quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Italo Calvino, em Palomar
domingo, 25 de fevereiro de 2007
sábado, 24 de fevereiro de 2007
efémero dia sem desgosto
diz o pai trabalhar é gente
do nascer ao sol posto
mil morrem nestas ruas
outros mil já o estão
dos mil que a doença traga
outros mil se seguirão
passa o dia e passa bem
passa mal quando calha
ninguém sabe o que é sem
ter tempo para a tralha
mas o sol sempre brilha
e o estertor ainda é vida
os outros que façam fita
que não conheço despedida
tempo voa contra nós
aquele que relógio conta
fabricado é ele por vós
ninguém sabe como' monta
mas em vez de televisão
e mais longo que entrudo
é olhar para o presente
com olhos de futuro
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Tão alto, é quase homem
Parece que ontem era só colo
Os anos aos anos se somem
E quando cresceres mais
e ficares da minha altura
queres buscar que usura
grande só como os tais?»
«Quando for grande quero ser
nada como convém
olhar o vazio com desdém
e seguir só o prazer
Mas se quero ser só e nada
é porque não tenho que querer
a valer, a valer, só o ser
que ao tudo dá entrada
na vida já somos tudo
correr? só se luz nos traça
e quanto a si, minha senhora
não sei mesmo que lhe faça!»
amo-te, flor
e não por ser eu quem sou
mas como posso eu fazer isso
se és para mim uma sensação obscura
que não conheço e vou sentindo?
amo-te rio, por correres sempre
e não por estares parado
mas só estando parado se nota a corrente
que corre sempre, sempre, sempre
correndo para lado diferente
amo-te assim sem saber porquê
o mundo é apenas mistério aos olhos
desflorando só se nossos folhos
os folhos que vou criando
em mim, com amor
mas se a página amarela ao lado
se a bainha saltar no fio apertado
como posso conhecer ou amar-te
posso apenas achar que vou achar-te
mais que isso é o nada fechado
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Epitáfio de Fernando Pessoa
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
podemos distinguir, pelo menos, duas formas de aquisição de conhecimentos. A vigente, e que é extremamente incutida desde tenra idade pela desordenação do sistema de ensino que vigora, é a repetição simples de informação. Esta repetição cumpre a sua função de memorização, isto é, de aquisição de informação, em termos bioquímicos, por estabelecimento de projecções dendríticas entre células nervosas e transmissão de sinal electromagnético associado, sendo este mediado por moléculas neurotransmissoras. A reiterada repetição simples leva ao estabelecimento de um circuito neuronal específico, no qual a transmissão de sinal tem cada vez mais facilidade em ser efectuada entre células, o que leva à especialização dessa porção neural no armazenamento da informação que é continuamente repetida. Caso a repetição da informação cesse, e surja uma outra, então o circuito neural que foi estabelecido deixa de executar uma função útil ao organismo, e portanto enfraquece a passagem de sinal por ele. Numa situação limite, existe a reorganização desse circuito de tal forma que se torna mais difícil o seu futuro estabelecimento, e portanto enfraquece a reactivação da memória armazenada até que esta desapareça por completo. A cessação da estimulação por repetição leva à degeneração da informação.
por outro lado, a memorização pode dar-se por estabelecimento de redes de associação conceptual de informação. Neste caso, uma dada informação é memorizada por estimulação através da repetição, é certo, mas, contrariamente ao primeiro caso, a estimulação é emparelhada com outra informação que já tenha sido memorizada. Esta ligação conceptual cria autênticas redes de informação neuronal, e potencia a sua reactivação, já que, estando duas informações associadas ou ligadas entre si, a reactivação de uma potencia a reactivação da outra, visto que o encadeamento mnésico é semelhante: as informações sucedem-se de forma lógica por se encontrarem ligadas e a isso corresponderá possivelmente a conjuntos semelhantes ou próximos fisicamente, ou até partilhados, de redes neuronais. Quanto maior for o grau de emparelhamento ou de conexão estabelecida entre as informações que se memorizam, então a probabilidade de reactivação de uma destas informações é maior do que no caso em que a memorização foi conseguida por apenas simples repetição da informação. E mais, a probabilidade de reactivação de uma informação conectada, emparelhada ou próxima de outra informação que já sofreu reactivação é maior, o que leva a um desenvolvimento ainda maior da memória individual, por uma cadeia de reactivações sucessivas - aspecto fundamental num pensamento divergente, criativo, original ou numa equacionação de diversas variáveis subordinadas a um mesmo problema.
portanto, o que existe, sim, é um profundo desconhecimento acerca de neurobiologia e psicologia, para não falar de pedagogia, ou uma falha incrivelmente grande na sua aplicabilidade prática.
Pode não se sentir vergonha enquanto se evacua e se copula mas é muito provável que se sinta vergonha quando essas gravações forem retransmitidas a um público reprovador.
William Burroughs, em Feedback de Watergate para o Jardim do Éden
mas o importante está em compreender qual o processo que faz com que algo com uma valoração positiva, isto é, um determinado signo com um significado positivo para uma pessoa se pode tornar em algo com um significado negativo.
no estado natural, uma determinada informação que uma e uma só determinada pessoa possui é algo precioso, isto é, esta informação é rara porque é apenas presente numa só pessoa. Como rara, é valiosa, porque não existe mais nenhuma informação igual a ela, torna-se uma única na sua espécie, e portanto é a fundação de um princípio de originalidade pessoal, de sentido de único, e de próprio. Muitas vezes essa informação é algo directamente relacionado com a pessoa que dela tem conhecimento, por vezes é até a própria pessoa. Esse factor contribui em muito para valorar ainda mais algo que se tinha em tão alta estima. Valoração positiva, portanto. O que é raro é valioso.
se essa informação for contada a uma outra pessoa, então a informação deixa de ser pessoal e única, e passa a tornar-se, em menor ou maior grau, cada vez mais pública. Assim, de uma pessoa passamos a duas, e aí já a informação estará mais dispersa. Mas há um perigo que temos que ter em conta. É que o mesmo signo pode ter, para pessoas diferentes, diferentes significações. Assim, dependendo das experiências pessoais, o signficado da informação pode tornar-se positivo ou negativo. Se continuamos a propor o modelo simples de evolução em progressão geométrica no qual cada pessoa transmite a uma outra essa informação, então temos que a probabilidade de haver mudança na valoração, isto é, no significado da informação é progressivamente maior.
