; but the kinds of vertiginous transformations we are experiencing now urge us to be even more aware of the terrible leviathans we can give rise to within the tremendous possibilities that we are now unleashing.

sábado, 14 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

o importante não é só partir, também é chegar.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

there's more to life than pop

Hiperbolizar a cultura pop fazendo a apologia de tudo aquilo que ela é, e ainda fazendo crer à força que ela seja muito melhor do que realmente é, é um comportamento de risco que leva à perda irrecuperável de preciosa massa cerebral.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

se o prémio Nobel não fosse um prémio político, antes de mais e acima de tudo, será que o Saramago e o Barack Obama o tinham recebido?

que a bíblia

que a bíblia é uma porcaria na maior parte da sua extensão, já toda a gente sabe. Não precisamos de ter um Saramago a dizer isso. Já os cristãos gnósticos o diziam quando os templários cuspiam em cima do símbolo horrendo que é um cruxifixo com um homem moribundo lá pregado e a desfazer-se. Vamos lá, safa-se aquele Evangelho Segundo S. João, com o início que é tão conhecido. Eu gostava de ver a cara das pessoas quando lhes lessem aquele Evangelho Gnóstico que diz que os discípulos beijavam muitas vezes Jesus, incluindo Maria Madalena, e que esta não o beijava só nas mãos e nos pés, mas também na boca! Já imaginaram as Marias Madalenas do Mundo Inteiro a desatarem a correr para as Igrejas Santíssimas, no meio daquele incenso extático, e começarem a beijar os Santos e as Santas nas mãos, nos pés e na boca?

extrair o sumo

nunca é demais

nunca é demais louvar as grandes virtudes: os morangos com açúcar estão definitivamente irreconhecíveis, incomensuravelmente melhores e sublimemente superiores.

Veredicto:
Temos crítica ao triste estado em que estamos, temos dialéctica frutuosa nascida dos conflitos quotidianos e contemporâneos, temos até crítica ao governo, aos políticos, ao modelo educativo, à falta de liberdade, à prepotência e à casmurrice salazarenta. Declara-se, por unanimidade, que:

TEMOS SERVIÇO PÚBLICO!
se um cientista se esforçar muito, acabará sempre por validar todas as hipóteses que propõe.

sábado, 17 de outubro de 2009

parece que a raça de homem que triunfou ao longo do tempo em que a humanidade esteve presente neste planeta foi aquela que conseguiu desenvolver capacidades científicas. Talvez não seja claro agora, mas o mais provável é que esse seja o caminho mais rápido que a evolução encontrou para podermos chegar à contemplação do nosso potencial artístico tão depressa quanto possível. Talvez teremos a resposta por que tanto ansiamos em breve.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

construtivismo social

pode ser que a ciência seja apenas uma construção individual e social, e não tenha nada que ver com a verdadeira realidade - o que é para nós algo senão um mero fenómeno? - , mas a verdade é que não o sabemos. E, para além disso, nem essa é a questão mais importante: para nós, que habitamos este mundo, a ciência é verdadeira, e o conhecimento científico - pelo menos o conhecimento científico da nossa ciência, da ciência que fazemos - é verdadeiro. E isso, por enquanto, chega.
o que é realmente ridículo é falar-se em fuga de cérebros de Portugal. Não há cérebros nenhuns a fugir de Portugal, o que há, isso sim, são governantes que não investem no desenvolvimento da ciência e da tecnologia para dar condições aos cientistas que se formam em Portugal de progredirem nos seus estudos em Portugal. As universidades (neste momento já nem têm direito à maiúscula inicial) andam nas lonas, e o que surpreende é como ainda não fecharam já todas, e isto mesmo para as da capital; os laboratórios nacionais são o depósito dos dinossauros parasitários que envergonham o nome da ciência e contribuem para a cadaverização do ensino e da investigação científica; os laboratórios produtivos que existem nascem sobretudo de dinheiros privados e onde a competição só se pode caracterizar como sendo darwiniana, que é para não dizer capitalista, e nem aguentam com a sua oferta metade da procura que há; os contratos de trabalho são inexistentes, sem regalias praticamente nenhumas, e com termo certo ou quase-certo, que é o que a precariedade, o novo bicho-papão do século XXI, veio trazer a dezenas e dezenas de licenciados qualificados. O que era um direito antes, e que foi conseguido com um sem-número de lutas e derramamento de sangue, passou agora a ser considerado um privilégio de poucos; os contratos estáveis deram lugar às bolsas e aos recibos verdes; a estabilidade e a qualidade de vida deram lugar à exploração e à insegurança; a natalidade passou a ser uma nova forma de mortalidade; o mundo virou-se completamente do avesso e com o aval consciente ou amorfo de todos; o fim do mundo só pode estar próximo.
eu não me importava nada de ser cientista, se ao menos me pagassem um valor justo pelo trabalho que me dão.
Só gostava de saber quantas crises vão ser precisas para que sa pessoas percebam, de uma vez por todas, que a única opção viável para Portugal está não em aumentar as exportações (como tantos não se cansam de apregoar por aí), mas sim em diminuir as importações. Portugal é um país com uma dimensão pequena, com um mercado igualmente pequeno, e portanto não pode escoar produtos a uma velocidade terrível como nos Estados Unidos. Portugal não tem capital interno - no estado de endividamento em que está - para investir em grandes áreas de inovação. Terá uns bastiões - que são sempre pouquíssimos, e essa é que é a realidade -, com certeza, em instituições científicas que fazem investigação, em alguma investigação original que é paga com a vida dos cientistas que lá trabalham noite e dia, em alguns produtos únicos que terão realmente um factor atractivo para serem exportados; mas nada mais que isso! São exemplos que se contam pelos dedos de uma mão. A grande solução só pode estar na diminuição do volume de importações, na progressiva independência do país face aos esquemas europeus de estagnação da economia local e nacional. Portugal não tem o dinheiro suficiente para investir em áreas que possam competir com economias de massa e capitalismos destruidores de mega-corporações. Só os pequenos negócios, as empresas locais, perfeitamente ligadas e em conexão com a realidade das localidades, com as suas necessidades essenciais que têm de ser satisfeitas, podem alguma vez livrar-nos de importar aquilo que podemos produzir cá dentro. Porque é que não se aposta mais no negócio da cortiça, em utilizar material isolante de cortiça? - é que este produto já provou ser tão bom cá dentro que até é dos poucos em que se pode apostar na exportação (a exportação de produtos como estes, que não são muitos, e nem haveria dinheiro para os manter se fossem muitos, é a única coisa que é exportável com retorno económico, e é aí que se deve apostar competitivamente numa economia capitalista). Porque é que não se aposta nas energias renováveis, especialmente na solar, que é aquela que terá provavelmente o maior potencial em Portugal? Deixariam de ser precisos tantos combustíveis que são comprados ao estrangeiro. Onde é que está a agricultura de qualidade? Agricultura de qualidade é uma pequena agricultura de proximidade que satisfaz as necessidades locais, e consegue assim atingir as pessoas sem a inflação dos preços que o transporte das mercadorias obriga. É preciso uma economia de proximidade, região a região, explorando o potencial de cada região e direccionada e bem adaptada às necessidades e realidades de cada sítio. Sem isso, não vamos lá.

Antes & Depois

Antes:

PROLETÁRIOS DE PORTUGAL, UNI-VOS!


Depois:

DESEMPREGADOS DE PORTUGAL, UNI-VOS!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Viver.

Viver é usar máscaras. Não admira que só os heterónimos se safem.

nós por cá... denunciamos!


...and have an exquisite pleasure in doing that.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Morangos: agora também dentro do prazo?

Só pode ser com perplexidade que se assiste a mais uma temporada (será a centésima?) da série Morangos com Açúcar da TVI. Só outro acontecimento é digno de tamanha perplexidade: a atribuição do prémio Nobel a Barack Obama. Mas se este acontecimento - que à partida podia ser bom - é para lamentar, o lançamento de mais uns Morangos com Açúcar - que à partida seria motivo suficiente para rir durante três meses seguidos - é na verdade para aplaudir. Os muitos tiques que a série teve sempre estão agora bastante desvanecidos, e sobre eles há várias camadas de qualidades que quase os tornam suportáveis.

