Devo ainda salientar que Ostwald tinha ideias radicais sobre a educação. Opunha-se fortemente a uma educação preferencialmente humanista ainda vigente nessa altura; durante a sua vida lutou para acabar com o grego e até com o latim ensinado na maioria das escolas secundárias. Neste ponto teve pouco sucesso.
Além desta oposição, Ostwald era muito heterodoxo sobre o valor dos exames. Lembro-me de ouvir uma conversa entre ele e Wislicenus em que expressavam a opinião de que ninguém se tornaria importante na vida se não tivesse reprovado pelo menos um ano no ensino secundário. Ostwald tinha passado sete anos na escola secundária na Rússia em vez dos habituais cinco. Devo confessar que me senti muito deprimido com a conversa já que não tinha reprovado na escola secundária. Agora, volvidos estes anos, ao analisar de novo o assunto, reconheço que esses dois grandes químicos não estavam totalmente errados. Qualquer jovem que se adapte muito facilmente a qualquer sistema de ensino não deve acalentar ideias originais. Evidentemente, e isto é fundamental, deve analisar-se a razão pela qual um jovem "detesta" a escola. Se for simplesmente por incapacidade ou imbecilidade, não melhorará a sua vida futura; contudo, se for porque as suas aptidões e interesses são grandes em determinadas áreas e muito pequenas noutras, então o caso muda de figura. Ostwald era mau aluno na escola secundária porque, quando era jovem, era enorme a sua preferência pela Química. Fazer explosões sob a carteira da aula ou na cozinha da casa não melhoram as notas de um aluno mas decerto podem torná-lo num excelente químico. O nosso sistema educacional, porém, pode não estar adaptado às necessidades de um futuro "grande" homem. A maioria das vezes tais Homens tornam-se no que são, não em virtude do sistema circundante, mas sim como resultado da engrenagem de qualquer sistema e, consequentemente, os educadores devem estar atentos para elevar a média tanto quanto possível.
Ostwald era o homem mais versátil que jamais conheci, e o término da sua carreira prova-o bem. Os seus colegas tinham profetizado de que ele não seria "ninguém" considerando a sua "danada versatilidade" e certamente ele não era o tipo de aluno que se ajustava a um modelo educacional.
(...)
A extraordinária influência e sucesso de Ostwald como professor parece ser baseada em dois factos: a espantosa facilidade com que produzia novas ideias, mesmo em conversa, e a arte de lidar com os jovens, dando primordial importância à sua personalidade individual. Espero que me desculpem por relatar a experiência de um aluno - eu próprio. Ostwald soube do meu interesse pela música. Quando chegou o momento de escrever a minha tese, aconselhou-me do seguinte modo: "Deves escrever o trabalho como Beethoven compôs uma sinfonia. Pensa na 5ª Sinfonia: no segundo andamento, um pouco antes do final, ele dá ao segundo tema uma nova e impressionante variação. Isto é precisamente o que espero de ti. Imagina um quarto com uma janela; antes de acabares a descrição completa do quarto, abre a janela e mostra que espécie de paisagem se pode ver através dela". Um excelente conselho, mas duvido se será mais fácil seguir Ostwald do que Beethoven; na verdade, há necessidade de ter várias riquezas armazenadas. Pode antever-se em Ostwald um professor de grande categoria - ele sabia como impressionar um jovem de modo a que ele nunca mais o esquecesse; mesmo simples palavras serão sempre relembradas ao fim de muitos anos.
(...)
George Jaffé relata-nos a atmosfera do Laboratório [de Friedrich Wilhelm Ostwald (1853-1932)] e descreve-nos a personalidade de Ostwald num artigo publicado no Journal of Chemical Education, em Maio de 1952.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário