segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Zigmunt Bauman: O que quer que as universidades façam, elas não conseguirão jamais pôr um fim à curiosidade humana, que talvez tenha de sair da academia para se satisfazer. Ainda tenho o meu escritório na Universidade de Leeds, mas mal posso reconhecer a universidade da qual saí há poucos anos, tal a velocidade da mudança. Os nomes aparecem e desaparecem das portas, as pessoas são classificadas de acordo com o projecto em que estão engajadas no momento, mas tudo é tão a curto prazo! Cambridge provavelmente ainda é diferente.
Se se pensa nas limitações que a organização universitária hoje impõe ao desenvolvimento do pensamento livre, basta olhar para o que acontece com a filosofia e a sociologia tal como são praticadas nos departamentos universitários e em outros "locais de autoridade" (...) Cada uma dessas disciplinas académicas se pretende de posse de grupos distintos de "dados primários", e os processa, interpreta, verifica e refuta de maneiras diferentes. Dominar o cânone tanto da sociologia como da filosofia e adquirir credenciais oficialmente reconhecidas e confirmadas em cada uma delas toma todo o tempo dos estudantes universitários - e a competência em uma dessas disciplinas académicas raramente é exigida para se adquirir o grau na outra.
Posso entender a preocupação dos sociólogos académicos com a circunscrição, as barreiras e a defesa de suas possessões contra os competidores na obtenção do dinheiro das fundações e do governo, mas o que não podemos esquecer é que essa preocupação se origina na realidade da vida académica e não na lógica da experiência humana que a sociologia é chamada a servir.
entrevista a Zigmunt Bauman, sociólogo humanista e pensador da era pós-modernista
sábado, 26 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
altermodernism by nicolas bourriaud
a Calecute de hoje é a história da humanidade. Temos de navegar contra as ondas de multinacionais globalizantes, monstruosidades super-burocratizadas e legislações flibusteiras de governantes piratas brandindo as espadas da inflação. É a guerra da informação, e as trocas comerciais fazem-se agora no acesso a ela. Os mares nunca dantes navegados são os da imaginação, e precisamos de descobridores aptos para inventar novos mundos no nosso mundo, e para espalhar as especiarias que tanto sabor dão à comida do espírito.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Rica vida, esta. Nem um Orwell, nem um Huxley, nem um Kafka, nem sequer um Pessoa, podiam ter previsto como a Civilização Triunfante iria conquistar, em definitivo, toda o pedaço de terra habitável com o seu asfalto cinzento-chumbo. Por cima das nossas cabeças, a Modernidade pesa.
domingo, 13 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
SOCIALISM IS DEAD
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
ALTER-MODERNISMO
Qualquer pessoa que fique a conhecer o choque pós-modernista que houve, com novas interpretações que valeram para a historiografia, a arte, a literatura, a análise conceptual, e até mesmo para o modo de olhar para a ciência; qualquer pessoa que esteja atenta a esse abalo sísmico que a desconstrução provocou, que o questionamento das normas instituídas, que as revoltas do Maio'68 significaram, que a queda do Muro de Berlim simbolizou; qualquer pessoa pode notar que esse espírito crítico, essa atitude crítica contra tudo e contra todos, essa inconformidade demolidora e arrasadoras de barreiras arrastou; tudo isto, qualquer pessoa pode notar que já não é bem o mundo em que vivemos. A grande noção de progresso, a exaltação do conceito de força, os sonhos modernistas de deixar a ciência conduzir o avanço da humanidade caíram por terra. Tivemos uma guerra mundial, tivemos darwinismos sociais perversos, eugenias medonhas, confrontos raciais e holocaustos, tivemos desabamentos económicos e grandes depressões, tivemos outra guerra mundial, tivemos revoluções e contra-revoluções na Rússia e na China; nada disso mudou o mundo para melhor. E a atitude pós-modernista veio pôr tudo em causa. Casaram-se todas as dúvidas com todas as certezas. Mas hoje, do princípio do século XXI, as coisas já não são assim. Novas possibilidades tecnológicas despontam, e novos perigos globalizadores, uniformizados e anuladores de todas as diferenças naturais e humanas despontam. Alguma coisa mudou, e a tecnologia para isso muito contribuíu. A chamada Web 2.0 levou a isso. Agora, o ponto de partida não está nas velhas instituições. Já toda a gente sabe que não funcionam, não vale a pena criticá-las. Agora, temos informação ao nosso dispôr como nunca tivemos, e temos os meios tecnológicos mais poderosos para poder aceder a ela. O ponto de partida, agora, é o próprio mundo.