Isto tem de ser dito: é preciso ter estômago para ter dado por completo a volta a uma escola. Ali, critica-se não só a rigidez militar das escolas portuguesas, mas ainda se faz mais: aponta-se um caminho a seguir - e ele não pode ser outro que não a via artística. É preciso perceber, de uma vez por todas, que o modelo escolar que Portugal e tantos outros países têm está desajustado, está desadaptado à realidade em que nós vivemos, e que não é nem será nunca o modelo a seguir. A tecnologia desenvolve-se cada vez mais, mas parece que ninguém consegue tirar nenhuma conclusão disso. Nós estamos a chegar a um momento da história da humanidade em que o trabalho como o conhecemos vai deixar de existir, simplesmente porque, com o avanço da tecnologia, vamos ter máquinas capazes de executar todos os trabalhos chatos e aborrecidos que são tão necessários para a vida neste planeta. Não são os despedimentos em fábricas de automóveis um grande bem? Claro que são! São lugares que nunca mais irão ser preenchidos porque as máquinas já fazem o trabalho todo! (E que fique bem claro que isto nada tem que ver com despedimentos em nome de neo-liberalismos globalizantes e económicos.) O que temos de perceber é que esta situação é um bem incalculável, e que a culpa disso está nos avanços da tecnologia.

É claro que quando alguém não tem forma de ganhar o seu dinheiro (dê lá por onde der, o problema vai sempre mexer na economia) isso é um mal terrível, toda a gente o sabe. Mas a questão é que a responsabilidade não é do avanço da tecnologia, esse avanço não é mau porque tira emprego; a responsabilidade é dos governantes e dos gestores de empresas que não souberam preparar-se para todas estas mudanças tecnológicas e para as consequências que vão naturalmente decorrer delas. Vão deixar de ser precisas formigas operárias sem qualificações e com baixos salários, e o homem vai finalmente ter o tempo livre para as suas criações artísticas e únicas. É por isso que esta instrução deve começar na escola, e deve lá começar para que as novas gerações se habituem ao tempo livre e o não estranhem, para que as novas gerações sejam mais reivindicativas dos seus direitos contra a ameça dos super-liberalismos económicos, para que não haja paciência nenhuma frente à perda de liberdades com que todos os dias tanta gente nos assedia. Os governantes e os donos das empresas têm de se preparar para a grande mudança que vem aí: é deles a responsabilidade de reformar o sistema de ensino, de favorecer o aparecimento de novas pequenas empresas, de criar universidades e postos de trabalho para toda a gente que vai viver das suas criações artísticas. Os novos Morangos com Açúcar são um ultimato para os Ministros da Educação: adaptem-se enquanto é tempo ou serão ultrapassados! Nós queremos ter tempo livre para poder criar à vontade, e se não nos dão o que é de nosso pleno direito iremos lutar por isso!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

não se é verdadeiramente um modelo sem se ser primeiro um bom actor.

domingo, 4 de outubro de 2009

o grande problema do português parece ser o de querer tanto ser tudo ao mesmo tempo que acaba inevitavelmente por não ser nada. Como está encravado numa ponta da europa, rodeado sobretudo pelo mar - que é uma das formas do infinito - , e como vive num país pequeno demais para os mercados globais, não tem outro remédio senão sonhar. E sonha, sonha, sonha - não sou eu que o digo, é o Cesariny - , e sonha tanto que acaba por vezes por se deixar engolir pelo sonho, como aconteceu com o Pessoa. O problema é que o sonhar tanto meditando no infinito mar azul, o apreciar aquele brilho do sol que bate nas ondas para se devolver por toda a parte, só pode dar em grandes sonhos, e os grandes sonhos são todos irrealizáveis porque a realidade densa e física pesa sempre muito mais longe que a leveza do sonho. Então o português dá em nada, fica com a ideia de que não é nada, de que não consegue nada nem nunca conseguirá, e esquece quem é. Na falta de referência para si mesmo, venera o estrangeiro porque é aquele que, focado apenas no tempo em que é, consegue fazer uma porção de coisas, mesmo se elas forem todas más ou desprezíveis. É esse falso sentimento de que o estrangeiro cumpre mais do que Portugal cumpre que faz com que se substitua o estrangeiro a Portugal. É por isso que ser português é duplamente bom e duplamente difícil: é bom porque se sonha muito, é bom porque se quer tudo; é mau porque não se pode viver no sonho, é mau porque se tem de obrigar o sonho a encolher-se para poder entrar na realidade. O português oscila entre o tudo e o nada, e só quando consegue encontrar entre o nada da realidade o caminho que constrói arduamente para chegar ao tudo é que se cumpre finalmente. O problema é que isso dá muito trabalho, e só é possível com uma generosa dose de heteronímia. Ser tudo ao mesmo tempo é a única forma que há de se deixar de ser nada.

sábado, 3 de outubro de 2009

Amália, hoje?



Precisamos de saudar várias vezes este interessantíssimo projecto português, que nos chega pela mão de alguns dos mais atentos artistas portugueses. Não é por ser pop, embora o ser pop ajude bastante a vender discos; é por ter muito pouco a ver com o fado, e ainda bem. O fado é o lamento dos pobres e a saudade reminescente do céu das ideias do Platão. Não é nada que possa ser usado para dar força aos portugueses do futuro, aqueles que vão cumprir o Quinto Império e puxar a Era de Aquário para o pé de nós mais depressa. A música aqui, a canção, celebra em vez de se lamentar. Não precisamos nada, absolutamente nada, do velho fado para seguirmos em frente; precisamos, isso sim, de coisas como esta que sejam uma celebração da alma portuguesa, da alma universal, da beleza que há no mundo. E só agora é que me apercebo de uma coisa: aquela voz ridícula que tiveram a infelicidade de pôr no início da música (até mesmo o Pedro Abrunhosa canta melhor que aquilo) conta a história do fado. Primeiro, era uma coisa que levava ao raquitismo e à depressão, e agora é encarada como a celebração da alma - não vou dizer de Portugal, mas - do mundo! É finalmente o triunfo do dia sobre a noite! É o triunfo do fado que deixa, finalmente, de ser fado para ser outra coisa muito melhor.

faz somente aquilo sem o qual não és capaz de viver.

a revolução cultural... masculina

a revolução sexual e cultural das mulheres não podia ficar por aqui. Podemos dizer, com Newton, que toda a acção tem sua reacção, igual e de sentido oposto. Foi o que aconteceu. É o que está a acontecer. Era impossível que, da parte dos homens, não houvesse alguma reacção. O papel da mulher alterou-se, o estatuto da mulher já não é o mesmo. As mulheres são agora mais independentes, têm o seu emprego, continuam a ser mães ou podem agora deixar de o ser, e divorciam-se com muito mais facilidade. Já não há casamentos para a vida inteira, e tantos casamentos desfazem-se em pilhas de divórcios. É a contrapartida natural dos tempos. A sexualidade e a satisfação da mulher vêm agora em primeiro lugar. A mulher quer sentir prazer, quer sentir-se viva, quer sentir-se parte da expressão e da produção cultural humana. A mulher quer concretizar a liberdade que sempre foi dela. Os casamentos dão lugar às uniões de facto, nas quais a relação é o verdadeiro pilar fundamental. A realização pessoal, o amor, a profissão, os filhos, o parceiro, são agora a vida. E o homem de hoje não tem melhor remédio senão adaptar-se a isso.

O homem já não manda em casa, o homem de hoje já não pode mandar em casa. Já não é um ser racional, frio e insensível. Dir-se-ia que, se se pode dizer que se observou uma masculinização da mulher (agora independente, confiante, com uma carreira, solteira, sexualmente disponível, livre), observa-se agora a femininização do homem. O homem toma contacto com a lida da casa, é agora chamado a acompanhar os filhos em todas as tarefas e não mais a ajudar a mulher, mas sim a construir uma relação com ela. O homem moderno preocupa-se com a sua aparência, cuida de si, cuida do seu corpo como foi sempre exigido às mulheres, procura a boa forma física, desenvolve um sentido estético na moda. Acabaram-se as mulheres vistosas para encher o olho aos homens. Acabaram-se os homens cinzentos de fato e gravata. Agora, só a cor faz sentido. O metrossexualismo invade as prateleiras das mentes masculinas. A moda já não conhece barreiras. O sentido estético pessoal passa a marcar verdadeiramente o andamento da moda de todas as estações. Agora os homens também usam malas e acessórios. Estarão as diferenças entre os sexos a dissolver-se a olhos vistos?
sem aquele distanciamento histórico que nos permite mais confortavelmente olhar para o passado e detectar logo os padrões que emergem do caos quotidiano, torna-se difícil analisar a época em que vivemos. Será que já podemos caracterizar aquilo que vai ficar conhecido como a primeira década do século XXI?

