a partir da análise conceptual primeiramente divisada pela Professora Madalena Dionísio
Como conhecemos uma pessoa? Para abordar este complexo tema, vamos partir de um ponto de vista científico. Como tal, vamos chamar à pessoa o nosso "sistema", o objecto de estudo. À partida, o nosso sistema em estudo é-nos totalmente desconhecido se dele não tivermos tido sensação, mesmo que o sistema tenha produzido estímulos que tenham chegado até nós. Como tal, identificamos o nível de conhecimento que extraímos do nosso sistema, que foi zero, como o estado black-box, ou o estado caixa-negra. Sem nenhuma informação acerca da constituição do nosso sistema, ele é como que uma caixa-negra perante nós (usaremos esta metáfora ao longo da nossa análise).
As primeiras sensações que podemos ter do nosso sistema, da nossa caixa-negra, são as sensações que resultam da emissão permanente de estímulos pela nossa caixa-negra. Partimos do princípio que mesmo a mais negra das caixas (passemos a expressão) emite, pelo menos, um pequeno conjunto de estímulos que podem chegar até nós. Se a caixa-negra não emitir qualquer estímulo, então dever-se-á saltar esta parte da análise e seguir para a próxima.
Se, de facto, existe uma emissão permanente de algum tipo de estímulo, é por aí que devemos começar. Mas primeiro é necessário certificarmo-nos de que o estímulo é emitido sempre, isto é, mesmo na nossa ausência e de forma constante no espaço e no tempo. Utiliza-se a diversa tecnologia de sensores que já foi desenvolvida para registar estes estímulos.
Há que salvaguardar ainda a hipótese de que não tenhamos aparelhos suficientemente avançados que permitam registar todos os estímulos emitidos, tanto pela sua profusão (em quantidade) como pela sua natureza (em qualidade). Se tal é o caso (coisa que apenas podemos supor), então devemos eliminar da equação este tipo de considerações. Toda a análise realizada é apenas uma análise relativa, e nunca absoluta.
Para além disso, devemos ter em mente que se o sensor a utilizar é biológico, isto é, se somos nós próprios o sensor a utilizar, poderemos não captar os estímulos que escapam à nossa percepção sensorial. Assim, Poder-nos-ão escapar algum tipo de estímulos, ou então alguma ordem de estímulos pode não ter uma acção suficientemente estimuladora dos nossos sensores para que possamos sentir algo. Também estes casos devem ser eliminados da equação, pois baseiam-se em suposições que não podem ser quantificadas até ao momento em que forem operacionalizáveis.
Suponhamos que os primeiros estímulos que chegam até nós e nos provocam sensações são os estímulos visuais. Podemos aqui obter algum tipo de informação, informação quantitativa e qualitativa. Esta descrição é suficiente para que possamos classificar a nossa caixa-negra, mas não é ainda suficiente para que lhe possamos atribuir propriedades. Assim, os estímulos visuais podem apenas fornecer-nos informação acerca das qualidades que são permanentemente expressas pelo nosso sistema, e não sobre todas as propriedades do sistema. Aqui, teremos de passar à próxima etapa.
Até aqui a nossa análise baseou-se nas características permanentemente expressas pelo nosso sistema e que podemos captar. Se estas análises forem feitas durante um curto intervalo de tempo, poderemos considerar que o nosso sistema está praticamente inalterado ao longo de todo esse período de tempo. Atribuímos à nossa caixa-negra, assim, um estado de quasi-equilíbrio. A realização de medições durante um curto intervalo de tempo (curto o suficiente para que o sistema não altere nenhuma das suas propriedades visíveis) é importantíssima no passo que se segue.
Visto que a informação que podemos extrair da nossa caixa-negra numa situação de quasi-equilíbrio é extremamente limitada, somos forçados a efectuar estudos numa situação de não-equilíbrio. Uma situação de não-equilíbrio consiste na aplicação de um estímulo à nossa caixa-negra e medição posterior do efeito ou da resposta que o nosso sistema desenvolve nos instantes de tempo posteriores. Assume-se que qualquer alteração registada no nosso sistema em estudo se deve à aplicação do estímulo por nós imposto, seguindo uma lógica de causa-efeito.
Quanto maior for a quantidade e qualidade de estímulos aplicada à nossa caixa-negra maior será a quantidade de informação que dela podemos retirar, via a análise das suas respostas. Após a reunião de uma grande quantidade de respostas face a diferentes estímulos, poder-se-ão procurar padrões de simetria e correlações entre variáveis. Quando os padrões se verificam em uma grande extensão de resultados, e a correlação entre as variáveis é boa, então é possível construir leis que permitam explicar o funcionamento da nossa black-box. Só aí é possível compreender o mecanismo que leva ao desenvolvimento e formação da resposta e, consequentemente, atribuir propriedades que expliquem a constituição deste sistema.
Longos e aturados estudos científicos mostraram que a informação que podemos recolher a partir da imposição de estímulos e posterior verificação de respostas, ou seja, a partir de estudos numa situação de não-equilíbrio, é muito maior e mais rica que a informação que podemos recolher a partir de situações de quasi-equilíbrio. Eis aqui a prova lógica para que, em contexto social, primemos pela estimulação em extensas quantidade e qualidade de todas as nossas black-boxes.
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