Eu próprio tentei definir esta sensação, esta nova atitude que já despontou. Acho que consegui alguma coisa, lá pelos lados da Biologia, e acho que essa coisa também vai acabar por transvazar para toda a cultura; mas não é exactamente agora o momento. Agora, o momento é outro. A proposta de Álvaro de Campos no seu ULTIMATUM continua tão actual como em 1917, e hoje ainda mais actual. Creio que chegámos àquilo a que se pode chamar o ponto máximo de desadaptação entre a nossa inteligência e os estímulos que o mundo exterior nos dá. Não nos é possível hoje manter a nossa constituição psíquica actual e ter capacidade mental para receber e processar todos os estímulos culturais com os quais a nossa inteligência contacta. E esta situação é insustentável, não é estável e não pode continuar. Mas, se é certo que não pode continuar, o que fazer então?
A nossa constituição psíquica não pode continuar como até hoje. E, ou realizamos um acto de cirurgia mental - Campos fala de uma mutilação - , ou então facilmente enlouqueceremos. A única resposta que encontro está naquilo de que já Campos falava: a despersonalização, a multiplicação das personalidades. Cada um de nós terá de efectuar uma cirurgia mental que consiste em esquartejar aquilo a que chamamos 'personalidade' para passar a sentir de todas as maneiras. Esta heteronimização não passa necessariamente pela criação de heterónimos, embora a criação de heterónimos seja uma das formas de lá chegar. Esta cirurgia mental, esta mutilação, trata-se de uma outração, de uma alter-ação, de um tornar-se outro, para poder sentir de outra maneira - e de todas as maneiras! - , para poder evoluir, mentalmente, em todas as direcções ao mesmo tempo.
Também tentei chegar a um nome para esta atitude. Outrismo? Multimodismo? Multiplismo? Das propostas que me apareceram, pareceu-me mais indicada a de Heteronimismo. Mas, mesmo assim, não soava bem. Parece uma palavra demasiado complicada e obtusa. O importante era a ideia de outro, a ideia de tornar-se outro, de tornar-se diferente daquilo que se já é. Qual não é o meu espanto quando encontro uma pessoa, do outro lado do globo, com um nome perfeito para o caso? ALTERMODERNISMO. É disso que se trata, de ser-se outro. Estava fundada uma nova doutrina, o primeiro grandioso projecto do século XXI, o Novo Paradigma. (Reparem só na incomensurabilidade que há entre o mundo pós-modernista e o mundo altermodernista. Falam uma linguagem completamente diferente.)
Nicolas Bourriaud fala uma outra linguagem. Uma linguagem que é múltipla, em que os diversos mundos que compõem o nosso microcosmos reflectem finalmente os diversos mundos de que é feito o macrocosmos. Estabelecer redes entre esses mundos do nosso microcosmos; identificar as características dessas redes que se estabelecem; procurar desenvolver cada mundo do microcosmos através da transposição de conceitos entre diferentes mundos, pela reapropriação de conceitos; refundar novas bases com os velhos materiais que já existem; ver a história como um todo; compreender e sentir todas as culturas, todas as religiões, todas as filosofias, todas as ideologias; todas elas são grandiosas tarefas que nós, OS ALTERMODERNISTAS vão conseguir fundar durante este novo século. Este é o derradeiro passo que a humanidade precisa para projectar a sua consciência humana para o centro do universo - e não será de estranhar se, entretanto, surgir aí um outro conceito de universidade, porque é disso que a experiência altermodernista se trata: ter no mesmo sítio, na mesma pessoa, no mesmo local, tudo e todos, ao mesmo tempo, voltados para si e estabelecendo infinitas pontes com o mundo.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
referendar ou não referendar: eis a questão
sábado, 14 de novembro de 2009
sábado, 31 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
there's more to life than pop
sábado, 24 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
que a bíblia
nunca é demais
Veredicto:
Temos crítica ao triste estado em que estamos, temos dialéctica frutuosa nascida dos conflitos quotidianos e contemporâneos, temos até crítica ao governo, aos políticos, ao modelo educativo, à falta de liberdade, à prepotência e à casmurrice salazarenta. Declara-se, por unanimidade, que:
TEMOS SERVIÇO PÚBLICO!
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
construtivismo social
terça-feira, 13 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Morangos: agora também dentro do prazo?
Isto tem de ser dito: é preciso ter estômago para ter dado por completo a volta a uma escola. Ali, critica-se não só a rigidez militar das escolas portuguesas, mas ainda se faz mais: aponta-se um caminho a seguir - e ele não pode ser outro que não a via artística. É preciso perceber, de uma vez por todas, que o modelo escolar que Portugal e tantos outros países têm está desajustado, está desadaptado à realidade em que nós vivemos, e que não é nem será nunca o modelo a seguir. A tecnologia desenvolve-se cada vez mais, mas parece que ninguém consegue tirar nenhuma conclusão disso. Nós estamos a chegar a um momento da história da humanidade em que o trabalho como o conhecemos vai deixar de existir, simplesmente porque, com o avanço da tecnologia, vamos ter máquinas capazes de executar todos os trabalhos chatos e aborrecidos que são tão necessários para a vida neste planeta. Não são os despedimentos em fábricas de automóveis um grande bem? Claro que são! São lugares que nunca mais irão ser preenchidos porque as máquinas já fazem o trabalho todo! (E que fique bem claro que isto nada tem que ver com despedimentos em nome de neo-liberalismos globalizantes e económicos.) O que temos de perceber é que esta situação é um bem incalculável, e que a culpa disso está nos avanços da tecnologia.
É claro que quando alguém não tem forma de ganhar o seu dinheiro (dê lá por onde der, o problema vai sempre mexer na economia) isso é um mal terrível, toda a gente o sabe. Mas a questão é que a responsabilidade não é do avanço da tecnologia, esse avanço não é mau porque tira emprego; a responsabilidade é dos governantes e dos gestores de empresas que não souberam preparar-se para todas estas mudanças tecnológicas e para as consequências que vão naturalmente decorrer delas. Vão deixar de ser precisas formigas operárias sem qualificações e com baixos salários, e o homem vai finalmente ter o tempo livre para as suas criações artísticas e únicas. É por isso que esta instrução deve começar na escola, e deve lá começar para que as novas gerações se habituem ao tempo livre e o não estranhem, para que as novas gerações sejam mais reivindicativas dos seus direitos contra a ameça dos super-liberalismos económicos, para que não haja paciência nenhuma frente à perda de liberdades com que todos os dias tanta gente nos assedia. Os governantes e os donos das empresas têm de se preparar para a grande mudança que vem aí: é deles a responsabilidade de reformar o sistema de ensino, de favorecer o aparecimento de novas pequenas empresas, de criar universidades e postos de trabalho para toda a gente que vai viver das suas criações artísticas. Os novos Morangos com Açúcar são um ultimato para os Ministros da Educação: adaptem-se enquanto é tempo ou serão ultrapassados! Nós queremos ter tempo livre para poder criar à vontade, e se não nos dão o que é de nosso pleno direito iremos lutar por isso!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
Amália, hoje?
Precisamos de saudar várias vezes este interessantíssimo projecto português, que nos chega pela mão de alguns dos mais atentos artistas portugueses. Não é por ser pop, embora o ser pop ajude bastante a vender discos; é por ter muito pouco a ver com o fado, e ainda bem. O fado é o lamento dos pobres e a saudade reminescente do céu das ideias do Platão. Não é nada que possa ser usado para dar força aos portugueses do futuro, aqueles que vão cumprir o Quinto Império e puxar a Era de Aquário para o pé de nós mais depressa. A música aqui, a canção, celebra em vez de se lamentar. Não precisamos nada, absolutamente nada, do velho fado para seguirmos em frente; precisamos, isso sim, de coisas como esta que sejam uma celebração da alma portuguesa, da alma universal, da beleza que há no mundo. E só agora é que me apercebo de uma coisa: aquela voz ridícula que tiveram a infelicidade de pôr no início da música (até mesmo o Pedro Abrunhosa canta melhor que aquilo) conta a história do fado. Primeiro, era uma coisa que levava ao raquitismo e à depressão, e agora é encarada como a celebração da alma - não vou dizer de Portugal, mas - do mundo! É finalmente o triunfo do dia sobre a noite! É o triunfo do fado que deixa, finalmente, de ser fado para ser outra coisa muito melhor.
