terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

um dos problemas da educação, ou, melhor dizendo, da aprendizagem, é o facto de os estudantes recorrerem de forma sistemática à aquisição de conhecimentos (memorização) por repetição reiterada de informação.

podemos distinguir, pelo menos, duas formas de aquisição de conhecimentos. A vigente, e que é extremamente incutida desde tenra idade pela desordenação do sistema de ensino que vigora, é a repetição simples de informação. Esta repetição cumpre a sua função de memorização, isto é, de aquisição de informação, em termos bioquímicos, por estabelecimento de projecções dendríticas entre células nervosas e transmissão de sinal electromagnético associado, sendo este mediado por moléculas neurotransmissoras. A reiterada repetição simples leva ao estabelecimento de um circuito neuronal específico, no qual a transmissão de sinal tem cada vez mais facilidade em ser efectuada entre células, o que leva à especialização dessa porção neural no armazenamento da informação que é continuamente repetida. Caso a repetição da informação cesse, e surja uma outra, então o circuito neural que foi estabelecido deixa de executar uma função útil ao organismo, e portanto enfraquece a passagem de sinal por ele. Numa situação limite, existe a reorganização desse circuito de tal forma que se torna mais difícil o seu futuro estabelecimento, e portanto enfraquece a reactivação da memória armazenada até que esta desapareça por completo. A cessação da estimulação por repetição leva à degeneração da informação.

por outro lado, a memorização pode dar-se por estabelecimento de redes de associação conceptual de informação. Neste caso, uma dada informação é memorizada por estimulação através da repetição, é certo, mas, contrariamente ao primeiro caso, a estimulação é emparelhada com outra informação que já tenha sido memorizada. Esta ligação conceptual cria autênticas redes de informação neuronal, e potencia a sua reactivação, já que, estando duas informações associadas ou ligadas entre si, a reactivação de uma potencia a reactivação da outra, visto que o encadeamento mnésico é semelhante: as informações sucedem-se de forma lógica por se encontrarem ligadas e a isso corresponderá possivelmente a conjuntos semelhantes ou próximos fisicamente, ou até partilhados, de redes neuronais. Quanto maior for o grau de emparelhamento ou de conexão estabelecida entre as informações que se memorizam, então a probabilidade de reactivação de uma destas informações é maior do que no caso em que a memorização foi conseguida por apenas simples repetição da informação. E mais, a probabilidade de reactivação de uma informação conectada, emparelhada ou próxima de outra informação que já sofreu reactivação é maior, o que leva a um desenvolvimento ainda maior da memória individual, por uma cadeia de reactivações sucessivas - aspecto fundamental num pensamento divergente, criativo, original ou numa equacionação de diversas variáveis subordinadas a um mesmo problema.

portanto, o que existe, sim, é um profundo desconhecimento acerca de neurobiologia e psicologia, para não falar de pedagogia, ou uma falha incrivelmente grande na sua aplicabilidade prática.

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