quando Marx afirma que existe uma luta de classes, está a pressupor duas coisas: a primeira, de que existem classes, e a segunda, de que existe uma luta. Quanto à primeira, parece-me que estava certo. É certo que existem classes diversas, mas há algo que ele não reparou, e que é o erro de todo o socialismo, é que existem tantas classes como pessoas. Todas as pessoas são diferentes e únicas. Um agregado sociológico é apenas uma expressão metafórica, não tem qualquer existência real. O que existe é um conjunto de pessoas, todas diferentes entre si, e algumas podem exercer determinada influência sobre outras, mas isso não significa que todo o conjunto reme para o mesmo lado. Aliás, é mais a excepção que a regra, e ainda bem que é assim, porque é por causa disso que evoluímos.
Quanto à segunda, parece-me que estava errado. Se é certo que cada pessoa é única em si, não me parece que todos lutemos uns contra os outros. Competir, quanto muito, lá competem os animais, e as plantas, por nutrientes e para se desenvolverem. Agora, quando falamos do homem, não falamos de luta certamente, porque senão já nos tínhamos matado todos uns aos outros. O erro de assumir que toda a gente luta maquinalmente pela sobrevivência é um erro crasso, porque é assumir que toda a gente luta. Primeiro, nem toda a gente tem que assegurar a sua sobrevivência, e vive já confortavelmente bem. Segundo, não se trata de uma luta por poder, trata-se simplesmente de uma expressão do seu potencial individual. Se existe luta, em alguns casos, a sua causa não está na existência de classes, mas no desejo de ter aquilo que se não tem. E o desejo não é motivado por nenhuma classe, apenas por um sentimento de cobiça interior. Se uma classe é desejada é porque os membros dessa classe possuem algo que alguém cobiça. Portanto, o mal não está nos membros da classe cobiçada, o mal está é em quem cobiça. A cobiça nasce desse desejo. E esse desejo nasce da mensagem subliminar que certas pessoas transmitem de que a felicidade está em possuir determinado tipo de coisas. Portanto, o desejo nasce de um sentimento consumista que é alimentado por capitalistas que querem vender o seu produto e obter o maior lucro possível. O Capitalismo é algo bom quando consideramos a sua dimensão de desenvolvimento tecnológico, permite competitividade, é capaz de fornecer uma grande quantidade de bens a um grande número de pessoas, faz veicular muita informação em pouco tempo. Porém, também torna tudo muito mais efémero, ritmado ao toque do relógio, e enredado sobre si mesmo num ciclo que se vicia continuamente. O mal está na definição de felicidade que alguns querem fazer passar, e que outros, por pouca perspicácia ou insuficiente educação, engolem sem protestar.
Assim, o que há a fazer é mudar o que está mal de raiz, que é a própria ideia de que a felicidade deve ser uma coisa nomeável, e não algo que possa ser construído pelas mãos de cada um, segundo a sua própria individualidade. E isso só é possível pela educação, para que cada um possa, por si próprio, por um lado, saber pensar, e, por outro lado, saber fazer.
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