Tecnologia. A tecnologia está cada vez mais aperfeiçoada e cada vez mais pequena. A complexidade de um simples telemóvel é algo que talvez fosse impensável uns anos atrás. Aumenta a definição da tecnologia, diminui o tamanho, simplificam-se as formas, massifica-se a utilização. Agora estamos rodeados (ou podemos vir a estar) por todos os lados, até em écrans pequenos, ou em plasmas gigantescos, pela televisão, pela internet. Toda a gente quer que estejamos ligados. Podemos tirar fotografias ou fazer filmes com telemóveis. Nunca o grafismo de jogos de computador foi tão avançado. O design instala-se em todos os objectos. A cultura entra-nos porta adentro. A internet massifica-se ainda mais. A informação nunca circula tão rápido. Os motores de busca Google são mais eficientes, as páginas pessoais em Hi5s, Facebooks e MySpaces multiplicam-se, os vídeos navegam cada vez com mais definição no YouTube, os pequenos estados de alma publicam-se em Twitters, e os Blogues conhecem uma diversificação e massificação sem precedentes. O poder virtual torna-se real. A televisão digital, cada vez mais interactiva, vem aí. Cada vez mais temos mais meios à disposição para que possamos escolher o que fazer, como e quando quisermos. Liberdade é a palavra de ordem, expressão individual é o imperativo.

Economia. Vivemos uma era de sucessivos abalos nascidos da inevitável crise do sistema capitalista, a consequência natural de um processo de globalização em que todos dependem de uns poucos que mandam no mundo. As crises económicas levam perigosamente aos cortes orçamentais e à perda das liberdades sociais que foram ganhas com tanto suor e sangue pelos nossos antepassados. O desemprego cresce inexoravelmente fruto do avanço da tecnologia, e da inadequação dos sistemas de ensino para prepararem a nova geração para o mundo futuro. O descontentamento alastra, as pessoas trabalham mais, o trabalho que têm permite uma maior mobilidade mas também é mais precário, os salários são mais baixos, os cortes orçamentais são maiores e abafam a cultura, o descontentamento irrompe em ondas incontroladas de protesto, as pequenas economias soçobram e caem. Estamos reféns dos grandes grupos económicos, e cada vez mais dependentes da união europeia. O património degrada-se e a individualidade das nações ameça dissolver-se. Abrem-se as portas a leste para uma integração económica.

Pequeno Momento Extravasante

Caiu o despotismo... bom, a maioria absoluta do PS. Hurray!!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

inviting this so-called chaos



Deadlines and meetings and contracts all breached
D-days and structure, responsibility
Have to's and need to's, get to's by three
Eleventh hours and upset employees

I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet

Heartburn and headaches and soon-to-be ulcers
Compulsive yearnings non-stop to please others

I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet

All won't be lost if I'm governed by my own innate-ness
The stoplights won't work, I'll get home sound and safe regardless
Won't be mayhem if I'm ruled by my own rule-lessness
My fire won't quell and I'll be harm-free and distress-less (trust me)

Line-towing and helping, expectations-up-to living
Inside-box-obeying, inside-line-coloring

I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet

I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations and return to what I was born to be

sábado, 19 de setembro de 2009

Cultura e natureza



Goldfrapp - A&E

Vivemos para lá do mundo natural. A expressão cultural humana é um prolongamento artificial da natureza. Mas a cultura também é humanizante, e a produção cultural humana humaniza a natureza - isto é, estende para lá do mundo puramente natural da biologia. Os aglomerados humanos, as vilas e as cidades, são tudo formas de humanizar a natureza. Infelizmente, o que se verificou ao longo da história, e o que se continua a verificar, é que se humaniza tanto a natureza que a sua face fica irreconhecível, e tantas vezes destruída. A destruição da natureza durante o seu processo de humanização, ou aculturação ao que é humano, quebra o vínculo biológico que desde o início das espécies nos une ao mundo natural. O tempo deixa de ser cíclico e previsível, como é o da natureza, e passa a ser linear, com uma dinâmica caoticamente oscilante. Mas a verdade é que vivemos num mundo natural, e estamos e somos dominados - quer queiramos ou não - pela nossa natureza biológica, e pelos ciclos do planeta. Se o mais importante foi, em tempos, a imposição da existência à essência, agora parece que é no regresso à essência de cada coisa que está o futuro. Aceitar a nossa natureza biológica, aceitar todas as expressões da nossa natureza biológica com a mínima perturbação vinda do exterior, aceitar a vida e a morte como as voltas cíclicas de um movimento que não pode ser parado: eis a solução. Se a nossa existência é cíclica, então a ela havemos de retornar sempre.

sábado, 12 de setembro de 2009

é preciso ter uma constituição psíquica extremamente saudável e equilibrada para não enlouquecermos de vez num mundo como este.
vivemos na era do assédio. Toda a gente é assediada por alguém ou alguma coisa. A nossa natureza é assediada pela educação tradicional dos nossos pais. A nossa inteligência é assediada pelos professores que nos dão aulas e pelos professores doutores que nos escrevem os livros. A nossa fé é assediada pelos fundamentalismos e pelas religiões em decadência. A nossa atenção é assediada pela publicidade, pelo espalhafato, pelo sensacionalismo barato e mal-cheiroso. A nossa noção do mundo é assediada pelos jornais que são tudo o que quiserem, menos isentos. A nossa vida é assediada pelos patrões que nos querem sugar até ao tutano. A nossa liberdade é assediada pelos políticos que querem votos para chegar ao poder e fazer exactamente o contrário do que apregoaram (ou, quando pior, exactamente aquilo que defendiam!). A nossa sexualidade é assediada por aqueles que preferem um prazer rápido e fácil a outros maiores e mais duradouros. A nossa paz interior é assediada pelos avós que estão sozinhos e têm medo da morte, pelos pais que querem que sejamos o que eles decidiram ser melhor para nós, pelos tios que nunca vemos e que nunca queremos ver, pelos amigos que competem pela nossa confiança e sempre esticam a corda, pelos inimigos que nos querem dar facadas, pelas pessoas que conhecemos e sobretudo pelas pessoas que desconhecemos, pelos anónimos que não nos cedem passagem e não dizem obrigado quando nos mostramos simpáticos. A vida é, despida de roupagens de rei e plebeu, um grande lupanar, um bordel gigantesco, um cabaret-de-coxa-à-mostra, um beco de trancas, onde todos comem, onde todos são comidos, e onde todos vegetam na mesma amorfa insignificância. A vida é uma orgia de influências, um bacanal de favores, um buraco onde se entra por um lado e se sai por outro bem pior. Vão mas é tomar banho!
parece-me que a publicidade tem uma grande força somente quando é sobreposta a imagem à música. Tire-se um destes dois elementos e ela perde substancialmente a sua força. Não são só as palavras que têm uma natureza insidiosa, é toda a presença humana que gera a insídia. Uma imagem, mesmo acompanhada da linguagem escrita, não nos prende a atenção facilmente, e podemos sempre fechar os olhos. Agora, quando se emparelham os dois, temos de fechar os olhos e tapar os ouvidos ao mesmo tempo, e isso já dá mais trabalho. Escusado será dizer que, dada a nossa tradição fortemente católica e repressora da natural expressão da nossa sexualidade, basta suspeitar que há uma pontinha de carne desnuda para logo a nossa atenção se prender com correias de aço. Até nos concertos já não escapamos à porcaria dos anúncios! A única coisa que nos vai valendo é esta publicidade agressiva passar sobretudo na televisão, onde podemos sempre mudar de canal ou desligar a máquina. Mas cuidem-se quando chegar a altura em que teremos publicidade aos magotes a falar, a cantar e em movimento em todo o lado. Aí, o mundo estará perdido.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sem sombra de dúvida é que foram os desenvolvimentos da tecnologia e da ciência que marcaram o desenvolvimento primeiro da espécie humana. E, a bem dizer, existindo nós num corpo e num mundo materiais, não poderia ter sido de outra maneira. Nenhuma revolução mental se faz sem estarem primeiro garantidas as condições materiais mínimas que permitam dar paz material ao espírito que habita cada corpo. Talvez seja por isso - quem sabe se um dia se vem a descobrir - que os neanderthais se foram, e ficámos nós. Mas felizmente não vive só o homem - pelo menos só o homem de hoje - dos alimentos da carne, e portanto, quando forem abertas as portas do espírito, talvez também nós tenhamos de dar a passagem ao homem mais evoluído que usa a tecnologia para se desenvolver a si mesmo e não para impor a autoridade que não tem àqueles que tiverem nascido em condições que não são a sua.
Como o mundo, segundo aquilo que podemos ver, caminha cada vez mais depressa em direcção a um algo que desconhecemos, não é nada difícil notar que as distâncias entre pais e filhos nunca foram tão grandes como agora. A quantidade imensa de transformações que se instala de avós para pais cresce ainda mais de pais para filhos, e os avanços da tecnologia e da ciência são de tal ordem que o difícil é que os pais não se tornem ignorantes do mundo em que os seus filhos vivem.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Os livros proporcionam um meio para a transmissão de ideias que não encontra comparação nas demais formas de expressão... Essas podem ser tão boas ou melhores em matéria de entretenimento, comoção ou provocação de reacção emotivas, mas a palavra impressa continua a ser o meio mais importante para a comunicação espiritual em que se baseia a nossa civilização.