esta situação poderá tornar-se limite quando a rede de significações das pessoas que recebem a informação a posteriori é muito diferente da rede de significações da pessoa que tinha inicialmente a informação. Eis como uma informação com um determinado significado pode vê-lo alterado pelo contacto com outras redes significantes.
o importante aqui será o peso que tem cada rede significante. Se é mantido tanto o significado original da pessoa de onde nasceu a informação, se ele não é deturpado, mitigado, alterado ou escondido, e se permanece o mesmo, então a probabilidade de compreensão da informação como ela era originalmente compreendida, ou como fora originalmente concebida, é muito maior.
mas temos que atentar noutro aspecto, também importante, que é a própria característica do fenómeno perceptivo que leva a conhecer essa informação. Se uma pessoa cega toma conhecimento de uma representação pictórica que nasceu na cabeça de outra pessoa, não vai poder compreendê-la senão por meio de palavras, e não por meios de desenhos. Assim, cria-se aqui o perigo de introduzir um elemento subjectivo na intenção objectiva de transmitir o mais fielmente possível a informação visada. A pessoa cega não pode senão ter um conhecimento, isto é, não pode senão percepcionar a informação de uma forma deturpada.
mas podemos imaginar outra situação: o homem que, não sendo cego, é, porém, daltónico. É certo que aqui a mensagem, a representação pictórica, será mais fielmente traduzida, mas, se esta for colorida, algumas das cores podem não ser percepcionadas correctamente pelo indivíduo, levando à deturpação, ainda que de grau menor em comparação com a anterior, da informação transmitida.
portanto, podemos concluir que são vários os graus de cegueira humana que a impedem de ver claramente a mensagem, isto é, a informação que é transmitida. Uns não se podem reduzir a outros, já que uns levam a uma deturpação de maior grau que outros.
e se pularmos do domínio da representação da imagem, da informação, física, para o domínio da valoração ou da semântica da informação, então aí crescem logo novas e mais perigosas dificuldades à sua transmissão porque o domínio da semântica é o domínio das ideias, isto é, das significações não físicas de uma informação e que lhes servem de base, justificando o uso de determinada linguagem - imagens, palavras, sons,...
quando a informação inicialmente é genuinamente única e exclusiva da pessoa de onde nasce, então a correspondência original e pura entre signo e significado é assegurada inequivocamente. A partir do momento em que a informação é transmitida, então esse equilíbrio, se não for mantido, pode fazer virar uma roleta de significações, levando à deturpação da mensagem ou informação inicial.
e há um fenómeno interessante, que é o facto de as pessoas considerarem como sua a informação que lhes é transmitida, independentemente da sua fidedignidade. Essa apropriação resulta de uma identificação com a informação, mesmo se apenas a parcela do signo é a mais ou única visada deste binómio. Mas se, de facto, existe maior dispersão de informação, isto é, se o grau de entropia da informação aumenta, também é possível constatar que ocorre uma consequente despersonalização da informação original, que passa a ser vestida, isto é, passível de alteração pelas pessoas às quais ela foi transmitida. O carácter de unicidade, de importância, de raridade e preciosidade dessa informação desaparece, e ela torna-se banal, isto é, deixa de ter o seu valor, o seu significado perde-se porque não é algo que necessite de ser preservado, já que está presente em todas as pessoas, ou pelo menos numa grande parcela destas.
esta preocupante consequência é espelhada de forma clamorosa na concepção socialista que está hoje vigente. O nível de entropia da informação é hoje tão alto como nunca antes foi, e conduz a situações limite de globalização, isto é, consumo em massa da mesma informação, a banalização em massa da mesma e a sua despersonalização, a invenção da moda, que é algo que se altera constantemente devido a essa mesma despersonalização resultante do consumo em massa. O problema que atravessamos nesta viragem de século está na demasiada dispersão da informação que evolui até à desvalorização, isto é, à perda de sentido, de significado, seja ele bom ou mau, elementos que estão presentes na cultura do descartável, na noção light, no soçobrar de noções fundamentais como a vida quanto ao nascimento da cibernética, a tendência capitalista e capitalizante da economia, a valorização da sociedade em detrimento do indivíduo, o culto da democracia como elemento massificante, etc.
o problema reside exactamente nesse binómio signo - significado. Com a emergência de novos e mais rápidos meios de transmissão de comunicação e transporte é possível transmitir muitos mais signos do que fora antes possível. O problema é que nesse transporte em massa de signos, os significados, que são a verdadeira fundação dos signos, e a sua causa, são descurados, o que contribui em muito para a sua desagregação, a sua tendência dissolvente ou desagregante. Isso não quer dizer que eles não existem; eles existem ainda, pois é com base neles que existem os signos, pois todo o signo existe para significar algo, caso contrário não teria função nenhuma e deixaria progressivamente de existir, dado o seu carácter obsoleto. O que acontece é que os significados são desagregados à força, isto é, dado o nível de entropia vigente. Para que não cheguemos a uma situação extrema, em que os significados se tornem raros e o próprio propósito da linguagem se vá esvaindo, tem de ser mantido um estado neguentrópico que conserve os significados. Isto é, a nível de sintaxe, as palavras e os demais signos devem ser dispersados, de modo a que as pessoas possam ter livre acesso a eles. Por outro lado, a nível semântico, os significados devem ser cuidadosamente demarcados e associados aos signos, para que possa existir uma verdadeira comunicação, uma transmissão de uma mensagem, ou informação significante. Isso só é possível pela dispersão controlada de significados, isto é, pela restrição de determinados tipos de informação a todos, e sua abertura a apenas alguns, aqueles que são capazes de compreender por inteiro a relação signo - significado.
