quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A Termodinâmica da Vida

Os interessantes e supreendentes resultados da Termodinâmica mostraram-nos leis, padrões ou proporções incríveis que, de facto, governam a própria vida. O conceito de entropia é um deles. O conceito de entropia mostra que todos os sistemas evoluem no sentido de diminuirem a capacidade de eles próprios continuarem a mudar, portanto caminhando em direcção a uma maior estabilidade, a uma situação da qual já não há mais alteração. Aplicando esta interessante conclusão à vida humana, que poderemos determinar? Se todos os sistemas seguem seguem este princípio, então porque não também a própria vida?

Qual seria então a situação em que não poderia haver mais alteração, visto que não haveria mais nada a alterar? Teria de ser a liberdade total e isenta de quaisquer regras ou leis impostas pelos homens, e portanto a obediência às leis naturais, as leis da Natureza, que determinaram a compleição humana. Numa situação dessas o homem poderá desenvolver todo o seu potencial humano, isto é, tudo aquilo que é de acordo com a sua natureza, podendo então cumprir-se por completo.

Para mais fácil e comodamente nos referirmos a essa situação, analisemos que sistema poderia então servir esse estado de liberdade plena. De todos os que foram divisados até hoje, o anarquismo é o único que pode cumprir este objectivo, pois é, de todos, o único que proclama a liberdade total e livre de qualquer restrição imposta pelo homem. Portanto, passemos então a referirmo-nos a esta situação última por meio deste vocábulo.

Se a vida humana é também ela, ou pelo menos pode ser considerada como tal, um sistema termodinâmico, então está sujeita às leis derivadas pelos físicos, e isso já foi verificado até no domínio da Biologia; diremos então: e porque não aplicá-las à Sociologia? (É bom notar que da Biologia à Psicologia e da Psicologia à Sociologia vai um passo). Se podemos considerar a vida um sistema termodinâmico como outro qualquer, então um conjunto de vidas, diremos uma sociedade, também verificará as mesmas regras de que falámos. Assim, faz todo o sentido falar em anarquismo, já que é uma concepção de sociedade como outra qualquer, ainda que se pense aplicar a um domínio individual, pessoa a pessoa. (Deve-se ainda notar que a tónica da presente análise se centra na análise do indivíduo. Assim, mesmo salvaguardando a hipótese de um agregado sociológico possuir propriedades novas, que certamente as possui, os chamados princípios emergentes da Ecologia, é bom não perder de vista que, mesmo possuindo essas novas propriedades, cada um dos indivíduos não pode fugir às leis naturais, isto é, neste caso, à 2ª Lei da Termodinâmica, que mostra que a entropia universal tende sempre a aumentar. Fazendo um paralelismo biológico para ilustrar melhor o que se pretende mostrar, podemos dizer que, apesar de um conjunto de células em cooperação ou coordenadas entre si que forma um organismo biológico apresentar propriedades que escapam a cada uma das suas partes, a cada uma das suas células, cada uma delas segue, de facto, e assim como o organismo, esta 2ª Lei da Termodinâmica. É legítimo considerar um estado, não de equilíbrio mas de quasi-equilíbrio, para cada uma das células individuais de um organismo multicelular como o homem, visto que o aumento da sua complexidade pode parecer, tendo em conta uma perspectiva parcelar e temporalmente limitada, uma negação do princípio entrópico, ou também conhecido como um fenómeno de neguentropia. Porém, e como também já foi mostrado por alguns autores, a quantidade de energia térmica dissipada sob a forma de calor pelo organismo multicelular supera esse estado neguentrópico e permite a existência da vida, mesmo que esta se encontre altamente organizada e compartimentalizada. O que interessa relevar aqui é que a evolução dos sistemas, isto é, a sua mudança ao longo do tempo, é feita ao nível do todo que resulta da combinação das partes, e não apenas da soma das partes individualmente. Portanto, teremos que nos voltar para a consideração dos vários conjuntos que evoluem ao longo de grandes intervalos de tempo, como será em seguida explicitado).

