segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

realmente, e como Caeiro diz, e bem, ver uma coisa e pensá-la é muito diferente. Pensá-la é deturpá-la, porque metemos sempre de nós na nossa interpretação. Deve ser um princípio metafísico, este de só falarmos biografia por todos os nossos poros. Não vale a pena. Só dizemos aquilo que somos. E aí está. Como se quiséssemos dizer ao mundo todo aquilo que nós somos - nós, que somos parte do mundo, ou que o somos também por inteiro, porquanto não existe nada que diga que somos distintos dele e ele de nós.

se quisermos fazer a análise lógica do assunto, podemos dizer que, ao pensar, isto é, ao interpretar um fenómeno, que nos chega aos olhos, estamos a transformar esse fenómeno (o que observámos com os olhos) em um pensamento (o que pensámos com a cabeça). Parece-me ser essa toda a noção da Autopsicografia.

Esse processo transformante deve consistir numa alteração do fenómeno, um rearranjo das partes que compõem o todo, à nossa maneira, porque somos nós que o vemos, excepto se estamos a resolver uma equação matemática, que aí só valem as regras da lógica aristotélica. Bem, mas mesmo essa lógica foi o Aristóteles que a inventou, e portanto também era mais um pensamento, fruto da cabeça dele. Não tem nada de natural, de facto, já que a realidade não se rege por números precisos como o um, o dois, o três... a realidade rege-se apenas por números que se desconhecem, apenas estimáveis dada a precaridade dos nossos meios de medição. Até o que chamamos área do círculo é directamente proporcional à proporção pi, que é um número não exacto. Talvez seja isto uma das muitas ironias do destino, ou um sentido de humor divino, já que mesmo na figura geométrica mais simétrica e perfeita de todas, no plano, no espaço já será a esfera, não conseguimos lhe tirar as medidas de forma precisa, mas apenas decorrentes da imprecisão numérica que acompanha esta matemática toda que inventámos.

E a coisa curiosa é que essas equações conseguem bater sempre certas.

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