quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Prémio Meus Senhores, Vamos Lá A Ganhar Mais Dois Dedos De Testa

Diário de Notícias: Qual é o futuro de Portugal nesta península?

José Saramago: Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.

citação cuidadosa e criteriosamente colhida da edição de 15.07.07 do Diário de Notícias


Vamos lá a ver o que é que me está a escapar... José Saramago, em plena pose de profeta, e, já agora, de falsa modéstia, acha que Portugal passará inexoravelmente a fazer parte de Espanha. Portanto, Portugal passará a ser mais uma futura província espanhola, exactamente igual às outras: uma que clama pela independência justa e merecida que não lhe é dada devido a uma postura de governação centralista e amedrontada com a perda de poder. Não sei porque chama Saramago Espanha a um conjunto de províncias distintas umas das outras pela língua, cultura e território que, para além de não se entenderem umas com as outras, só têm um objectivo importante: adquirir a sua independência, que aliás é merecida e justificada. Não fosse a Coroa espanhola e já tínhamos à volta uns cinco países ibéricos, para além de Portugal. Porque é que não é feita a psicanálise da Espanha que existe? Esse tão inflamado patriotismo que nela existe tem motivos plenamente válidos: primeiro, sobrevem a dor de corno de não terem conseguido, apesar de terem tentado, e bem, anexar Portugal ao seu território. Segundo, uma preocupação constante com a sua identidade cultural espartilhada por aquilo a que se chama "Espanha" leva quase até à loucura o seu nacionalismo (já desde Freud se sabe que quanto mais e com mais força se recalca algo, com mais força e tanto mais ressalta esse algo), ao ponto de se justificar com a morte as suas reivindicações. Terceiro, a própria identidade cultural espanhola é, à semelhança de Pessoa, vária e desordenada, fragmentada em diversas línguas e modos de vida culturalmente distintos (meus senhores, a História prova-o) que, no sentido da sua plena expressão e autêntica liberdade, necessitam de uma autonomia que lhes satisfaça essa imensa vontade de ser. Agora, nos tempos da globalização, vem um português desterrado em terras espanholas dizer aos portugueses de Portugal que eles aceitariam de livre vontade essa perversão que seria juntar azeite e água, coisas que não se misturam? Das duas uma, ou Saramago perdeu completamente o juízo, e é a demência que fala por ele, e nesse caso perdoemo-lhe o atrevimento, ou então Saramago esteve tanto tempo em Espanha que se esqueceu daquilo que é realmente Portugal, e daquilo que são realmente os portugueses. Os portugueses, isto é, os verdadeiros portugueses, nunca e jamais compactuariam com semelhante assassínio da liberdade individual de cada um. E muito menos compactuariam com esse sistema abjecto que é o Comunismo, de centralização total de poderes estatais e de coerção pretensamente não-capitalista que acaba por se transformar na pior ditadura que pode existir. Portanto, se o senhor José Saramago se deixar de tentar impôr aquilo que nunca Cunhal conseguiu, e ainda bem, e se dedicar à pesca, à agricultura, ou à escrita de alguma coisa realmente interessante, em português, já agora, se não for pedir muito, parece-me que o mundo ficaria a ganhar muito mais. Enquanto isso, tenha a honra de receber este Grande Prémio.

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