um hino à liberdade no magnífico Os Sete Minutos, de Irving Wallace

domingo, 30 de agosto de 2009

parece-me que a virtude máxima que faz um grande escritor é a de saber mostrar, e ser capaz de pôr por palavras, aqueles aspectos mais recônditos da psique humana de que toda a gente já ouviu falar e que, ainda assim, persiste teimosamente em ignorar. Não é o tempo que faz um escritor ser grande aos olhos dos outros, é apenas a evolução da sociedade.
não há bons ou maus livros; há bons leitores e maus leitores.
um livro é interessante quando possui duas características. Primeiro, a mais importante, é partir de uma premissa interessante e original, de algo que marque a diferença e o cunho pessoal do seu autor. (é impossível não reparar na originalidade das ideias do Saramago, de passarolas voadoras até cegueiras colectivas e jangadas de pedra.) Depois, e a única razão válida para ler um livro até ao fim, é a imprevisibilidade da narrativa. Se conseguimos facilmente adivinhar o que vai acontecer em seguida, então não há nada que nos prenda à leitura de um livro. (o livro tem de saber cativar quem o lê.) Entre estas duas, e a uni-las, está a característica imprescindível - o livro tem de estar bem escrito.
Cada crítico fala sempre em seu próprio nome, e nunca em nome de mais alguém.
Escrever é, para mim, uma forma de me compreender.
Não foram raras as vezes que ouvi dizer que gostar de muitas coisas diferentes ao mesmo tempo pode ser muito mais prejudicial que benéfico a alguém. Que a pessoa que se deixa atrair assim não se consegue focar num só assunto, e, assim, não sabe que caminho tomar para chegar até à sua verdadeira vida. Não me parece que estejam certos. Por muitos que os nossos gostos possam ser, por muito que diferentes áreas nos atraiam, a realidade é sempre diferente e distinta dos nossos sonhos. E vai uma grande distância entre a ideia que nós fazemos daquilo que gostamos e os objectos em que essas ideias estão concretizadas. Assim, fácil será sempre que gostemos muito mais dos nossos sonhos que do concreto e áspero sabor da forma corporizada. Podemos gostar de cinema, ou de ver filmes; mas realizar um filme é tão distinto como produzi-lo, escrevê-lo, vivê-lo, criticá-lo. Gostar de ler é uma coisa, mas escrever romances - ou passar a vida a escrevê-los - é outra coisa bem diferente. Fazer aquilo que se gosta é um prazer natural; mas viver disso já é um problema bem maior e que envolve sobretudo o que em nós há de não-artístico. Direi que o difícil não é propriamente encontrar aquilo de que se gosta - toda a gente gosta de alguma coisa - , o difícil é encontrar um trabalho em que possamos aplicar toda a nossa energia numa tarefa que nos realize. A única resposta? Experiência. Temos de experimentar. Temos de passar por tudo o que exista e se relacione com aquilo de que mais gostamos. Não há outra maneira. Tentativa e erro, é a nossa vida. Não há outra maneira.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

5 vezes 70 x 7

Há já muito tempo que não via um programa na televisão que realmente fizesse pensar. E que fique bem claro: fazer boa comédia é muito mais difícil do que engendrar um dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada. --->Ah, e pelo caminho também vamos ficando a saber o significado de alguns verbos portugueses que são realmente um primor. Para aperalvilhar as noites de seg. a sex.

i don't want cinema, i want LIFE

don't give me cinema, i want LIFE

don't give me cinema, give me LIFE

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

para cima!


Absolutamente extraordinário. Sempre lá em cima, sempre lá no alto; a mostrar que tudo o que é sólido se dissolve no ar, a mostrar que o sonho é tão leve que é capaz de transportar até a mais densa matéria. Os filmes que criticam o mundo em que vivemos são bons, e muito necessários nos tempos em que vivemos; mas os filmes que nos fazem sonhar são ainda mais necessários porque nos enchem de beleza, e nos inspiram a perpetuar essa beleza que sentimos. Todo o UP é um filme profundamente adulto (desenganem-se os que pensam que filmes de animação são filmes para crianças), profundamente consciente do mundo em que vivemos, dos problemas que todos nós temos, e da melhor maneira de os ultrapassarmos. E o melhor é que podemos fazer tudo isto a rir. O riso enquanto força terapêutica, tão fundado na caricatura (mais na caricatura do que no estereótipo, diria), é a forma mais simples de fazer passar facilmente mensagens duras e imagens cruas de aspectos da nossa realidade que apenas muito dificilmente seriam passados em dramas ou tragédias. Atrevo-me a dizer que a Pixar - justa herdeira do legado Disney - está a conseguir levar a magia Disney a um patamar novo, sem dúvida superior, e plenamente adaptado aos tempos de hoje. Assim se prova a força que o desenho animado tem - seja ele em papel ou em pixel.

o elixir da juventude

Então não é que o cartão jovem vai passar a valer até aos 30? Aplauda-se esta medida fantástica. Alegrem-se todos os super-25 e sub-30, vão passar a ser jovens! Finalmente, e depois de tanta alquimia barata, encontrou-se o verdadeiro elixir da juventude. O poder que um papel tem.

Mas esta medida é em muito assisada, e facilmente se percebe porquê. Apesar do que nos mostram nos Morangos com açúcar, os rapazolas que têm hoje 18 anos parecem ter antes 14 ou 15, e os que têm 21-22 (e, nalguns casos, até 23!) parecem não ter mais de 18, e isto na melhor das hipóteses. Por extensão matemática, é claro que quem chega aos 30 só pode (ainda) ser jovem. Trata-se não de mais uma burocracia, trata-se de ajustar à faixa etária a realidade do mundo em que hoje vivemos. A infantilização começa hoje bem cedo, com as novas creches pré-formatantes e com a televisão. Depois, prossegue pelos pais e pela escola, pela universidade e pelo trabalho.

Mas aplaude-se a medida. É bom ser jovem até aos 30, é bom continuar a ser jovem para além dos 30 e nunca entrar nesse mundo terrível dos adultos, dos horários e do trabalho sobrecarregante e mal pago. Bom, se formos a ver bem, se ser jovem significa ter estudado para ter um grau académico e não conseguir arranjar um emprego estável e compensatório (já nem digo estimulante!), viver em casa dos pais porque não se tem dinheiro para ter casa própria, ser pago a recibos verdes, fazer de equilibrista na corda-bamba da precariedade, aturar chefes chatos e incompetentes, ser olhado com desconfiança, e não nos darem ouvidos mesmo nas áreas em que somos especialistas, então compreende-se perfeitamente que agora a juventude se expanda até aos 30. E se a geração 1000€/mês continua assim, é bem possível que passemos a ser jovens até aos 40. Por mim, vou gozando de mais uns descontos até ser grande.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

detesto a maneira como os franceses conseguem encher de filosofia e palavras caras um assunto perfeitamente desinteressante, e fazer dele a coisa mais interessante do mundo. Só revela a sua falta de criatividade e o seu pretensiosismo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Teoria da Comunicação ou Jornalismo?

Parece-me que faz muito pouco sentido tirar um curso de Jornalismo (não é Jornalismo, é Ciências da Comunicação*) para se poder ser jornalista. Ao jornalista não se pedem muitas coisas: tem de escrever em bom português e saber ser o mais claro possível, e tem de saber sintetizar e ser conciso - tem de ir direito à questão. Visto assim, até nem parece muito (aprender a ler, escrever e contar é um dos requisitos para o ensino secundário). O curso só pode ser eminentemente prático. Então o que falta? Falta aprender a estruturar as várias formas de notícia, como funcionam os meandros do Jornalismo e a organização das redacções. Ah, e - claro - a ter um sentido fortemente crítico, e especialmente no que toca a fontes. Dou razão a algo que ouvi do Baptista Bastos há muito tempo: alguém com um curso de História dava um bom jornalista (se repararem, todos os requisitos para ser um bom historiador - excepto os pormenores mais técnicos do jornalismo - são os requisitos para se ser um bom jornalista). Nunca é demais lembrar, e especialmente hoje em dia, que a importantíssima distinção entre fontes primárias e secundárias é algo que devia ser central a um jornalista. Mas vou ainda mais longe que o Baptista Bastos. Acho que qualquer pessoa com um 1º ciclo de Bolonha pode dar um óptimo jornalista, e explico porquê. Aos jornalistas é exigido que saibam tudo sobre a actualidade noticiável. Ora, este pedido é simplesmente idiota. Não é possível a alguém perceber tudo sobre todos os temas da nossa actualidade!! Para se ter um jornalismo de qualidade em que cada notícia apresenta a informação que é mais importante de cada situação, é preciso que quem a faz seja um especialista na matéria. Ora, só existem especialistas depois de haver uma especialização. Por essa razão é que um curso de Jornalismo (aqui sim, Jornalismo; nada de teorias da comunicação) bem estruturado teria de ser sempre um 2º ciclo de Bolonha. Apenas isso. Assim, pessoas que se especializam em Biologia, ou História, ou Economia, ou Filosofia, ou Política, ou Sociologia, ou Literatura, ou outra, num 1º ciclo de Bolonha, aprenderiam, se assim o entenderem, e em apenas dois anos (que chega perfeitamente para a aprendizagem), num 2º ciclo de Bolonha, a construir notícias e a escrever claro acerca da sua especialização.

