terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

na televisão encontra-se de tudo. Como aqueles programas em que uns certos especialistas em moda, decerto Doutores nessa área, tal é a sua sabedoria, se propõem a mudar o visual de uma pessoa qualquer, dita ordinária, ai esta linguagem, vamos lá a não ferir susceptibilidades nenhumas, querendo mudar o visual de alguém para que se pareça uma executiva, ou um executivo, do século XX, diriam alguns do século passado, posto que estamos no XXI, então querem eles dar-lhes a cara de umas reminescências de cultura pop, do sentido do descartável e da noção do efémero. E as pessoas, as visadas, ainda deixam. Eliminando qualquer vestígio de individualidade corporal, e por vezes também psicológica, à espiritual é que não chegam, mas quanto ao psicológico ainda conseguem lavar uns quantos cérebros mais abertos à mudança, então vão eles por ali fora, menosprezando esses atributos, particulares, e únicos, e tentam mudar tudo quanto podem, segundo os seus próprios gostos pessoais. Não pode este ser um desejo imensamente narcísico, quiçá alguma ferida, do ego, que os faz mover-se assim?

perante este quadro tão próprio na sua cultura, que é a ocidental, capitalista e descartável, que, à semelhança das donas de casa dos anos 50 do pós segunda grande guerra, quer incutir, ou programar, nas mentes jovem e frescas o sentido de obediência à sociedade (coisa que gostava de saber o que é, nunca ninguém ainda ma soube explicar), à cultura do desperdício, à casa, e ainda a esse desejo tão nobre e tão elevado espiritualmente que é arranjar um parceiro sexual, e não importa qual, o que interessa é que tenha bons genes, e ter sua ninhada de filhos, como se de uma besta, outra vez esta linguagem, e pensar que besta no tempo do Eça significava um animal de carga ou de transporte de veículos, isto é, como se de uma besta se tratasse, e se ela chateasse muito a gente, davam-se uma chibatadas e resolvia-se a questão. Eu até compreendo a situação, o nosso mundo, nosso é como quem diz, o mundo em que nós vivemos, vá lá, e já ficam as contas mais certas, esse mundo, está votado ao esquecimento, e tudo por culpa das políticas antinatalistas, por um lado, e por outro da emancipação da mulher, sem ofensa às feministas.

mas de repente dei por mim a pensar o que seria se uma tribo da papua nova guiné, ou se os próprios maori, ou se os nómadas que percorrem o deserto do Saara, ou ainda se os índios ameríndios, os que ainda existem, claro, ou se os chineses lá na suas aldeias remotas, ou então os monges budistas, ou taoístas, ou os esquimós, ou até os habitantes da tribo masai, resolvessem fazer eles um programa semelhante. Decerto se iriam rir muito dos vestidos e das roupas que trazemos, das nossas aparências, dos nossos narizes, das nossas tristes e alegres figuras (às vezes já nem se sabe bem qual é qual), e aí é que havia de ser bonito: os ocidentais rapavam o cabelo todo, e punham aquelas vestes púrpuras e laranjas dos budistas, ou então aqueles grossos casacos de lã dos esquimós, e as botifarras, ou então vinham antes para a moda do tudo ao léu como Deus o deitou ao mundo, salvo a tanguinha respectiva, para melhor acomodação dos seus pertences, que é como quem diz, numa linguagem ocidental, das suas gónadas e dos seus gâmetas, das suas jóias da coroa ou então do seu património genético pessoal e transmissível.

uma coisa é certa: cada um é o que é, ou pelo menos devia ser, mas sobretudo cada um vê o que é, e acaba sendo o que vê.

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