a revolução cultural... masculina
O homem já não manda em casa, o homem de hoje já não pode mandar em casa. Já não é um ser racional, frio e insensível. Dir-se-ia que, se se pode dizer que se observou uma masculinização da mulher (agora independente, confiante, com uma carreira, solteira, sexualmente disponível, livre), observa-se agora a femininização do homem. O homem toma contacto com a lida da casa, é agora chamado a acompanhar os filhos em todas as tarefas e não mais a ajudar a mulher, mas sim a construir uma relação com ela. O homem moderno preocupa-se com a sua aparência, cuida de si, cuida do seu corpo como foi sempre exigido às mulheres, procura a boa forma física, desenvolve um sentido estético na moda. Acabaram-se as mulheres vistosas para encher o olho aos homens. Acabaram-se os homens cinzentos de fato e gravata. Agora, só a cor faz sentido. O metrossexualismo invade as prateleiras das mentes masculinas. A moda já não conhece barreiras. O sentido estético pessoal passa a marcar verdadeiramente o andamento da moda de todas as estações. Agora os homens também usam malas e acessórios. Estarão as diferenças entre os sexos a dissolver-se a olhos vistos?
Tecnologia. A tecnologia está cada vez mais aperfeiçoada e cada vez mais pequena. A complexidade de um simples telemóvel é algo que talvez fosse impensável uns anos atrás. Aumenta a definição da tecnologia, diminui o tamanho, simplificam-se as formas, massifica-se a utilização. Agora estamos rodeados (ou podemos vir a estar) por todos os lados, até em écrans pequenos, ou em plasmas gigantescos, pela televisão, pela internet. Toda a gente quer que estejamos ligados. Podemos tirar fotografias ou fazer filmes com telemóveis. Nunca o grafismo de jogos de computador foi tão avançado. O design instala-se em todos os objectos. A cultura entra-nos porta adentro. A internet massifica-se ainda mais. A informação nunca circula tão rápido. Os motores de busca Google são mais eficientes, as páginas pessoais em Hi5s, Facebooks e MySpaces multiplicam-se, os vídeos navegam cada vez com mais definição no YouTube, os pequenos estados de alma publicam-se em Twitters, e os Blogues conhecem uma diversificação e massificação sem precedentes. O poder virtual torna-se real. A televisão digital, cada vez mais interactiva, vem aí. Cada vez mais temos mais meios à disposição para que possamos escolher o que fazer, como e quando quisermos. Liberdade é a palavra de ordem, expressão individual é o imperativo.
Economia. Vivemos uma era de sucessivos abalos nascidos da inevitável crise do sistema capitalista, a consequência natural de um processo de globalização em que todos dependem de uns poucos que mandam no mundo. As crises económicas levam perigosamente aos cortes orçamentais e à perda das liberdades sociais que foram ganhas com tanto suor e sangue pelos nossos antepassados. O desemprego cresce inexoravelmente fruto do avanço da tecnologia, e da inadequação dos sistemas de ensino para prepararem a nova geração para o mundo futuro. O descontentamento alastra, as pessoas trabalham mais, o trabalho que têm permite uma maior mobilidade mas também é mais precário, os salários são mais baixos, os cortes orçamentais são maiores e abafam a cultura, o descontentamento irrompe em ondas incontroladas de protesto, as pequenas economias soçobram e caem. Estamos reféns dos grandes grupos económicos, e cada vez mais dependentes da união europeia. O património degrada-se e a individualidade das nações ameça dissolver-se. Abrem-se as portas a leste para uma integração económica.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
inviting this so-called chaos
Deadlines and meetings and contracts all breached
D-days and structure, responsibility
Have to's and need to's, get to's by three
Eleventh hours and upset employees
I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet
Heartburn and headaches and soon-to-be ulcers
Compulsive yearnings non-stop to please others
I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet
All won't be lost if I'm governed by my own innate-ness
The stoplights won't work, I'll get home sound and safe regardless
Won't be mayhem if I'm ruled by my own rule-lessness
My fire won't quell and I'll be harm-free and distress-less (trust me)