a democracia está, neste quadro, naturalmente votada à dissolução, pois cumpre apenas a função dispersante da informação, e não a sua função conservante. É necessário reacender a chama do republicanismo, isto é, da res pública, a coisa pública, porque a coisa é tudo menos pública hoje em dia. É preciso aumentar a dispersão de signos o suficiente para que essa coisa se torne realmente pública, que todos possam aceder a ela, mas, isto é, por outro lado, é preciso garantir igualmente que as mensagens ou informações de grande significação são cuidadosamente mantidas para que essa significação não se perca, e isso só é possível se essa conservação for levada a cabo por uma autêntica aristocracia, isto é, por uma centralização em pequenos grupos que têm como função manter essa ordem binomial correspondente, a do signo-significado. É neste quadro que a proposta do Doutor Agostinho da Silva tem toda a relevância, visto que a Monarquia Republicana, como ele próprio a designava, tem na sua constituição todos os elementos necessários a esta empresa entrópica e, ao mesmo tempo, neguentrópica. E Portugal tem aí um papel bastante importante, já que, como Nação, já passou por um período da história em que esse regime vigorava, e talvez não seja ingénuo supor que talvez um regime como esse fosse capaz de ir para a frente, se já o fez antes e com frutos tão grandes e importantes, não só para Portugal como para todo o Mundo.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
poesia
só há uma maneira de ler poesia: é lê-la no momento em que se quer ler, e não como se de um romance se tratasse, porque não há na poesia nenhuma lógica da prosa, só há a lógica, se é que ela existe, da sensação.
a maneira de guardar poesia é dispô-la em estante nenhuma, mas antes deixá-la espalhada pela casa, pelo chão, pelas paredes, e às vezes pelo tecto, às vezes até no espaço que não existe, e no tempo que não há, para que seja ela a vir ter connosco, e para sabermos que é ela que vem ter connosco quando nós mais precisamos, e não o contrário.
Ricardo Reis, prefácio à poesia de Alberto Caeiro
Dicionário Enciclopédico Patafísico II
vem do latim reparare
que nos leva a
parar
a
parar
e
a
parar
repetidas vezes
até à repetição re-
parar
é branca e redonda, e leitosa
e na sua cama de estrelas diz tudo
mesmo se não precisa de dizer nada
porque não tem bocas como os homens?
que tem ouvidos e olhos
onde os outros só têm bocas?
e que cheira o escuro e a claridade
que vem não se sabe de onde
e dá luz às nossas noites?
dedicado a Mestre Caeiro
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Dicionário Enciclopédico Patafísico I
sábado, 17 de fevereiro de 2007
o que agora há é difundir e dispersar
o que guardava e que não soou
é tempo agora de alcançar
o tempo agora já não é certo
já nem sabe do que fala assim sendo
o tempo é bala, ou electrão, ou incerto
já não há quem os filhos vá comendo
o tempo muda, e o tempo de calar
já passou, já foi, já fora, não tem nada
que enganar, neste som que ora soa
soa agora o que há que soar
o tempo de Pessoa está prestes a acabar
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
mas só o sinal primeiro não dura, é preciso algo mais por aí, uma estimulação mais segura, aquela que num sonho co-estimulador traz doçura e sabor acre de interacção segunda - vem esta da célula dançante, também, nascendo do amado e da amante que numa interacção ferrante consagram sua coroa
e eis que o mundo se transforma, o linfócito vive, já não soçobra, e ganhando nas asas a imaginação de outrora, vai fulgurante para o céu, que é seu destino e lugar onde mora
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Quanto à segunda, parece-me que estava errado. Se é certo que cada pessoa é única em si, não me parece que todos lutemos uns contra os outros. Competir, quanto muito, lá competem os animais, e as plantas, por nutrientes e para se desenvolverem. Agora, quando falamos do homem, não falamos de luta certamente, porque senão já nos tínhamos matado todos uns aos outros. O erro de assumir que toda a gente luta maquinalmente pela sobrevivência é um erro crasso, porque é assumir que toda a gente luta. Primeiro, nem toda a gente tem que assegurar a sua sobrevivência, e vive já confortavelmente bem. Segundo, não se trata de uma luta por poder, trata-se simplesmente de uma expressão do seu potencial individual. Se existe luta, em alguns casos, a sua causa não está na existência de classes, mas no desejo de ter aquilo que se não tem. E o desejo não é motivado por nenhuma classe, apenas por um sentimento de cobiça interior. Se uma classe é desejada é porque os membros dessa classe possuem algo que alguém cobiça. Portanto, o mal não está nos membros da classe cobiçada, o mal está é em quem cobiça. A cobiça nasce desse desejo. E esse desejo nasce da mensagem subliminar que certas pessoas transmitem de que a felicidade está em possuir determinado tipo de coisas. Portanto, o desejo nasce de um sentimento consumista que é alimentado por capitalistas que querem vender o seu produto e obter o maior lucro possível. O Capitalismo é algo bom quando consideramos a sua dimensão de desenvolvimento tecnológico, permite competitividade, é capaz de fornecer uma grande quantidade de bens a um grande número de pessoas, faz veicular muita informação em pouco tempo. Porém, também torna tudo muito mais efémero, ritmado ao toque do relógio, e enredado sobre si mesmo num ciclo que se vicia continuamente. O mal está na definição de felicidade que alguns querem fazer passar, e que outros, por pouca perspicácia ou insuficiente educação, engolem sem protestar.
Assim, o que há a fazer é mudar o que está mal de raiz, que é a própria ideia de que a felicidade deve ser uma coisa nomeável, e não algo que possa ser construído pelas mãos de cada um, segundo a sua própria individualidade. E isso só é possível pela educação, para que cada um possa, por si próprio, por um lado, saber pensar, e, por outro lado, saber fazer.
1 - Primeiro, há que começar com uma base de estudo. Assumindo que os nossos sentidos nos fornecem algum tipo de conhecimento, ainda que este possa ser imperfeito, parte-se dos sentidos tácteis, olfativos, gustativos, auditivos e visuais.
2 - À falta de garantia da existência real do que quer que seja, assume-se uma realidade menos imperfeita das sensações que podemos ter de objectos físicos. O primeiro sentido a priveligiar deve ser o do tacto, visto que com ele nos apercebemos da existência volumosa e agregada de algo, o que nos pode servir como termo classificativo de algo que existe.
3 - Depois de avaliados os objectos com o tacto apenas, devemos partir para a utilização da visão. Dado que a visão nos possibilita a percepção de que existem objectos físicos exteriores e interiores a nós, podemos assumir que tomamos contacto com a realidade mais real possível.
