O que é a Expectativa Social?
Como a etimologia da palavra refere, exspectare significa olhar para o que está do lado de fora. A referência a socius designa companheiro, a ideia que está associada à presença de um outro. Portanto, a expectativa social não é mais que o olhar do outro para o que está do lado de fora. Mas que significado se pretende atribuir a esta expressão? Vejamos então. Se correspondermos este conceito ao objecto que mais próximo está de nós, isto é, nós próprios, então poderemos concluir que sempre que a expectativa social recai sobre nós, alguém (um outro que não nós) se limita a olhar para o que está do nosso lado de fora. Mas dizer que somos olhados por fora implica pressupor que possa existir também um lado de dentro. Das duas, uma: ou o que existe apenas existe como casca exterior, e portanto desprovida de qualquer substância interior, e assim, visto ser esta casca extremamente mutável e inexoravelmente desagregante, devido à usura do tempo, então após a morte não existe absolutamente nada a não ser um punhado de partículas que deram em tempos forma ao corpo; ou o que existe existe como face dual, exteriorizando-se por uma casca que, à semelhança do exosqueleto de artrópodes, vai sendo descartada quando a substância interior já não mais se consegue mover como pode dentro dela. Se existe, de facto, uma substância interior, esta pode ser de dois tipos: ou é perecível como a carapaça externa, e desta dizemos perecível visto que está sujeita a uma desagregação contínua no tempo; ou é imperecível, e permanece sem princípio nem fim transcendendo as leis do espaço e do tempo. O arquétipo ou padrão universal que nos pode auxiliar nesta tarefa é o facto de que, pelo menos, tudo aparenta ser dual, de tal forma que para todos os conceitos existe uma negação desse mesmo conceito que, não apresentando uma diferença substancial em relação ao primeiro, complementa ainda assim o segundo. Da forma exterior já dissemos que terá forçosamente que ser perecível; da substância interior teremos que recorrer a outra observação de natureza menos concreta, mas também não menos clara. Que poderemos dizer nós dessa substância interior? É verdade que existe pelo menos uma parte dessa substância que tem uma natureza mutável, para não concluir já perecível. Se pelo menos uma parte dessa substância muda no tempo e no espaço, então não a poderemos considerar permanente. Será ela mais uma forma do impermanente. E será que a poderemos considerar perecível? Se dizemos que é mutável a sua natureza, então estamos também dizendo que um estado ou forma em que se encontra essa parte se desagrega, visto que pode deixar de existir, e é ainda capaz de reagregar-se, visto que dela podemos ter sinal de novo, mesmo após ter deixado de se encontrar em nós agregada. Portanto, diremos dela que é perecível, ainda que a sua taxa de desagregação e reagregação seja de ordem muito superior àquela que opera sobre a camada exterior. Mas poderá haver alguma parcela dessa substância interior que tem uma natureza permanente?
(continua)
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