Line-towing and helping, expectations-up-to living
Inside-box-obeying, inside-line-coloring
I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations but the shoes upon my feet
I want to be naked running through the streets
I want to invite this so-called chaos that you think I dare not be
I want to be weightless flying through the air
I want to drop all these limitations and return to what I was born to be
sábado, 19 de setembro de 2009
Cultura e natureza
Goldfrapp - A&E
Vivemos para lá do mundo natural. A expressão cultural humana é um prolongamento artificial da natureza. Mas a cultura também é humanizante, e a produção cultural humana humaniza a natureza - isto é, estende para lá do mundo puramente natural da biologia. Os aglomerados humanos, as vilas e as cidades, são tudo formas de humanizar a natureza. Infelizmente, o que se verificou ao longo da história, e o que se continua a verificar, é que se humaniza tanto a natureza que a sua face fica irreconhecível, e tantas vezes destruída. A destruição da natureza durante o seu processo de humanização, ou aculturação ao que é humano, quebra o vínculo biológico que desde o início das espécies nos une ao mundo natural. O tempo deixa de ser cíclico e previsível, como é o da natureza, e passa a ser linear, com uma dinâmica caoticamente oscilante. Mas a verdade é que vivemos num mundo natural, e estamos e somos dominados - quer queiramos ou não - pela nossa natureza biológica, e pelos ciclos do planeta. Se o mais importante foi, em tempos, a imposição da existência à essência, agora parece que é no regresso à essência de cada coisa que está o futuro. Aceitar a nossa natureza biológica, aceitar todas as expressões da nossa natureza biológica com a mínima perturbação vinda do exterior, aceitar a vida e a morte como as voltas cíclicas de um movimento que não pode ser parado: eis a solução. Se a nossa existência é cíclica, então a ela havemos de retornar sempre.
sábado, 12 de setembro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
um hino à liberdade no magnífico Os Sete Minutos, de Irving Wallace
domingo, 30 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
5 vezes 70 x 7
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
para cima!
o elixir da juventude
Mas esta medida é em muito assisada, e facilmente se percebe porquê. Apesar do que nos mostram nos Morangos com açúcar, os rapazolas que têm hoje 18 anos parecem ter antes 14 ou 15, e os que têm 21-22 (e, nalguns casos, até 23!) parecem não ter mais de 18, e isto na melhor das hipóteses. Por extensão matemática, é claro que quem chega aos 30 só pode (ainda) ser jovem. Trata-se não de mais uma burocracia, trata-se de ajustar à faixa etária a realidade do mundo em que hoje vivemos. A infantilização começa hoje bem cedo, com as novas creches pré-formatantes e com a televisão. Depois, prossegue pelos pais e pela escola, pela universidade e pelo trabalho.
Mas aplaude-se a medida. É bom ser jovem até aos 30, é bom continuar a ser jovem para além dos 30 e nunca entrar nesse mundo terrível dos adultos, dos horários e do trabalho sobrecarregante e mal pago. Bom, se formos a ver bem, se ser jovem significa ter estudado para ter um grau académico e não conseguir arranjar um emprego estável e compensatório (já nem digo estimulante!), viver em casa dos pais porque não se tem dinheiro para ter casa própria, ser pago a recibos verdes, fazer de equilibrista na corda-bamba da precariedade, aturar chefes chatos e incompetentes, ser olhado com desconfiança, e não nos darem ouvidos mesmo nas áreas em que somos especialistas, então compreende-se perfeitamente que agora a juventude se expanda até aos 30. E se a geração 1000€/mês continua assim, é bem possível que passemos a ser jovens até aos 40. Por mim, vou gozando de mais uns descontos até ser grande.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Teoria da Comunicação ou Jornalismo?
NOTA:
Apesar de achar isto, não concordo que se acabe de vez com a teoria da comunicação. Simplesmente, o seu lugar no jornalismo é bastante restrito. Essas cadeiras de teoria da comunicação seriam facilmente repartidas entre departamentos de linguística, filosofia, sociologia e literatura. A cada coisa o seu lugar.