4 - Os restantes sentidos devem ser preteridos porque não garantem a substância física de coisa nenhuma, apenas provocam em nós sensações. Assim, o olfacto, o paladar e a audição devem apenas ser considerados por aqueles que se ocupam do estudo das sensações internas humanas.
5 - Com o tacto e a visão é possível percepcionar diferentes objectos exteriores a nós, com características próprias.
6 - A compreensão do mundo físico, contendo todos os seus objectos, em suma, a análise da natureza, é demasiado complexa para ser efectuada de uma vez apenas.
7 - Assim, é necessário visualizar o mundo físico como um conjunto de objectos individuais e diferentes que, quando somados, são equivalentes ao todo.
8 - A verdadeira análise pode então começar: os objectos individuais são suficientemente menos complexos que o todo para que possam ser estudados em toda a sua extensão.
9 - Mas alguns desses objectos permanecem ainda inacessivelmente complexos para a compreensão humana. Assim, devem ser, eles próprios, decompostos em partes, assumindo que a sua soma reconstituirá o objecto primordial.
10 - As nossas capacidades perceptivas, embora bastante úteis para proceder a estas primeiras fases do processo gnosiológico, revelam-se inúteis para conhecer as partes que constituem os objectos. Assim, é necessário divisar objectos, instrumentos, que permitam ampliar as capacidades tácteis ou visuais. Dado que as tácteis se encontram muito menos desenvolvidas em nós que as visuais, devem ser preferidas estas últimas.
11 - Mas até aqui não foi feita senão uma análise bastante grosseira do físico. A partir deste momento, podem tomar-se duas abordagens distintas.
12 - Por um lado, pode escolher-se analisar o objecto ou a sua parte constituinte de forma não invasiva, isto é, não modificando a sua própria natureza, ou não fazendo uso de estímulo. Procede-se à análise descritiva de todas as características que nos for possível determinar, e repete-se o mesmo processo a todos os restantes objectos. Depois de recolhida toda essa informação, ela é cruzada e procuram-se níveis de ocorrência em simultâneo de diversos objectos, o que permite postular que existe ou não uma correlação entre eles. A natureza dessa correlação não pode ser senão vaga, e não permite extrair com fidelidade uma conclusão verdadeira.
13 - Por outro lado, pode também analisar-se um objecto exercendo um estímulo sobre ele, e verificando qual a sua resposta face a esse mesmo estímulo. Assumindo uma relação de causa-efeito na ligação estímulo/resposta, então é possível traçar propriedades características dos corpos ou de partes que os constituam, podendo até mesmo ser confirmadas ou negadas correlações estabelecidas de modo não intrusivo.
14 - Esta tarefa é, ela própria, por si só, muito audaciosa, tal é a quantidade de objectos que compõe o mundo e a quantidade de partes que compõem os objectos.
15 - A análise deve ser seguida até ao ponto em que não é possível analisar, por decomposição, objectos ou partes.
16 - Depois dos estudos de causa/efeito efectuados, é preciso confirmar a validade ou não dos pressupostos utilizados como base do seu fundamento.
17 - Porém, actualmente, esses mesmo estudos mostram que não existe substância real, isto é, permanência, quer dos objectos físicos, quer das suas partes. Os objectos físicos caminham para a sua desagregação inexorável.
18 - Assim, não podemos confiar na realidade do mundo físico, dado que este é, por sua característica intrínseca, não permanente e desagregante. É então necessário procurar algo que possua uma substância real, isto é, algo que não se desagregue.
19 - Mas algo interessante que ressalta desses mesmos estudos ao físico é o facto de que as leis postuladas através do estudo dos objectos ou das partes que os constituem se verificarem permanentemente, independentemente da existência dos objectos físicos.
20 - Por outro lado, também é verdade que essas leis apenas se aplicam a objectos físicos, concretos, individuais. Para conhecer quais as características do mundo em que vivemos é necessário encontrar as leis que, independentemente de qualquer contexto, isto é, que independentemente de qualquer objecto ou parte deste se verificam.
21 - Assim, o próximo passo será a reunião de todas as leis elaboradas com base dos objectos físicos e a sua depuração, até que restem apenas as leis que, possuindo nenhuma excepção, podem ser consideradas como características do mundo, isto é, permanentes.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Mika
Grace Kelly
Do I attract you?
Do I repulse you with my queasy smile?
Am I too dirty?
Am I too flirty?
Do I like what you like?
I could be wholesome
I could be loathsome
I guess I'm a little bit shy
Why dont you like me?
Why dont you like me without making me try?
I try to be like Grace Kelly
But all her looks were too sad
So I try a little Freddie
I've gone identity mad!
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why dont you like me?
Why dont you like me?
Why dont you walk out the door!
How can I help it
How can I help it
How can I help what you think?
Hello my baby
Hello my baby
Putting my life on the brink
Why dont yo like me
Why dont you like me
Why dont you like yourself?
Should I bend over?
Should I look older just to be put on the shelf?
I try to be like Grace Kelly
But all her looks were too sad
So I try a little Freddie
I've gone identity mad!
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why dont you like me?
Why dont you like me?
Why dont you walk out the door!
Say what you want to satisfy yourself
But you only want what everybody else says you should want
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why dont you like me?
Why dont you like me?
Why dont you walk out the door!
mais uma razão, para quem ainda não está convencido
Marx tem, de facto, algumas semelhanças interessantes com Darwin. Mas não me parece que toda a vida se baseie apenas numa luta pela sobrevivência, ou pela sobrevivência do mais forte. Que existe evolução, isso tanto o registo fóssil como a história o mostram, mas os pormenores, o passo, a influência dos diversos factores, esse andamento, ou compasso, evolutivo é que nós ainda mal conseguimos perceber. O problema está numa visão fechada e centrada em apenas alguns aspectos do mundo, o que é preciso é que se juntem uns aos outros para se ver o que é que a coisa dá. As classes existem, e vão continuar a existir, mas não em conjunto; as classes existem dentro de cada indivíduo, porque cada um é único em si e perante todos os outros. E nem tudo se baseia numa luta frenética pela sobrevivência, porque os seres vivos, os organismos, não são entidades isoladas umas das outras, pelo contrário, convivem em conjunto, e interrelacionam-se mutuamente, e de formas tão complexas que nos é difícil, ou pelo menos por enquanto, ter noção global. A Ciência do amanhã é a Evolução, não a Darwiniana, mas a Ecológica e Genética.