NOTA:
Apesar de achar isto, não concordo que se acabe de vez com a teoria da comunicação. Simplesmente, o seu lugar no jornalismo é bastante restrito. Essas cadeiras de teoria da comunicação seriam facilmente repartidas entre departamentos de linguística, filosofia, sociologia e literatura. A cada coisa o seu lugar.



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*Note-se o que o cientificismo da nossa época fez às áreas do saber que não são - e é bom repetir aqui, não são - científicas: tudo aquilo que pôde ser feito para tornar algo que não é científico em algo que se aproxima do científico foi feito - colar o rótulo 'científico' em alguma coisa é mais de meio caminho andado para legitimar essa coisa sem se dar ao trabalho de dar uma justificação minimamente lógica para o fazer. Outra noção errada que esta nomenclatura arrasta é a noção de que as notícias podem ser objectivas. Não há uma só notícia que seja objectiva (uma notícia é uma perspectiva, uma selecção dos factos que são, para um dado jornalista, mais relevantes), e especialmente no mundo em que vivemos, tão sujeito a pressões sensacionalistas (quase sempre de base capitalista) e de poder/autoridade (quem manda no que sai no jornal é o grupo económico que o comprou). Na verdade, este nome tão científico para um curso de letras está de acordo com a concepção (errada, pois claro) de que ele tem de ser um curso de teoria da comunicação, e não de jornalismo.

O Objectivo do Cinema

Falar do objectivo do cinema é, antes de mais, achar que o cinema tem um objectivo. Nada de mais errado. O cinema não tem, nem pode ter, nenhum objectivo. O cinema é pura e simplesmente uma expressão da criatividade humana, e a criatividade humana não tem nenhum objectivo.

O homem é um ser criador por natureza, e portanto não pode viver sem criar. Há no homem um instinto natural para a criação, e essa criação é sempre a expressão do seu potencial individual. O objecto criado - seja ele qual for - procede sempre da sua criatividade (ela é a sua causa), mas não surge para um fim definido. Para que surge a ideia de um filme quando um filme não passa de uma ideia? Para nada. Não há qualquer utilidade que lhe possamos apresentar.

O homem tem prazer em criar coisas belas, o homem também tem prazer em contemplar essas coisas belas; mas isso em nada nos diz que uma obra tenha um objectivo, e que esse objectivo é o de dar prazer, ou servir a contemplação de alguém: isso é apenas uma consequência natural do processo criativo. É por isto que é tão difícil justificar a existência das artes numa sociedade doentiamente utilitarista e perversamente capitalista. E, contudo, é esta grande diferença que nos separa dos restantes animais.

Sendo o criar aquilo que de mais natural o homem tem, não é menos verdade que nem todos se podem entregar livremente ao processo artístico. Estamos longe de viver num mundo ideal. E todas essas imposições utilitárias, práticas, e capitalistas, acabam sempre por se sobrepôr. Não está certo. Mas é exactamente por todas essas imposições que o cinema deve ter um objectivo, uma utilidade.

É certo que o cinema tem, de algum modo, ter uma utilidade capitalista. Sem receita para investir - venha ela de onde vier - não há cinema nenhum. Mas é ainda mais importante que o cinema tenha um objectivo, uma finalidade prática, uma utilidade. Note-se que a existência de uma tal utilidade não rebaixa a importância do cinema, mas antes a eleva - porque esta passa a ter não uma, mas duas funções nobres. Qual deve ser então o objectivo ou a função do cinema?

É a existência de uma sociedade com estas características que faz com que o homem permaneça escravo do capitalismo, que o subjuga até ao suicídio da sua própria humanidade. Assim, o cinema não pode ter função mais elevada no mundo em que vivemos que ser orientado num tal sentido que a sua mensagem leve à destruição da sociedade capitalizante que temos. Só assim poderá o homem um dia criar em verdadeira liberdade.

Portanto, apesar do cinema não ter qualquer objectivo ou finalidade, enquanto vivermos no mundo em que vivemos, temos de injectar em cada obra, e da melhor maneira que lhe servir, um pendor anti-capitalizante, o triunfo da arte sobre o peso que esta terrível economia tem sobre nós. Só assim poderemos chegar a um mundo verdadeiramente livre.

terça-feira, 28 de julho de 2009

ninguém entende, e ninguém parece querer entender...

domingo, 28 de junho de 2009

a miséria só é diferente da fama porque é suportável.

sábado, 27 de junho de 2009

toda a gente se admira por Michael Jackson estar morto. Eu só me admiro por ele ter vivido durante tanto tempo! É um milagre autêntico alguém ter sido submetido à tamanha pressão do vedetismo globalizado e ter sobrevivido durante 50 anos! Michael Jackson, assim como a Princesa Diana e tantos outros, vão ficar para a história como as vítimas do desenvolvimento do capitalismo globalizante em que a economia desembocou. A exploração mediática de que foram alvo foi e será sempre desumana e desagregante. Quem se expõe a toda a gente e se comercializa de corpo inteiro até à exaustão assina uma setença de morte. Iluminados presentes de todo o Futuro, ouçam-me! Fiquem onde estão, no anonimato de uma Emily Dickinson, no recanto de um Pessoa, na miséria de um Luiz Pacheco. A fama só vos trará morte e desgraça.
sinceramente, aquele novo single dos Xutos e Pontapés sobre o nosso (suposto) engenheiro Sócrates - que de Sócrates só tem mesmo o nome - só peca por uma coisa: é demasiado suave.
mais que certo e sabido é que a moda, limitada pelos comprimentos de onda da radiação electromagnética que estimulam os nossos órgãos visuais, e em grande parte pela falta de imaginação ou de matéria sobre a qual imaginar dos criadores, tem inevitavelmente de se impôr pela repetição. É claro que esta atitude é mais do que compreensível - já Wilde no seu século XIX concordava que a moda fosse horrível, caso contrário não estariam sempre a mudá-la. Desta vez voltámos ao psicadélico e aos anos 70 do século passado.

Já quem lê filósofos e críticos disto e daquilo se cansou certamente de rótulos pós-modernistas. No pós-modernismo cabe quase tudo, e às vezes, quando faz sol na mais negra noite (ou então quando chove), até os surrealistas. À falta de mais -ismos, os originais, ficamos na caótica situação dos pré- e pós-, situação que até atinge o écran com as prequelas e as sequelas (prequelas?, mais um neologismo?), e agora também os livros - que se dividem agora entre aqueles que são lançados antes do filme ou depois do filme.

Mas de onde é que terá surgido este interesse todo pelos anos 70? Tivemos o despontar do interesse nos anos 60 naquele belíssimo Across the Universe (o regresso dos "bons-contra-os-maus": guerra do Vietnam, guerra do Iraque; mudam-se os nomes dos países mas a guerra é sempre a mesma). Mas o que pegou mesmo foram os anos 70. Tivemos as já mais que batidas riscas horizontais, bicolores e depois multicolores, que agora são levadas ao extremo do psicadélico; a moda das calças largas (excepto lá para os lados dos amantes do hip-hop) deu lugar ao jeito apertadinho emo-inspired, que pode ser considerado uma volta torcida e bem esticada de um metrossexualismo cruzado com um neo-punk de inspiração gótica e gay (andou aí a moda neo-soft-punk de usar uma modesta crista de cabelo gelificado, e às vezes com direito a brinquinho de brilhantes a la chunga da margem sul - não é verdade que os brilhantes fazem lembrar as bolas de espelhos?); e depois veio essa enxurrada de Mamma Mia!'s, (o musical sempre faz o seu dinheiro entre consumidores perdidos e ávidos de endorfinas), o musical ao vivo e o filme (este musical não deve ser assim tão bom, senão tinha sido inventado pelo La Feria), a banda sonora do dito, os gay rights e o Milk, uma certa inspiração Watchmen, o já longínquo álbum da Madonna Confessions on a dance floor em que a senhora se apropria de pelo menos uma melodia ABBA (repararam?); e os óculos escuros com design a la 70's, as cores a la 70's, as camisas e etc. abertas no decote para mostrar a peitaça masculina (desta vez cuidadosa e metrossexualmente rapada, que isso sim é sinal de bípede des-simiado); e quem sabe o que o futuro nos reserva. (onde é que anda o LSD?, já era tempo!)