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*Note-se o que o cientificismo da nossa época fez às áreas do saber que não são - e é bom repetir aqui, não são - científicas: tudo aquilo que pôde ser feito para tornar algo que não é científico em algo que se aproxima do científico foi feito - colar o rótulo 'científico' em alguma coisa é mais de meio caminho andado para legitimar essa coisa sem se dar ao trabalho de dar uma justificação minimamente lógica para o fazer. Outra noção errada que esta nomenclatura arrasta é a noção de que as notícias podem ser objectivas. Não há uma só notícia que seja objectiva (uma notícia é uma perspectiva, uma selecção dos factos que são, para um dado jornalista, mais relevantes), e especialmente no mundo em que vivemos, tão sujeito a pressões sensacionalistas (quase sempre de base capitalista) e de poder/autoridade (quem manda no que sai no jornal é o grupo económico que o comprou). Na verdade, este nome tão científico para um curso de letras está de acordo com a concepção (errada, pois claro) de que ele tem de ser um curso de teoria da comunicação, e não de jornalismo.
O Objectivo do Cinema
O homem é um ser criador por natureza, e portanto não pode viver sem criar. Há no homem um instinto natural para a criação, e essa criação é sempre a expressão do seu potencial individual. O objecto criado - seja ele qual for - procede sempre da sua criatividade (ela é a sua causa), mas não surge para um fim definido. Para que surge a ideia de um filme quando um filme não passa de uma ideia? Para nada. Não há qualquer utilidade que lhe possamos apresentar.
O homem tem prazer em criar coisas belas, o homem também tem prazer em contemplar essas coisas belas; mas isso em nada nos diz que uma obra tenha um objectivo, e que esse objectivo é o de dar prazer, ou servir a contemplação de alguém: isso é apenas uma consequência natural do processo criativo. É por isto que é tão difícil justificar a existência das artes numa sociedade doentiamente utilitarista e perversamente capitalista. E, contudo, é esta grande diferença que nos separa dos restantes animais.
Sendo o criar aquilo que de mais natural o homem tem, não é menos verdade que nem todos se podem entregar livremente ao processo artístico. Estamos longe de viver num mundo ideal. E todas essas imposições utilitárias, práticas, e capitalistas, acabam sempre por se sobrepôr. Não está certo. Mas é exactamente por todas essas imposições que o cinema deve ter um objectivo, uma utilidade.
É certo que o cinema tem, de algum modo, ter uma utilidade capitalista. Sem receita para investir - venha ela de onde vier - não há cinema nenhum. Mas é ainda mais importante que o cinema tenha um objectivo, uma finalidade prática, uma utilidade. Note-se que a existência de uma tal utilidade não rebaixa a importância do cinema, mas antes a eleva - porque esta passa a ter não uma, mas duas funções nobres. Qual deve ser então o objectivo ou a função do cinema?
É a existência de uma sociedade com estas características que faz com que o homem permaneça escravo do capitalismo, que o subjuga até ao suicídio da sua própria humanidade. Assim, o cinema não pode ter função mais elevada no mundo em que vivemos que ser orientado num tal sentido que a sua mensagem leve à destruição da sociedade capitalizante que temos. Só assim poderá o homem um dia criar em verdadeira liberdade.
Portanto, apesar do cinema não ter qualquer objectivo ou finalidade, enquanto vivermos no mundo em que vivemos, temos de injectar em cada obra, e da melhor maneira que lhe servir, um pendor anti-capitalizante, o triunfo da arte sobre o peso que esta terrível economia tem sobre nós. Só assim poderemos chegar a um mundo verdadeiramente livre.
sábado, 8 de agosto de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
domingo, 28 de junho de 2009
sábado, 27 de junho de 2009
Já quem lê filósofos e críticos disto e daquilo se cansou certamente de rótulos pós-modernistas. No pós-modernismo cabe quase tudo, e às vezes, quando faz sol na mais negra noite (ou então quando chove), até os surrealistas. À falta de mais -ismos, os originais, ficamos na caótica situação dos pré- e pós-, situação que até atinge o écran com as prequelas e as sequelas (prequelas?, mais um neologismo?), e agora também os livros - que se dividem agora entre aqueles que são lançados antes do filme ou depois do filme.