A Genética permite compreender como se dá a evolução individual dos seres vivos ao meio e a outros seres vivos, a adaptação por expressão do seu programa genético. A Ecologia permite compreender como se dá a evolução conjunta entre os seres vivos e o meio, a adaptação por mudança de expressão consoante o nível em que está o mundo. Junte-se as duas, e teremos uma nova Ciência, a Ciência do Amanhã.
claro que o estado em que os numerus clausus estão contribui ainda mais para cavar um abismo sepulcral entre profissionais (ou pseudoprofissionais) de diversas áreas, que ganhariam muito mais em ter um discurso integrado e integrante.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
Abre-se o vazio e na escuridão uma luz
A luz cega o crente como num clarão e seduz
Na esperança de encontrar o que não há dito vai
E uma luz capta no seu ai a confissão de um instante que se esvai
E seduz
Rasga o clarão o negro da escuridão que envolve e que tropeça
Que soçobra e que cai
Rasga o humor aquoso dos dias cinzentos e transforma a peça numa equação que vai
Não existe, mas resiste
Afaga o brilho baço e triste do pudor que envolve com dedos nus a sua afirmação
Não sabe, nem diz
Mas continua a rasgar com voz de trovão, a matar
A soçobrar e o clarão vem de novo para aconchegar
E no limiar do beijo, numa candura incessante
Num movimento disforme ou inconstante, lança ao abismo o ar
Que só o sentir percebe o que o mundo no momento tem para dar
Consegue
E seduz
Num clarão que traz a luz
tríptico
já é bem mau haver quem não saiba, mas pior que isso é haver quem não ensine.
já é bem mau haver quem não saiba, mas pior que isso é haver quem não aprenda.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
muitas dessas criaturas, que até disso são alheias, melhor dizendo, as mais refinadas dessas criaturas, pensam que podem ter tudo na sua mão, explicar o mundo, a vida e o universo, o que existe realmente e o que não existe, e andam por aí, por todo o lado, na verdade, espalhando a sua boa-fé, a sua boa-nova, pregando ao peixinhos que, por má combinação alélica, desequilíbrio de produção proteica face a estímulo externo ou simples deficiência auditiva, não têm a sorte e o condão de merecer um grande resultado no teste de QI. E alguns são tão perfeitos na sua perfeição, autênticos Deuses incarnados, que não se limitam à mestria na sua área, mas também querem conquistar todas as outras, e arrancar suspiros e arrebatar pintores e poetas, escultores e historiadores, desportistas e cantores, actores e jornalistas.
mas felizmente os verdadeiros criadores sabem que tudo isso não passa de poeira para os olhos.
Patafísica VII
V^(V) = V x V x ... x V
(V multiplicada V vezes)
Lei 12:
Aquele que levanta a sua Vida tantas vezes quantas as que sua Vida tem vive o equivalente a muitas Vidas.
Patafísica VI
V + M = 0 => V = -M
Dedução 3: V x M
V x M = -M x M = (-1) x M x M = (-1) x M^2 = - (M^2)
por outro lado, como V = -M => M = -V vem
- (M^2) = - (M x M) = - (-V x (-V) ) = - (V^2)
pelo que pode vir ainda
- (M^2) = - (V^2) <=> M^2 = V^2 <=> (M^2) - (V^2) = 0
estando na presença de um caso notável da potenciação, diferença de quadrados, vem
(M^2) - (V^2) = 0 <=> (M - V) x (M + V) = 0
o desenvolvimento da equação pela aplicação da lei do anulamento do produto dá
(M - V) x (M + V) = 0 <=>
<=> M - V = 0 OU M + V = 0 <=>
<=> M = V OU M = -V
(!!!)
Dedução 4:
como V x M = M x V , pela propriedade comutativa da multiplicação, então para o caso M x V obtém-se o mesmo resultado
Leis 10 e 11:
Aquele que vê a Vida pela perspectiva da Morte, ou a Morte pela perspectiva da Vida, descobre que tanto ambas são contrárias como uma e a mesma coisa.
Corolário 5:
Tanto a quadratura negativa da Vida como a quadratura negativa da Morte quando enquadradas ambas levam à conclusão de que a Vida e a Morte são tão distintas como semelhantes.
Patafísica V
V + M = 0 => V = -M
Dedução 1: V - M
V - M = -M - M = -2M = 2 (-M) = 2V
Conclusão: V - M = 2V
Lei 8:
Aquele que à sua Vida subtrai a sua Morte vive o equivalente ao dobro daquilo que uma pessoa que só vive a sua Vida vive.
Dedução 2: M - V
M - V = M - (-M) = M + M = 2M
Conclusão: M - V = 2M
Lei 9:
Aquele que à sua Morte subtrai a sua Vida vive o equivalente a duas mortes.
domingo, 11 de fevereiro de 2007
Patafísica IV
Quando se considera a Hipótese: V + M = 0
- se V = 0 => 0 + M = 0 <=> M = 0
- se M = 0 => V + 0 = 0 <=> V = 0
Quando se considera a Tese: |V + M| = 0
- se V = 0 => |0 + M| = 0 <=> |M| = 0 => M = 0
- se M = 0 => |V + 0| = 0 <=> |V| = 0 => V = 0
Quando se considera o Binómio: |V| + |M|
- se V = 0 => 0 + |M| = 0 <=> |M| = 0 => M = 0
- se M = 0 => |V| + 0 = 0 <=> |V| = 0 => V = 0
Lei 6:
Aquele que não vê nada na Vida também não vê nada na Morte, por muito que lhes tire o saldo.
Lei 7:
Aquele que não vê nada na Morte também não vê nada na Vida, por muito que lhes tire o saldo.
O pior, no meio disto tudo, é que todos esses casos de que se ocupam os telejornais de 1h30 portugueses servem para as pessoas não pensarem acerca dos modelos educativos caquécticos que levam na escola, da desflorestação da Amazónia, da extinção de espécies, da exploração capitalista aos países do chamado 3º mundo, da globalização que sufoca a identidade cultural, ...
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Patafísica III
O Bem é o contrário do Mal.
Hipótese 3:
A Verdade é o contrário da Mentira.
Hipótese 4:
A Beleza é o contrário da Fealdade.