Mas gabo a esperteza dos economistas e controladores de mercados (aka controladores de pessoas-consumidores): não só aproveitam a moda jovem, que tanta influência tem na sociologia das massas, mas também lançam produtos de que os pais deles gostam (são, na sua sua origem, do tempo deles!), e assim conquistam mais de metade dos sectores etários. Aquilo que acho é que esta é mais uma das estratégias que um capitalismo em desespero arranja para se ir mantendo antes de colapsar por inteiro. Todas as crises que vivemos, para além da sempre presente crise estrutural portuguesa, estão a deixar toda a gente sem dinheiro. E quem não tem dinheiro não compra, não é verdade? Ora, se o sistema capitalista assenta todo no consumo de massas (um consumo de duas ou três pessoas leva qualquer um à falência), e se este consumo abranda, então temos prejuízos (note-se que prejuízo para um investidor é ganhar menos um ou dois milhões do que podia ganhar). Mas se o consumo começa a parar (a não ser nos bens essenciais), então aí as coisas podem ficar muito pior. É todo o sistema capitalista que abana e treme. Se a isto juntarmos as políticas que asseguram a perda de direitos e poder de compra e a ganância dos investidores, temos o final do sistema capitalista à vista. Sempre quero ver como é que estes barões todos vão dar a volta à situação que eles próprios criaram...
Gus van Sant, para além de inteligente e dotado, é um homem espertíssimo. Soube aproveitar o revivalismo 70's que - pasme-se mais ou pasme-se menos! - ainda vivemos para construir esse filme magnífico que é Milk, e que justamente lhe deu alguns óscares, lançando numa embalagem comercial e facilmente comercializável todas as suas características originais e únicas, e sempre pondo acima de tudo o resto a mensagem importantíssima - e plenamente válida e actual - que faz com que, num misto de ficção e documentário, se fundam todas as formas pelas quais não só se faz bom cinema (uma estética), mas sobretudo se instruem as pessoas pela celebração da liberdade de cada um - a melhor forma de concretizar a liberdade de todos.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

toda a gente que pensa se queixa da dificuldade que é viver uma vida e pensar, e nisso em nada diferem do Pessoa ortónimo. Aquilo que eu peço não é a inconsciência das horas que por nós passam, mas apenas tempo para poder pensar naquilo em que me apetece. Pensar é inerente ao ser humano, e ter consciência do que o rodeia a sua natureza. É inevitável reflectir e contrapor. De outra maneira não se explicaria o tamanho trabalho que tem tanta gente em impedir as pessoas de ter pensamentos originais e criadores. Só desenvolvendo a publicidade e o marketing que temos, e os meios de comunicação e uma tecnologia facilmente acessíveis a todos, é que é possível impedir as pessoas de pensar. Se pensar incomoda, só incomoda porque vivemos nesta terra o único e verdadeiro inferno bíblico da corrupção e da luta pelo poder e pelo dinheiro. O mal não está em pensar, o mal está na merda que o pensar descobre.

o difícil é não criar

sendo o ser humano um ser essencial criador, um materializador de formas subtis e abstractas, o difícil é não exercer ele a sua única e mais essencial natureza. Como se explica que haja tão poucos criadores? Bom, é que para criar é preciso ter a mente limpa e livre da poluição quotidiana que entope os nossos dias...

sábado, 20 de junho de 2009

se o fim do mundo existe, ele está mesmo próximo.
quando somos crianças, ninguém acredita em nós porque somos novos demais. quando já não somos crianças, já não são precisas desculpas para não acreditar em nós.
...e nunca mais chega o fim do mundo!

to work

to get a job is the best way to live a miserable life

domingo, 14 de junho de 2009

Se é para falar mal, pelo menos que seja para corrigir.


(bottomline: hoje estou alienadamente irado)
Se um prefácio ou uma introdução a uma obra (e note-se aqui que aquilo que tantas vezes vem referenciado como introdução é, na realidade, a análise crítica de uma obra) só fazem sentido depois de lida a obra, por que raio é que continuam a pô-las no início?! Mais uma vitória deste nosso academismo idiota que vive da falta de sentido com que teimosamente procura envenenar a boa cultura.
O ambiente do adulto não é ambiente de vida para a criança, mas sobretudo uma acumulação de obstáculos que a fazem desenvolver defesas, adaptações deformantes, em que se torna vítima de sugestões.

Maria Montessori



Quem é que defende a publicidade capitalista que ainda temos? É certo que todo o adulto, para chegar a adulto, se tem de submeter a uma série de terríveis e brutais mutilações e deformidades várias.
passamos a vida a correr atrás dos sítios para onde nos empurram contra a nossa vontade.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

a vida vertiginosa que levamos põe-nos em contacto com informações muito diversas, e por vezes contraditórias. Este cada vez maior e mais rápido contacto com culturas muito diferentes vai mostrar que o potencial humano não poderá mais desenvolver-se senão pela despersonalização-se e multiplicação da personalidade de cada um em várias facetas independentes e com uma vida própria capazes de manter a sua individualidade em simultâneo e consonância com a das outras. Esta é a principal mensagem que do futuro nos chegou no ultimatum futurista de Campos.
O grande desafio do nosso século não está em fazer investigação científica ou histórica ou jornalística, o grande desafio está em torná-la suficientemente clara para que possa ser entendida por toda a gente. A investigação puramente académica é obsoleta para o mundo em que ainda vivemos.
tudo o que as pessoas fazem é escrever uma biografia. Podem escrevê-la com palavras, podem escrevê-la com sons ou imagens; mas é ainda uma biografia, e mesmo quando desenvolvem uma matemática. Tudo aquilo que fazemos é uma expressão daquilo que somos, sejamos cientistas ou actores. É impossível ser-se perfeitamente objectivo em relação a um assunto. Não é possível distinguir facto de ficção. Não é possível ao cientista anular a sua influência na experiência que realiza - o próprio método experimental é uma perturbação levada a cabo pelo experimentador. Não é possível ao jornalista ser completamente isento. Não é possível ao historiador relatar o passado tal como ele aconteceu. Existem tantas leis como cientistas, e tantas notícias como jornalistas, e tantas visões do passado como historiadores. Não existem generalizações perfeitamente válidas. A função da ciência não é descobrir a verdade, se é que ela existe, mas apenas encontrar os melhores modelos que explicam as observações feitas. A função do jornalismo é informar acerca do que acontece no mundo, explicar os acontecimentos de uma forma simples para que toda a gente os possa compreender e tomar uma atitude crítica face aos acontecimentos para pôr em relevo o que deles é mais importante. A função da história é procurar mostrar simplesmente aquilo que realmente aconteceu, e não tentar provar teorias filosóficas, económicas ou sociais; os padrões que emergem de um estudo, se eles existirem, devem ser considerados; mas a principal função da pesquisa histórica é a de pôr em evidência os assuntos que no nosso contexto histórico são mais importantes pela reconstrução do modo como eles foram encarados ao longo do tempo e pela análise crítica do seu desenvolvimento. Dadas as características do mundo em que vivemos, é preciso desenvolver uma matéria no sentido mais utilitário que nos é possível; isto é, é preciso desenvolver essa matéria porque o desenvolvimento vai ser útil para a realização de uma obra importante neste mundo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

fazer história - e por história entenda-se o registo daquilo que aconteceu - é procurar padrões no meio de todos os registos sociais, culturais, políticos, económicos, tecnológicos, psicológicos, científicos e naturais a que temos acesso. Portanto, a historiação tem uma semelhança essencial com a atitude científica; e não há melhor maneira de desenvolver essa capacidade historiadora senão estudando o método da ciência pelo qual se correspondem correlações a padrões.
a mente não é uma, é múltipla. Evolui, ao mesmo tempo, em todas as direcções. Multiplica-se interminavelmente criando paradoxos como matemáticas. Não há unidade alguma na mente, apenas diversidade. A mente especializa-se, ao mesmo tempo, em direcções contrárias. Cada especialização da mente possui uma existência individual e independente. Cada nova criação é um novo criador. Cada criador é uma nova fonte de criação.

domingo, 17 de maio de 2009

se vivêssemos num mundo ideal, até a historiação como processo cuja única finalidade é o deleite intelectual seria válida; mas como há tanto para fazer neste mundo até a historiação tem de servir uma orientação: tem de ser útil para melhorar a condição em que vivemos, para propagar e defender os valores em que acreditamos. O processo de historiação deve ser crítico e procurar o que realmente aconteceu, mas os temas que são escolhidos para serem o alvo da investigação devem estar cuidadosamente orientados para uma finalidade prática. Quem disse que a história não serve para nada?