Mas de onde é que terá surgido este interesse todo pelos anos 70? Tivemos o despontar do interesse nos anos 60 naquele belíssimo Across the Universe (o regresso dos "bons-contra-os-maus": guerra do Vietnam, guerra do Iraque; mudam-se os nomes dos países mas a guerra é sempre a mesma). Mas o que pegou mesmo foram os anos 70. Tivemos as já mais que batidas riscas horizontais, bicolores e depois multicolores, que agora são levadas ao extremo do psicadélico; a moda das calças largas (excepto lá para os lados dos amantes do hip-hop) deu lugar ao jeito apertadinho emo-inspired, que pode ser considerado uma volta torcida e bem esticada de um metrossexualismo cruzado com um neo-punk de inspiração gótica e gay (andou aí a moda neo-soft-punk de usar uma modesta crista de cabelo gelificado, e às vezes com direito a brinquinho de brilhantes a la chunga da margem sul - não é verdade que os brilhantes fazem lembrar as bolas de espelhos?); e depois veio essa enxurrada de Mamma Mia!'s, (o musical sempre faz o seu dinheiro entre consumidores perdidos e ávidos de endorfinas), o musical ao vivo e o filme (este musical não deve ser assim tão bom, senão tinha sido inventado pelo La Feria), a banda sonora do dito, os gay rights e o Milk, uma certa inspiração Watchmen, o já longínquo álbum da Madonna Confessions on a dance floor em que a senhora se apropria de pelo menos uma melodia ABBA (repararam?); e os óculos escuros com design a la 70's, as cores a la 70's, as camisas e etc. abertas no decote para mostrar a peitaça masculina (desta vez cuidadosa e metrossexualmente rapada, que isso sim é sinal de bípede des-simiado); e quem sabe o que o futuro nos reserva. (onde é que anda o LSD?, já era tempo!)
Mas gabo a esperteza dos economistas e controladores de mercados (aka controladores de pessoas-consumidores): não só aproveitam a moda jovem, que tanta influência tem na sociologia das massas, mas também lançam produtos de que os pais deles gostam (são, na sua sua origem, do tempo deles!), e assim conquistam mais de metade dos sectores etários. Aquilo que acho é que esta é mais uma das estratégias que um capitalismo em desespero arranja para se ir mantendo antes de colapsar por inteiro. Todas as crises que vivemos, para além da sempre presente crise estrutural portuguesa, estão a deixar toda a gente sem dinheiro. E quem não tem dinheiro não compra, não é verdade? Ora, se o sistema capitalista assenta todo no consumo de massas (um consumo de duas ou três pessoas leva qualquer um à falência), e se este consumo abranda, então temos prejuízos (note-se que prejuízo para um investidor é ganhar menos um ou dois milhões do que podia ganhar). Mas se o consumo começa a parar (a não ser nos bens essenciais), então aí as coisas podem ficar muito pior. É todo o sistema capitalista que abana e treme. Se a isto juntarmos as políticas que asseguram a perda de direitos e poder de compra e a ganância dos investidores, temos o final do sistema capitalista à vista. Sempre quero ver como é que estes barões todos vão dar a volta à situação que eles próprios criaram...
quinta-feira, 25 de junho de 2009
o difícil é não criar
sábado, 20 de junho de 2009
domingo, 14 de junho de 2009
Maria Montessori
Quem é que defende a publicidade capitalista que ainda temos? É certo que todo o adulto, para chegar a adulto, se tem de submeter a uma série de terríveis e brutais mutilações e deformidades várias.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
quinta-feira, 21 de maio de 2009
domingo, 17 de maio de 2009
A verdade é que aquilo que se acaba escrevendo resvala sempre para uma situação em que se dá maior importância a determinados aspectos em detrimento de outros, mesmo se caímos em excessos. A questão aqui é que esses excessos, se não são nada importantes para mostrar o que realmente aconteceu ou acontece, são já extremamente importantes para defender as ideias que nos parecem mais válidas no mundo em que vivemos. E não há mal nenhum nisso se o ideal que nos anima é o de levar o mundo a cumprir-se verdadeiramente. O nosso excesso é a única propaganda que merece viver - tem um sentido muito mais elevado do que os interesses capitalistas e mesquinhos da publicidade.
domingo, 10 de maio de 2009
E dentro da minha cabeça.