Se estabelecemos então o anarquismo como a situação de, diremos assim, máxima entropia, ou a partir da qual não ocorre mais nenhuma mudança, então, pelo asseverado através da 2ª Lei da Termodinâmica, também a vida humana, colectivamente considerada, e portanto tratada como um grupo sociológico, caminha para uma situação de anarquismo. Esta afirmação, ainda que nos pareça despropositada, merece análise e reflexão cuidadas.

Primeiro, convém lembrar que a lei não é nenhuma lei cinética, e portanto não nos adianta nada acerca da velocidade a que ocorre esta mudança. Resta-nos supor que, se esta mudança ocorresse rapidamente, já estaríamos numa sociedade anarquista e, visto que não estamos, essa tese cai por terra. Assim, será mais prudente e próximo da verdade considerar que a cinética desta reacção, ou desta evolução, é lenta ou extremamente lenta. Mas só fará sentido considerarmos extremamente lenta esta cinética se desde o início da fundação da humanidade até aos nossos dias não houve nenhum passo em direcção à plena liberdade.

Para já, é necessário explicar porque é que este resultado pode nunca ter sido visto antes com esta clareza: primeiro porque ainda não se tinha desenvolvido a área da Termodinâmica; segundo, porque era necessário que passasse bastante tempo para reparar em possíveis padrões que se estivessem revelando, e já vimos que a cinética da reacção é lenta neste aspecto; terceiro, porque era necessário que estivesse bem presente na nossa memória em que consiste essa evolução ou essa mudança, ou, por outra, era necessário que tivéssemos acesso a essa informação, à história da humanidade; era necessário que ela estivesse suficientemente livre e acessível para que pudéssemos proceder convenientemente à procura dos padrões que pudessem levar-nos a concluir sobre o destino da humanidade. Acontece que, ou segundo parece, esta é a melhor altura da história da humanidade para fazê-lo, já que todos esses elementos enunciados convergem. Assim, é-nos possível hoje, melhor que nunca, traçar um perfil histórico acerca do destino da humanidade.

Esta análise é morosa e difícil porque requer uma visão de conjunto que consiga compreender, de uma vez só, a evolução das artes e das ciências numa perspectiva diacrónica e alargada. Antes de mais, é necessário estipular um ponto de partida por onde começar a análise. Em parte devido à profundidade da análise, mas sobretudo devido à nossa ainda existente ignorância acerca de todos os aspectos artístico-científicos da Antiguidade Clássica e culturas e eras posteriores, bem como de culturas não europeias, restringimos a nossa análise aos registos escritos e aos registos talhados na rocha, aqueles que mais garantias de autenticidade nos oferecem. Assim, optamos por começar pela Idade Média Europeia, que pode ser considerada como o embrião daquilo a que hoje se chama Europa.

(...)

A análise destes padrões mostra que, de facto, houve um aumento da liberdade pessoal e colectiva, isto é, tanto a nível familiar como a nível social. Estes padrões mostram que é possível que a mudança não seja extremamente lenta, caso contrário não seria possível detectá-la, mas sim que ela é apenas lenta. Contudo, ela ocorre, e podemos antever por breves instantes que não cessará de crescer, tanto pelo desenvolvimento da Arte (de novas formas de expressão artística, tanto pela mudança do conceito de Belo - comparar a Estética Aristotélica com a Estética Modernista - como pelo levantar da subserviência dessa expressão a algum sistema religioso - a Arte Sacra dá lugar ao Impressionismo - , social - o Impressionismo dá lugar ao Surrealismo - , cultural - Dadaísmo - , político - a Propaganda Nacional-Socialista dá origem à Publicidade - , etc.) como pelos novos desenvolvimentos científico-tecnológicos (a manufactura é substituída pela maquinização, os métodos qualitativos pelos métodos quantitativos, a invenção do livro, seguida do rádio, da televisão, e finalmente da internet, etc.). O campo que mais se tem desenvolvido nestas últimas eras é o da Tecnologia, e talvez estejamos mais próximos de uma era tecnológica da informação em que existirá a máxima liberdade informativa possível (de acesso à informação) - a Internet é já uma prova disso mesmo.

Com tantos e tão grandes avanços, quem sabe o que o futuro nos reserva?

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