A verdade é que aquilo que se acaba escrevendo resvala sempre para uma situação em que se dá maior importância a determinados aspectos em detrimento de outros, mesmo se caímos em excessos. A questão aqui é que esses excessos, se não são nada importantes para mostrar o que realmente aconteceu ou acontece, são já extremamente importantes para defender as ideias que nos parecem mais válidas no mundo em que vivemos. E não há mal nenhum nisso se o ideal que nos anima é o de levar o mundo a cumprir-se verdadeiramente. O nosso excesso é a única propaganda que merece viver - tem um sentido muito mais elevado do que os interesses capitalistas e mesquinhos da publicidade.

Tudo o Que é Sólido se Dissolve no Ar

domingo, 10 de maio de 2009

A maior coisa que Pessoa fez foi ter sido o que foi.
Eu vivo para mim,
E dentro da minha cabeça.
Quem não sabe o que isso é,
Feche os olhos e arrefeça

Pela termodinâmica simples
De que é feita a equação.
Meu ser é só sensação,
E o trabalho abjecto e simples

Que levo na vida amarra-me,
Como um peso que me devora.
Quando grito é de revolta,
mas o destino agarra-me.

(Eu desespero a toda a hora...)
Sinto-me enlatado -
Estou farto! É desta
Que me vou embora.
Criar é, para mim, na maior parte dos casos, criticar o que os outros criaram. Se é certo que o conjunto de pessoas a que chamamos sociedade nos trata sempre de uma forma coerciva, impedindo que expressemos o nosso único e verdadeiro potencial, não será menos certo que, pelo menos até certo ponto, necessitemos inexoravelmente de um outro, de alguém diferente de nós a partir do qual nos demarcamos como parcela de universo completamente distinta e diferenciada de tudo o resto. Para mim, a crítica é a forma de depuração mais elevada que existe; e criticar é sobretudo procurar as falhas e os erros para os reparar. Às vezes, quando os erros nos parecem gritantes e destituídos do mais leve traço de sentido, a crítica tem de ser feroz e contundente; mas a verdade é que não há outra maneira de chegar até uma boa e eficaz solução. A melhor forma de conquistar alguém parece ser pelo riso e pelo ridículo; e é por isso que reduzir algo à sua forma mais ridícula, ou expôr a face mais risível de um aspecto, é a melhor forma de criticar e contagiar os outros com a crítica. Num mundo em que todos aceitam tudo o que lhes impingem sem perguntas, a única resposta à altura é criticar.
é preciso ter os pés assentes na terra, mas os olhos sempre na imensidão do mar.

sábado, 2 de maio de 2009

o tempo só voa porque passamos a vida inteira a trabalhar.
existe hoje em dia uma imensa e intensa promiscuidade entre o cinema e os livros. (e atenção que não estamos a falar de literatura, estamos a falar de livros.) Golpes de marketing sucessivos em que o lançamento de certos livros acontece à medida que certos filmes são lançados são uma poderosa técnica que se tem apurado ao longo destes últimos anos. A parte boa, que é aquilo que nunca devemos perder de vista, é que podemos muito mais facilmente aprender alguma coisa sobre um dado tema. Oxalá que os livros que nunca chegam a filme não passem, em nome dos outros, a ser esquecidos.

Tell all the Truth but tell it slant

Tell all the Truth but tell it slant -
Success in a Circuit lies
Too bright for our infirm Delight
The Truth's superb surprise
As lightning to the children eased
With explanation kind
The Truth must dazzle gradually
Or every man be blind

Emily Dickinson



Este poema é perfeito. Claro como a água, diz tudo o que é preciso. Quero agradecer à magnífica Lynn Margulis pela sua interessantíssima conferência e pelo grande sentido poético com que nos brindou, e a mim especialmente, ao dar a conhecer a Emily.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

a época em que vivemos ficará para a história por muitos motivos, certamente pelo nível de desenvolvimento da tecnologia a que chegámos, e certamente por muitos mais motivos; mas o que é certo é que não haverá melhor imagem para simbolizar o homem moderno que a figura do coelho branco da Alice no País das Maravilhas de Carroll. Escravo dos relógios de bolso, sempre sem tempo para si e para os outros, nervoso e impaciente como um viciado em coca, protocolar com as desprezantes e desprezíveis instâncias superiores, amorfo e dependente dos grandes senhores e das grandes potências governantes. Foi para isto que séculos e séculos de história se somaram uns aos outros, foi para podermos descansar neste admirável mundo novo de escravos que todas as revoluções, todas as manifestações; que todos os socialismos foram construídos. A vida no século XIX não era tão confortável, mas pelo menos não era tão difícil.


















Quando passo pela estação de metro do Cais do Sodré em Lisboa, deparo-me sempre com uma cena que me faz sentir incrivelmente estúpido e inútil. O coelho branco lá está, a rir-se de mim e da existência escravizada em que vivo. Olha para o relógio e corre: sempre a esperança de não se atrasar, sempre a certeza de estar atrasado. Numa tiragem em série, como uma qualquer outra máquina, e sempre esterilizadamente igual, o coelho branco aparece. Corre, mas nunca sai do mesmo lugar.
Em nome do Lucro, da Civilização, e do Progresso, transformaram o homem numa máquina.
ATENÇÃO!

PROPOSTA DE REVISÃO:


Dadas as actuais e prolongadas condições em que ainda teimam em meter os trabalhadores, propõe-se que, por uma questão de coerência, o dia 1 de Maio se passe a chamar DIA DO PRECÁRIO.
Não se iludam: no mundo em que vivemos é impossível ser cientista e qualquer outra coisa ao mesmo tempo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

se vivêssemos num mundo ideal, tudo faria sentido e tudo teria razão de existir - tudo teria valor pelo simples facto de ser algo único. Como, pelo menos por enquanto, não vivemos num mundo assim, então a única coisa que faz sentido é aquilo que nos permite fazer com que caminhemos mais depressa até esse mundo ideal, whatever the cost. Está aqui justificada a necessidade do sacrifício pessoal em prol de um bem maior, de uma finalidade transcendida. É bom ter sempre presentes as noções que a moral kantiana injectou na nossa cultura, mas não menos importante é compreender que só poderemos chegar a um ponto em que essa moral perfeita exista em todos aplicando, no mundo em que vivemos, noções utilitaristas. Parece mesmo não existir outra maneira de conseguir levar o mundo ao único e verdadeiro mundo.
ninguém compreende verdadeiramente Kafka sem ter antes entrado no mundo do trabalho.

terça-feira, 28 de abril de 2009

ah, esse incontornável mundo novo em que vivemos...

sábado, 11 de abril de 2009

só existe arte a partir do momento em que existe um conceito de arte.

a partir do momento em que deixou de existir um conceito de arte, tudo pôde ser considerado arte.

a partir do momento em que tudo é considerado arte, deixa de haver distinção entre o que é lixo e o que é arte.

a partir do momento em que tudo é considerado arte, nada é arte.

hoje vivemos num mundo em que tudo é considerado arte, mesmo aquilo que não é arte.

a única maneira de sairmos deste impasse é trazer novas formas de arte para a arte.

talvez a última barreira artística seja a barreira entre arte e ciência.

quando a última barreira artística for quebrada, não haverá distinção entre arte e qualquer outra coisa.
to have such a priviledge like Oscar Wilde's success in reaching other people - despite what adversities may come - remains to me one of the most comforting feelings a man can have in his life.
estou-me a cagar para o sucesso, o que quero é tocar as pessoas.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

não há nenhum mal em arranjar um emprego por cunha, contanto que seja por mérito.
hoje em dia não se encontram empregos, arranjam-se cunhas.
o futuro é completamente imprevisível.

segunda-feira, 30 de março de 2009

vivo na época certa, mas no momento errado.

segunda-feira, 23 de março de 2009

fazer arte pela própria arte e não por um objectivo muito maior é como ter gozo em masturbar-se para sentir melhor o amor.
os pivots de televisão dariam todos maus poetas porque parece estar neles ausente aquela música cadenciada de um discurso em perfeita divisão métrica. O que é ainda mais caricato é que os actores que se emprestam a um poema também se esforçam continuamente por deturpar o seu sentido nas dissonâncias em que afogam os poemas que dizem.