Quem não sabe o que isso é,
Feche os olhos e arrefeça
Pela termodinâmica simples
De que é feita a equação.
Meu ser é só sensação,
E o trabalho abjecto e simples
Que levo na vida amarra-me,
Como um peso que me devora.
Quando grito é de revolta,
mas o destino agarra-me.
(Eu desespero a toda a hora...)
Sinto-me enlatado -
Estou farto! É desta
Que me vou embora.
sábado, 2 de maio de 2009
Tell all the Truth but tell it slant
Success in a Circuit lies
Too bright for our infirm Delight
The Truth's superb surprise
As lightning to the children eased
With explanation kind
The Truth must dazzle gradually
Or every man be blind
Emily Dickinson
Este poema é perfeito. Claro como a água, diz tudo o que é preciso. Quero agradecer à magnífica Lynn Margulis pela sua interessantíssima conferência e pelo grande sentido poético com que nos brindou, e a mim especialmente, ao dar a conhecer a Emily.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Quando passo pela estação de metro do Cais do Sodré em Lisboa, deparo-me sempre com uma cena que me faz sentir incrivelmente estúpido e inútil. O coelho branco lá está, a rir-se de mim e da existência escravizada em que vivo. Olha para o relógio e corre: sempre a esperança de não se atrasar, sempre a certeza de estar atrasado. Numa tiragem em série, como uma qualquer outra máquina, e sempre esterilizadamente igual, o coelho branco aparece. Corre, mas nunca sai do mesmo lugar.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
sábado, 11 de abril de 2009
a partir do momento em que deixou de existir um conceito de arte, tudo pôde ser considerado arte.
a partir do momento em que tudo é considerado arte, deixa de haver distinção entre o que é lixo e o que é arte.
a partir do momento em que tudo é considerado arte, nada é arte.
hoje vivemos num mundo em que tudo é considerado arte, mesmo aquilo que não é arte.
a única maneira de sairmos deste impasse é trazer novas formas de arte para a arte.
talvez a última barreira artística seja a barreira entre arte e ciência.
quando a última barreira artística for quebrada, não haverá distinção entre arte e qualquer outra coisa.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
-Os poemas não são para serem ditos. Os poemas são para serem interpretados.
-O poema é uma encenação, o poema é todo um teatro à espera de ser representado.
-O actor é o único que é capaz de dar vida ao poema.
-A interpretação de um poema deve existir para melhor dar a conhecer o seu sentido ou os seus múltiplos sentidos a quem o lê e o escuta.
-A melhor maneira de tornar um poema inteligível é respeitar a métrica intrínseca ao próprio poema e quase nunca o espaço que separa um verso de outro.
domingo, 22 de março de 2009
sábado, 21 de março de 2009
sexta-feira, 20 de março de 2009
domingo, 15 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
O TRABALHO É MALÉFICO
O TRABALHO CORRÓI O SER
O TRABALHO TEM DE SER BANIDO DA HUMANIDADE
SÓ TRABALHA QUEM NÃO TEM DINHEIRO PARA NÃO TRABALHAR
NINGUÉM NO SEU PERFEITO JUÍZO TEM AMOR AO TRABALHO
O TRABALHO É A EXPLORAÇÃO QUE A GANÂNCIA FAZ À IGNORÂNCIA
A GANÂNCIA É A FORMA MAIS MESQUINHA DE IGNORÂNCIA QUE EXISTE
A IGNORÂNCIA É UMA DEFORMIDADE CULTURAL DO HOMEM INFERIOR
O OBJECTIVO DA HUMANIDADE É DESTRUIR A IGNORÂNCIA
domingo, 8 de março de 2009
domingo, 1 de março de 2009
Breve lista de pessoas que detestaram a educação que os obrigaram a ter
- Alexander Fleming
- Carl von Linné
- Charles Darwin
- Fernando Pessoa
- Hermann Hesse
- Louis Pasteur
- Luiz Pacheco
- Pablo Picasso
(em constante e crescente actualização)