Hipótese 5:
A Justiça é o contrário da Parcialidade.
Hipótese 6:
A Harmonia é o contrário do Caos.
Indução (Lei) 1:
Os contrários que por somatório se anulam seguem as mesmas leis derivadas para a Vida e para a Morte.
Patafísica II
Só se pode viver uma Vida, pelo menos de cada vez.
Proposição 2:
Assim como só se pode viver uma Vida de cada vez, também só se pode viver uma Morte de cada vez.
Corolário 2:
Quem nega a Vida e afirma a Morte não vive duas vezes a sua Morte, mas vive o equivalente em sua vida da sua Morte, para além de viver a Morte da sua Vida.
Corolário 3:
Quem afirma a Vida e nega a Morte não vive duas vezes a sua Vida, mas vive o equivalente em sua vida ao dobro daquilo que uma pessoa que apenas vive a sua Vida vive.
Corolário 4:
Alberto Caeiro viveu o equivalente a duas Vidas.
Patafísica I
se a Vida (V) é o contrário da Morte (M), então:
V + M = 0 , o que implica que V = -M
Tese 1: Será que |V + M| = 0 ?
como |x| vem
se x < 0 , -x
se x >= 0 , x
vem então |V + M|
se V + M < 0 , -V-M
se x >= 0 , V + M
mas como V = -M, vem
-V-M = -V+V = 0
E
V + M = -M+M = 0
pelo que se conclui que |V + M| = 0 => Tese válida
Tese 2: Será que |V| + |M| = 0 ?
como |V| vem
se V < 0 , -V = M
se V >= 0 , V
como |M| vem
se M < 0 , -M = V
se M >= 0 , M
então,
CASO 1: V >= 0 E M >= 0
|V| + |M| = V + M = 0
CASO 2: V >= 0 E M < 0
|V| + |M| = V + (-M) = V + V = 2V
CASO 3: M >= 0 E V < 0
|V| + |M| = -V + M = M + M = 2M
CASO 4: M < 0 E V < 0
|V| + |M| = -V + (-M) = -V + V = 0
Lei 1:
Se a Vida é o contrário da Morte, então quem tira o saldo da Vida e da Morte em conjunto não vê nada.
Lei 2:
Quem tira o saldo da Vida e da Morte, separadamente, e nega a sua Vida e afirma a sua Morte, morre duas vezes.
Lei 3:
Quem tira o saldo da Vida e da Morte, separadamente, e afirma a sua Vida e a sua Morte, então não vive nada.
Lei 4:
A Lei 3 é também válida no caso de se negar ambas.
Lei 5:
Quem tira o saldo da Vida e da Morte, separadamente, e afirma a sua Vida e nega a sua Morte, vive duas vezes.
=> Tese válida somente para os casos 1 e 4
Corolário 1:
O módulo da Morte é a Vida.
2 - A Química é, no fundo, Física.
3 - A Física é, no fundo, Matemática.
4 - A Matemática é, no fundo, abstracção mental humana.
5 - A abstracção mental humana é, no fundo, imaginação.
Logo, toda a ciência é imaginação.
P.S. - Proceda-se da mesma forma para a Geologia e ver-se-á que a conclusão se mantém.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
Barcelona
Barcelona Barcelona
Barcelona Barcelona
Viva
I had this perfect dream
-Un sueño me envolvió
This dream was me and you
-Tal vez estás aquí
I want all the world to see
-Un instinto me guiaba
A miracle sensation
My guide and inspiration
Now my dream is slowly coming true
The wind is a gentle breeze
-Él me hablo de ti
The bells are ringing out
-El canto vuela
They're calling us together
Guiding us forever
Wish my dream would never go away
Barcelona - It was the first time that we met
Barcelona - How can I forget
The moment that you stepped into the room you took my breath away
Barcelona - La música vibró
Barcelona - Y ella nos unió
And if God willing we will meet again someday
Let the songs begin
-Déjalo nacer
Let the music play
-Ahhhhhhhh...
Make the voices sing
-Nace un gran amor
Start the celebration
-Ven a mí
And cry
-Grita
Come alive
-Vive
And shake the foundations from the skies
Ah,Ah,Shaking all our lives
Barcelona - Such a beautiful horizon
Barcelona - Like a jewel in the sun
Por ti seré gaviota de tu bella mar
Barcelona - Suenan las campanas
Barcelona - Abre tus puertas al mundo
If God is willing
-If God is willing
If God is willing
Friends until the end
Viva - Barcelona
Além desta oposição, Ostwald era muito heterodoxo sobre o valor dos exames. Lembro-me de ouvir uma conversa entre ele e Wislicenus em que expressavam a opinião de que ninguém se tornaria importante na vida se não tivesse reprovado pelo menos um ano no ensino secundário. Ostwald tinha passado sete anos na escola secundária na Rússia em vez dos habituais cinco. Devo confessar que me senti muito deprimido com a conversa já que não tinha reprovado na escola secundária. Agora, volvidos estes anos, ao analisar de novo o assunto, reconheço que esses dois grandes químicos não estavam totalmente errados. Qualquer jovem que se adapte muito facilmente a qualquer sistema de ensino não deve acalentar ideias originais. Evidentemente, e isto é fundamental, deve analisar-se a razão pela qual um jovem "detesta" a escola. Se for simplesmente por incapacidade ou imbecilidade, não melhorará a sua vida futura; contudo, se for porque as suas aptidões e interesses são grandes em determinadas áreas e muito pequenas noutras, então o caso muda de figura. Ostwald era mau aluno na escola secundária porque, quando era jovem, era enorme a sua preferência pela Química. Fazer explosões sob a carteira da aula ou na cozinha da casa não melhoram as notas de um aluno mas decerto podem torná-lo num excelente químico. O nosso sistema educacional, porém, pode não estar adaptado às necessidades de um futuro "grande" homem. A maioria das vezes tais Homens tornam-se no que são, não em virtude do sistema circundante, mas sim como resultado da engrenagem de qualquer sistema e, consequentemente, os educadores devem estar atentos para elevar a média tanto quanto possível.
Ostwald era o homem mais versátil que jamais conheci, e o término da sua carreira prova-o bem. Os seus colegas tinham profetizado de que ele não seria "ninguém" considerando a sua "danada versatilidade" e certamente ele não era o tipo de aluno que se ajustava a um modelo educacional.