-Os poemas não são para serem ditos. Os poemas são para serem interpretados.
-O poema é uma encenação, o poema é todo um teatro à espera de ser representado.
-O actor é o único que é capaz de dar vida ao poema.
-A interpretação de um poema deve existir para melhor dar a conhecer o seu sentido ou os seus múltiplos sentidos a quem o lê e o escuta.
-A melhor maneira de tornar um poema inteligível é respeitar a métrica intrínseca ao próprio poema e quase nunca o espaço que separa um verso de outro.
é impossível perder a consciência da vida uma vez que ela tenha despertado em nós.

domingo, 22 de março de 2009

a minha intuição diz-me vezes sem conta que a vida não pode ser só isto.

my mind tells me over and over that life cannot be only this.
o que é preciso não é acabar com as élites. O que é preciso é fazer com que as élites se expandam até incluirem toda a gente.
como é que é possível que alguém se sinta bem a expressar as criações da sua imaginação quando há tanta gente que não o pode fazer por viver na miséria?!

sábado, 21 de março de 2009

Se o que nos interessa é a evolução da humanidade, então as obras mais elevadas são aquelas que têm a maior dimensão pedagógica - c'est à dire, aquelas que verificam as três características da obra de criação anarquista. Se o que nos interessa é a expressão do potencial criativo e individual, então as obras mais elevadas são aquelas onde mais (em extensão e profundidade) e melhor (da forma mais clara e fiel) esse potencial criativo é concretizado. Se o que nos interessa é a qualidade artística, então as obras mais elevadas são aquelas onde o artista mais se aproxima do seu conceito de beleza. Se o que nos interessa é a originalidade artística, então as obras mais elevadas são aquelas onde o artista rompe mais com os paradigmas estéticos vigentes. O importante é que se defina primeiro qual o critério ou qual o objectivo que preside à criação de uma obra - só a partir daí é que é possível analisá-la.
O que me realmente interessa numa obra não é a sua mensagem; é apenas a sua proximidade ao ideal anarquista. Expressar o potencial criativo em plena liberdade pode ser um ideal elevado, mas muito mais elevado é o ideal de procurar, com uma obra, indicar um caminho prático que outros possam seguir para também se libertarem e expressarem as suas criações em liberdade. Portanto, o que mais me interessa numa obra é a sua dimensão pedagógica.
A economia capitalista que tão bem conhecemos encontra-se à beira de um colapso. Como ela foi globalizada, o colapso será global. Que a economia capitalista em que nos encontramos iria mais tarde ou mais cedo colapsar, isso já sabíamos. Agora, o que realmente se ignora é que o desabamento da economia virá como a ocasião perfeita para finalmente instaurarem uma Nova Ordem Social - que é um nome pomposo para apresentar uma neo-ditadura da forma mais agradável e inofensiva. Estamos lentamente a resvalar para uma nova forma de escravidão, que é a anestesia colectiva. A anestesia colectiva é aquilo que se consegue quando ao culto de imediato e da produtividade se juntam instituições-fachada para dar a aparência de que a ordem é benéfica para a evolução da humanidade, técnicas de marketing e estratégias publicitárias para injectar ideias que poluem a mente das pessoas e as impedem de pensar, meios de comunicação cuja principal função é causar sensacionalismos e asfixiar o cérebro das pessoas com informação perfeitamente irrelevante, inútil e, em muitos casos, errada; e ainda um sistema educativo alienante onde se premeia a reprodução exacta de objectos artificiais em vez da expressão individual da criatividade de cada um. Se vier a existir algum fim para o mundo que conhecemos, será este.
o estranho não é que o mundo se encontre à beira do colapso económico, o estranho é que ninguém note nisso.

sexta-feira, 20 de março de 2009

por mais que tentem vai ser sempre impossível vergar-me a capitalismos mal-fundamentados e escravidões desumanas.

domingo, 15 de março de 2009

extraordinary












avé Alan Moore - that's all I can say...

quarta-feira, 11 de março de 2009

quem é que, no seu perfeito juízo, se vai instruir nas artes da representação para depois ganhar a vida a fazer telenovelas?!

terça-feira, 10 de março de 2009

a poesia não me interessa para nada se não conseguir encontrar um pouco mais de sentido neste mundo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

a vida moderna que todos nós levamos arrasta-nos para o trabalho e afasta-nos do lazer. Uma das maiores conquistas do homem foi, sem sombra de dúvida, a existência do tempo livre - um tempo em que cada um pode fazer aquilo que mais lhe apetecer. Agora, tudo isso resvala e ameaça ficar soterrado pela voracidade do Progresso e da Ciência, em nome do Capitalismo e da Produtividade. É por isso que aqui se firma e reafirma:

O TRABALHO É MALÉFICO
O TRABALHO CORRÓI O SER
O TRABALHO TEM DE SER BANIDO DA HUMANIDADE
SÓ TRABALHA QUEM NÃO TEM DINHEIRO PARA NÃO TRABALHAR
NINGUÉM NO SEU PERFEITO JUÍZO TEM AMOR AO TRABALHO
O TRABALHO É A EXPLORAÇÃO QUE A GANÂNCIA FAZ À IGNORÂNCIA
A GANÂNCIA É A FORMA MAIS MESQUINHA DE IGNORÂNCIA QUE EXISTE
A IGNORÂNCIA É UMA DEFORMIDADE CULTURAL DO HOMEM INFERIOR
O OBJECTIVO DA HUMANIDADE É DESTRUIR A IGNORÂNCIA

domingo, 8 de março de 2009

odeioodeioodeio todo o trabalho imposto.

domingo, 1 de março de 2009

Breve lista de pessoas que detestaram a educação que os obrigaram a ter

- Agostinho da Silva
- Alexander Fleming
- Carl von Linné
- Charles Darwin
- Fernando Pessoa
- Hermann Hesse
- Louis Pasteur
- Luiz Pacheco
- Pablo Picasso

(em constante e crescente actualização)

the best cartoon ever







sábado, 28 de fevereiro de 2009

human.

Parece-me importantíssimo reflectir naquilo que o título da nova canção dos The Killers desperta em mim. Há tanto tempo que as pessoas perguntam se o homem é naturalmente bom ou naturalmente mau, ou como é que nós - aquele nós que engloba a humanidade inteira - pudemos ser capazes de atrocidades como o holocausto, que já a pergunta me irrita profundamente por estar completamente desadaptada aos tempos de hoje. Nenhum homem é completamente bom - ou capaz de fazer o bem - , nem completamente mau - ou capaz de fazer o mal. Todo e qualquer ser humano tem a luz e a sombra dentro de si. Portanto, essa questão não interessa para nada. É uma perda de tempo. Nós deveríamos estar todos era a perguntar-nos se somos humans ou dancers! That's the thing that really matters. Será que somos apenas um agregado de átomos e partículas subatómicas que fazem as células que comandam o nosso corpo ou será que somos qualquer coisa maior e mais importante do que isso? Somos corpos que se movem, entes psíquicos que passam por diversos estádios psicológicos ou somos gente que quer é dançar a dança da vida na sua criação artística independente e original? Somos trabalhadores, operários, soldados nesta fábrica de produção humana em contínuo perpetuando elites de poucos e misérias de muitos ou somos entes culturais e espirituais com aspirações muito mais profundas e abrangentes do que essas? Queremos andar pela vida ou dançar por ela adentro? Ter a consciência desta questão - esta sim a verdadeira questão, a questão realmente importante, a questão do século XXI - é já andar um século para a frente, é já pertencer ao futuro. Viver não é nem será nunca sinónimo de trabalhar. Viver é criar, e só havendo o espaço para que as pessoas criem é que se pode realmente viver. A pobreza e a miséria em que tanta gente vive - sem tecto e sem comida, sem família, sem amigos - não é o que de mais terrível existe; o terror absoluto é essas pessoas não terem espaço para se desenvolverem intelectualmente, não terem à disposição os meios pelos quais se tornariam ímpares e se auto-realizariam. Negar isso é fazer algo ainda pior que qualquer holocausto: é obrigar alguém a viver uma tortura incomparável, morosa, subtil, refinada, e lenta, até que o corpo não tenha outra solução senão suicidar-se desta existência submissa que o devora. Não é o modo de vida burguês que se tem de destruir: o que se tem realmente de fazer é trazer esse modo de vida para toda a gente, e o resto é conversa.