depois do encontro sobre história da ciência fiquei a saber que realmente a história é mesmo bafienta. A sala até estava composta, mas mesmo assim devia ser a pessoa mais jovem que ali estava, coisa que me deixava um pouco constrangido. Em boa verdade me passou pela cabeça a ideia: e então o que acontecerá quando todas estas pessoas morrerem? Será que irá haver continuidade nesta área? Enfim, é como tudo o resto, um espelho de Portugal. Poucas pessoas fazem realmente alguma coisa, e esses poucos são na sua maioria velhos.
confesso que as ideias que se vão tendo da evolução da história, e da evolução da ciência, em suma, da evolução do pensamento humano, são interessantes, e muito. Mas não posso deixar de sentir que existem paradigmas de pensamento, ou barreiras mentais, que impedem que se vá mais além. E isso neste caso significa fazer. Vivemos neste momento mais uma crise (será que alguma vez saímos dela?), mas ela também é fruto das imposições mentais que as pessoas colocam sobre si mesmas, sobre o mundo. É verdade que se faz boa investigação, e que ela é necessária. Mas se calhar não é só preciso andar à procura de máquinas e pedras e colecções antigas, é certo que também é preciso conservar as que existem, é certo que é preciso restaurar o que se pode, é certo que é preciso inventariar o que se conseguir encontrar, mas é preciso também ter olhos de presente voltados para o futuro. E o que é realmente preciso agora, nesta época de grandes avanços na área da comunicação e da cultura, é organizar esses dois domínios. É preciso trazer escritores e pintores e todos os demais artistas aos museus, a falar, a conferências, às escolas, às universidades. E é preciso levar as universidades às escolas, às secundárias e aos restantes estabelecimentos. É preciso criar cafés de cultura, e salas de musas, para não deixar morrer os museus.
os museus são algo que me aparece na mente como parado no tempo. Não evoluem. E isso é algo extremamente estúpido, parece-me, limitado, porque neste mundo tudo muda. E se os museus não mudam também, então passam a fazer parte somente do passado, e claro que ninguém lhes vai ligar nenhuma, se eles não mantiverem a sua ligação com o presente. É, por isso, preciso levar as pessoas aos museus, e levar os museus às pessoas. Talvez a primeira seja a mais fácil de implementar, pelo menos numa primeira fase. Criar espaços nos museus onde se possa tomar café, conversar, ou simplesmente criar. Não seria um ambiente muito mais rico para todos? Caramba, uma, duas salas, não seria suficiente para criar espaços onde as pessoas pudessem ir, não falo de Lisboa ou do Porto, falo de cada Município, de cada terreola que tem um museu. Porque não? Porque é que é necessário ir a centros comerciais de modelos importados do estrangeiro para se tomar um café? Um museu serve perfeitamente, é ainda por cima é mais interessante porque alberga coisas que podem ser visitadas, conhecidas, apreciadas. O museu tem que voltar a ser uma casa das musas, algo onde as pessoas podem ir para colher inspiração, ou para se poderem dedicar à análise e à intelectualização, ou então onde as pessoas podem ir simplesmente para conversar, ou para trabalhar, isto é, para fazer projectos, espectáculos multimédia, e é bom usar estes neologismos, que só áudio e vídeo já passou à história.
Vamos insuflar de vida os museus! Vamos empurrar as pessoas para lá, para que os fiquem a conhecer, para que não tenham a noção de que só poucos podem ser artistas, para que achem que não têm em si arte nenhuma, para que se possam inspirar e ter uma relação física, próxima, com os quadros e com as esculturas. Caramba, se for preciso, que se deixe as pessoas tocar nas obras, senti-las perto da pele, para ver se as sentem também perto do espírito, e deixe-se que elas possam conversar com quem elas faz, para ficarem a conhecer mais, mas num ambiente informal, descontraído, onde as pessoas possam falar do que acham, onde possam trocar ideias e experiências e criação, e mesmo sensações. Uma sala com mesas e cadeiras, uma máquina de café, papel, lápis e canetas, será isso tão difícil de arranjar?
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