(...)
A extraordinária influência e sucesso de Ostwald como professor parece ser baseada em dois factos: a espantosa facilidade com que produzia novas ideias, mesmo em conversa, e a arte de lidar com os jovens, dando primordial importância à sua personalidade individual. Espero que me desculpem por relatar a experiência de um aluno - eu próprio. Ostwald soube do meu interesse pela música. Quando chegou o momento de escrever a minha tese, aconselhou-me do seguinte modo: "Deves escrever o trabalho como Beethoven compôs uma sinfonia. Pensa na 5ª Sinfonia: no segundo andamento, um pouco antes do final, ele dá ao segundo tema uma nova e impressionante variação. Isto é precisamente o que espero de ti. Imagina um quarto com uma janela; antes de acabares a descrição completa do quarto, abre a janela e mostra que espécie de paisagem se pode ver através dela". Um excelente conselho, mas duvido se será mais fácil seguir Ostwald do que Beethoven; na verdade, há necessidade de ter várias riquezas armazenadas. Pode antever-se em Ostwald um professor de grande categoria - ele sabia como impressionar um jovem de modo a que ele nunca mais o esquecesse; mesmo simples palavras serão sempre relembradas ao fim de muitos anos.
(...)
George Jaffé relata-nos a atmosfera do Laboratório [de Friedrich Wilhelm Ostwald (1853-1932)] e descreve-nos a personalidade de Ostwald num artigo publicado no Journal of Chemical Education, em Maio de 1952.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
felizmente tem ainda Sísifo privilégios
Eu queria ouvir a opinião de um testículo sobre o tema do aborto, e não o que a cabeça pensa que o testículo deve dizer.
e devo acrescentar: e vivam as verdades de La Palisse! Ou como essa vetusta e decana lusa alma disse, estar vivo é o contrário de estar morto, Meu Deus! Eu nem quero pensar o que seria se estar vivo fosse o mesmo que estar morto - explicar o que é a vida ou o que é a morte é que eles não explicam, mas dizem logo que estar vivo é o contrário de estar morto...
já agora, deixo uma pequena reflexão, mercê do Senhor Drummond de Castro, para os 0,00001% de toda a população portuguesa que não têm um aborto na cabeça ou então que não os perpetuam intelectualmente:
e que tal falar um pouco do aborto da mente executado pela escola, a religião, a faculdade, o exército, as ideologias?
e que tal ver quais os privilégios que ainda restam a Sísifo?
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Que em vida tão honrado
e empossando tanta Coroa
querem-te achar frustrado
- é o que muito hoje soa
Mas o melhor era ter cuidado
Com o que ser feliz significa
Que isso é coisa metida ao lado
(e não se explica)
Querem então achar frustrado
O aquilo que fazias
Quando frustrado era o estado
Do em que te não metias
Teu génio, absoluto
Escrevia conforme o vento
Teu estandarte o ir sendo
Mesmo em terreno dissoluto
E se mostravas saber tudo
Era porque não sabias nada
Do princípio até ao fundo
eras o ar que dava entrada
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
parece-me assim que, para essas pessoas, aprender a arte da dactilografia é bastante útil. Pode-se chegar a um nível de fluidez mental em que os pensamentos discorrem todos para se encontrar rapidamente materializados em letras e palavras. Estreita-se o abismo entre a velocidade do pensamento e a velocidade da materialização, da escrita, da palavra. Claro que o pensamento permanece, como a velocidade da luz, inacessível, por vezes, se essa fluidez mental é grande - insatisfação de se estar vivo. Mas, enfim, já se vai ficando mais genuíno.
nós não somos donos do nosso pensamento (lá está o despontar da terceira ferida narcísica do homem), o pensamento é que é dono de nós. Quer queiramos, quer não, temos de submetermo-nos à sua vontade, como se fôssemos seus escravos e dele dependesse toda a nossa existência, ou pelo menos toda a nossa consciência, ou se por uma questão de terminologia preferirem, sanidade mental. Os verdadeiros loucos são aqueles que não se submetem ao seu único senhor, que é o pensamento. Mesmo que ele diga para aqueles não pensarem. Mesmo que ele próprio diga e afirme, a pés juntos, que não existe, e que é apenas mais um reflexo de lua na superfície calma de um lago, e não a própria lua.
perante este quadro tão próprio na sua cultura, que é a ocidental, capitalista e descartável, que, à semelhança das donas de casa dos anos 50 do pós segunda grande guerra, quer incutir, ou programar, nas mentes jovem e frescas o sentido de obediência à sociedade (coisa que gostava de saber o que é, nunca ninguém ainda ma soube explicar), à cultura do desperdício, à casa, e ainda a esse desejo tão nobre e tão elevado espiritualmente que é arranjar um parceiro sexual, e não importa qual, o que interessa é que tenha bons genes, e ter sua ninhada de filhos, como se de uma besta, outra vez esta linguagem, e pensar que besta no tempo do Eça significava um animal de carga ou de transporte de veículos, isto é, como se de uma besta se tratasse, e se ela chateasse muito a gente, davam-se uma chibatadas e resolvia-se a questão. Eu até compreendo a situação, o nosso mundo, nosso é como quem diz, o mundo em que nós vivemos, vá lá, e já ficam as contas mais certas, esse mundo, está votado ao esquecimento, e tudo por culpa das políticas antinatalistas, por um lado, e por outro da emancipação da mulher, sem ofensa às feministas.
mas de repente dei por mim a pensar o que seria se uma tribo da papua nova guiné, ou se os próprios maori, ou se os nómadas que percorrem o deserto do Saara, ou ainda se os índios ameríndios, os que ainda existem, claro, ou se os chineses lá na suas aldeias remotas, ou então os monges budistas, ou taoístas, ou os esquimós, ou até os habitantes da tribo masai, resolvessem fazer eles um programa semelhante. Decerto se iriam rir muito dos vestidos e das roupas que trazemos, das nossas aparências, dos nossos narizes, das nossas tristes e alegres figuras (às vezes já nem se sabe bem qual é qual), e aí é que havia de ser bonito: os ocidentais rapavam o cabelo todo, e punham aquelas vestes púrpuras e laranjas dos budistas, ou então aqueles grossos casacos de lã dos esquimós, e as botifarras, ou então vinham antes para a moda do tudo ao léu como Deus o deitou ao mundo, salvo a tanguinha respectiva, para melhor acomodação dos seus pertences, que é como quem diz, numa linguagem ocidental, das suas gónadas e dos seus gâmetas, das suas jóias da coroa ou então do seu património genético pessoal e transmissível.
uma coisa é certa: cada um é o que é, ou pelo menos devia ser, mas sobretudo cada um vê o que é, e acaba sendo o que vê.
A Economia da Natureza
porque, de facto, a Natureza é económica, em si, e sabe gerir muito bem as suas contas, os seus balanços positivos e negativos, e de tal modo que nunca a balança fique em deficit ou em superavit, ao contrário de tantas bolsas de tantos países que por aí há. Devíamos aprender esta lição com a Natureza: que tudo o que se dá, é aproveitado pela vida, para que ela se possa desenvolver, e florescer, e mostrar todo o seu esplendor numa selva caótica de uma ordem gerida parcimoniosamente, e que tudo o que se tira tende a ser reposto, para que o caos não se perca, isto é, para que reine a diversidade ainda, mas também, e importante, para que a ordem de encadeamento das relações entre os seres não se altere, porque, também, se formos a olhar direito para o assunto, vemos que não há outra possível: é aquela que sempre existiu.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
se quisermos fazer a análise lógica do assunto, podemos dizer que, ao pensar, isto é, ao interpretar um fenómeno, que nos chega aos olhos, estamos a transformar esse fenómeno (o que observámos com os olhos) em um pensamento (o que pensámos com a cabeça). Parece-me ser essa toda a noção da Autopsicografia.
Esse processo transformante deve consistir numa alteração do fenómeno, um rearranjo das partes que compõem o todo, à nossa maneira, porque somos nós que o vemos, excepto se estamos a resolver uma equação matemática, que aí só valem as regras da lógica aristotélica. Bem, mas mesmo essa lógica foi o Aristóteles que a inventou, e portanto também era mais um pensamento, fruto da cabeça dele. Não tem nada de natural, de facto, já que a realidade não se rege por números precisos como o um, o dois, o três... a realidade rege-se apenas por números que se desconhecem, apenas estimáveis dada a precaridade dos nossos meios de medição. Até o que chamamos área do círculo é directamente proporcional à proporção pi, que é um número não exacto. Talvez seja isto uma das muitas ironias do destino, ou um sentido de humor divino, já que mesmo na figura geométrica mais simétrica e perfeita de todas, no plano, no espaço já será a esfera, não conseguimos lhe tirar as medidas de forma precisa, mas apenas decorrentes da imprecisão numérica que acompanha esta matemática toda que inventámos.
E a coisa curiosa é que essas equações conseguem bater sempre certas.
confesso que as ideias que se vão tendo da evolução da história, e da evolução da ciência, em suma, da evolução do pensamento humano, são interessantes, e muito. Mas não posso deixar de sentir que existem paradigmas de pensamento, ou barreiras mentais, que impedem que se vá mais além. E isso neste caso significa fazer. Vivemos neste momento mais uma crise (será que alguma vez saímos dela?), mas ela também é fruto das imposições mentais que as pessoas colocam sobre si mesmas, sobre o mundo. É verdade que se faz boa investigação, e que ela é necessária. Mas se calhar não é só preciso andar à procura de máquinas e pedras e colecções antigas, é certo que também é preciso conservar as que existem, é certo que é preciso restaurar o que se pode, é certo que é preciso inventariar o que se conseguir encontrar, mas é preciso também ter olhos de presente voltados para o futuro. E o que é realmente preciso agora, nesta época de grandes avanços na área da comunicação e da cultura, é organizar esses dois domínios. É preciso trazer escritores e pintores e todos os demais artistas aos museus, a falar, a conferências, às escolas, às universidades. E é preciso levar as universidades às escolas, às secundárias e aos restantes estabelecimentos. É preciso criar cafés de cultura, e salas de musas, para não deixar morrer os museus.
os museus são algo que me aparece na mente como parado no tempo. Não evoluem. E isso é algo extremamente estúpido, parece-me, limitado, porque neste mundo tudo muda. E se os museus não mudam também, então passam a fazer parte somente do passado, e claro que ninguém lhes vai ligar nenhuma, se eles não mantiverem a sua ligação com o presente. É, por isso, preciso levar as pessoas aos museus, e levar os museus às pessoas. Talvez a primeira seja a mais fácil de implementar, pelo menos numa primeira fase. Criar espaços nos museus onde se possa tomar café, conversar, ou simplesmente criar. Não seria um ambiente muito mais rico para todos? Caramba, uma, duas salas, não seria suficiente para criar espaços onde as pessoas pudessem ir, não falo de Lisboa ou do Porto, falo de cada Município, de cada terreola que tem um museu. Porque não? Porque é que é necessário ir a centros comerciais de modelos importados do estrangeiro para se tomar um café? Um museu serve perfeitamente, é ainda por cima é mais interessante porque alberga coisas que podem ser visitadas, conhecidas, apreciadas. O museu tem que voltar a ser uma casa das musas, algo onde as pessoas podem ir para colher inspiração, ou para se poderem dedicar à análise e à intelectualização, ou então onde as pessoas podem ir simplesmente para conversar, ou para trabalhar, isto é, para fazer projectos, espectáculos multimédia, e é bom usar estes neologismos, que só áudio e vídeo já passou à história.
Vamos insuflar de vida os museus! Vamos empurrar as pessoas para lá, para que os fiquem a conhecer, para que não tenham a noção de que só poucos podem ser artistas, para que achem que não têm em si arte nenhuma, para que se possam inspirar e ter uma relação física, próxima, com os quadros e com as esculturas. Caramba, se for preciso, que se deixe as pessoas tocar nas obras, senti-las perto da pele, para ver se as sentem também perto do espírito, e deixe-se que elas possam conversar com quem elas faz, para ficarem a conhecer mais, mas num ambiente informal, descontraído, onde as pessoas possam falar do que acham, onde possam trocar ideias e experiências e criação, e mesmo sensações. Uma sala com mesas e cadeiras, uma máquina de café, papel, lápis e canetas, será isso tão difícil de arranjar?